Jornal Correio Braziliense

Cidades

Escolas particulares aprofundam o conhecimento com atividades fora da sala de aula

O dinheiro ajuda. Mas não é tudo quando o assunto é qualidade na educação. Existem diferenças cruciais entre as formas de ensinar nos dois principais colégios particulares de Brasília. As mudanças começam nos uniformes. Obrigatório em ambas as escolas, no Sigma ele é composto por usuais camisetas e calças de moletom e algodão. No Galois, as crianças e adolescentes usam saias plissadas e calças sociais. Duas vezes por semana, os uniformes são de gala: os meninos com gravatas, elas, de paletós. Na rotina escolar, as diferenças se aprofundam. O Sigma utiliza todos os horários dos alunos na escola para passar o conteúdo que, no futuro, será exigido nos vestibulares e no PAS. Os passeios promovidos pelo colégio também são para garantir o aprofundamento das matérias. Já o Galois se propõe ir além dos conteúdos tradicionais e se foca em questões que estão longe do que se espera de uma escola tradicional. No ensino fundamental, por exemplo, os alunos aprendem a pregar botão e a cozinhar em uma visita semanal à fazenda da escola. Há também aulas lúdicas em que os meninos e meninas brincam de circo ou jogam golfe.[SAIBAMAIS] Na hora de pagar o salário dos professores, mais mudanças. Apesar de considerar a qualificação importante na definição da remuneração, a professora Dulcinéia Marques, diretora-presidente do Galois, valoriza mais a competência do professor. "Aqui não tem Plano de Cargos e Salários, se agrada na sala de aula e se é bom no trabalho no palco, ganha mais", observa. "Ano passado, o maior salário era R$ 25 mil. Hoje, o maior salário de professor é R$ 21 mil". Material didático No Sigma, segundo o diretor pedagógico Ronaldo Yungh, a formação dos professores é fundamental na composição do salário. "É importante que os professores continuem produzindo. Não à toa, temos professores que lançam livros didáticos que servem, até mesmo para outros colégios", observa. Além disso, no plano de carreira dos docentes, é contado o tempo de serviço. "Temos muitos professores que estão aqui desde a fundação, há 25 anos". Na hora de definir os conteúdos dados em sala de aula, outro diferencial. No Galois, não há diferença do material dado em função dos exames. "Não alertamos o currículo. Nossa primeira condição é que o aluno goste e queira estudar. A partir disso, vem a disciplina, que, aliada a um grupo qualificado de professores, garante o sucesso", explica. Já no Sigma, Yungh destaca que a forma de ensinar passa pela escrita e pela interpretação. Progressão militar Os alunos do Colégio Militar têm patente. E a medida em que os estudantes das mais diferentes séries se destacam, são promovidos. De soldado a comandante e com direito a detalhe na lapela e na lateral da roupa. Essa foi uma das formas encontradas pela direção do colégio para incentivar os estudos e, ao mesmo tempo, manter as tradições militares. No Colégio Militar de Brasília, financiado com recursos do Exército Brasileiro, 85% do contingente é formado por filho de militares. Os outros entram no colégio por meio de processo seletivo. E a seleção não é fácil. São 1800 candidatos para 80 vagas, no 6º ano do ensino fundamental, e 300 candidatos para 10 vagas no 1º ano do fundamental. Isabela Mendes, de 15 anos, entrou pela prova há quatro anos e, mesmo sendo ótima aluna, passa todas as tardes no colégio. %u201CQuero estudar engenharia no ITA%u201D, observa. Assim que chegam ao colégio, todos passam por avaliação pedagógica. Desde então, os alunos recebem apoio e reforço escolar nas áreas em que mostram dificuldades. Os mais bem sucedidos são reconhecidos. Os que não vão bem, são chamados na presença dos pais para não perder o ritmo. %u201CA rotina é pesada. Quando os estudantes não vão bem, a gente cobra dos pais que, muitas vezes, não estão acompanhando o estudo em casa%u201D, observa coronel Wagner Oliveira Gonçalves, comandante do colégio. Além do dinheiro do Exército, cada pai de aluno paga todo mês uma contribuição que vai de R$ 134 a R$ 150, dependendo da etapa de ensino. %u201CÉ para comprar material para laboratório, comprar lâmpadas ou fazer pequenos ajustes%u201D, explica. (EK) Drible nos problemas O colégio é gratuito e 95% formado por alunos que moram muito longe da 912 Sul. Mas os professores do Setor Oeste se esforçam para colocar os estudantes matriculados nos três anos do ensino médio em igualdade de condições com os adolescentes do Plano Piloto que estudam em escolas particulares. É claro que a escola sofre com problemas recorrentes na rede pública. Os laboratórios de química, física e biologia, por exemplo, estão fechados por falta de professor. Mas, de acordo com o diretor Júlio Gregório, pequenas estratégias ajudam a driblar os problemas. Ao contrário das outras escolas, onde normalmente os professores mudam de salas e os alunos se mantêm sempre nas mesmas carteiras, no Setor Oeste, quem muda de ambiente a cada aula são os estudantes. %u201CDessa maneira, os docentes podem manter a sala de aula com recursos visuais adequados ao conteúdo como a tabela periódica numa aula de química%u201D, explica. Além disso, em cada sala há uma pequena biblioteca com livros da matéria. %u201CNo caso de um estudante esquecer o livro, não tem desculpa para não participar da aula.%u201D Além do material didático gratuito, os docentes organizam apostilas e preparam simulados inspirados no Programa de Avaliação Seriada (PAS) e no vestibular da Universidade de Brasília. %u201CFiquei muito feliz quando consegui uma vaga aqui. Moro no Gama e sei que aqui é o melhor que eu posso ter, levando em conta os recursos da minha família%u201D, observa a estudante Luana Jacome, de 15 anos. %u201CA gente estuda mais, mas vale a pena%u201D, completa Laís Neves, 15 anos, do Guará. (EK)