Paixão nacional sobre rodas

Quem nunca teve um Fusca pelo menos já passeou em um modelo de alguém da família. Comemorando os 50 anos de instalação da Volkswagen no país, brasilienses reúnem colecionadores

A silhueta mignon delimitada por curvas abundantes seduziu de cara o policial militar Carlos Wellington Nego, 32 anos. Ele se encantou com tanto charme e decidiu colocar as mãos naquela preciosidade. ;Foi o melhor presente da minha vida;, comemorou. Ciumento assumido, Carlos não gosta de levar a conquista a lugares de muito movimento para evitar o assédio. No último passeio, os dois não ficaram nem meia hora na festa. ;O pessoal começou a passar a mão, aí eu fiquei com ciúme e fui embora. Eu não descuido;, ressaltou.

A paixão de Carlos pelo Fusca 1985 é declarada. Dia sim, dia não, ele dedica três horas para limpar e encerar o carro. Vive com um pano na mão para tirar as marcas dos dedos de curiosos que se aproximam do veículo vermelho. O policial é um dos novatos do Clube do Fusca e Antigos de Brasília, que há nove anos reúne amantes do veículo projetado na década de 1930. O policial ganhou o carro de presente há quatro meses e realizou o antigo sonho de criança. Trocou lanternas, faróis, retrovisores, bancos, além de outras inúmeras peças, e deixou o Fusca novo. O exemplar pode ser visto de hoje a domingo no Taguatinga Shopping, em exposição comemorativa aos 50 anos do Fusca no Brasil.

A fábrica da Volkswagen abriu as portas no país em 1959 e produziu o Fusca até 1996, com algumas interrupções. Nesse período, o carro sofreu alterações no visual e na mecânica. O Clube do Fusca levará cinco exemplares ao centro de compras para mostrar a evolução do veículo. Um dos mais antigos da mostra é original de 1966, que mantém a cor verde-Amazonas. ;Comprei ele há dois anos, sou apaixonado por Fusca desde criança;, disse o dono do carro, o publicitário Gerry Torres, 28 anos. Ele só dirige a raridade nos fins de semana ; mas nunca à noite ou quando chove. O Fusca passa os dias coberto por uma lona para não tomar sol e está sempre brilhando. As ofertas de compra são constantes, mas Gerry nunca topou fazer negócio. ;Não vale pelo dinheiro, vale pelo gosto de ter o carro;, justificou.

Aficcionados
O clube conta com mais de 600 sócios, que se encontram no primeiro sábado de cada mês. Os proprietários levam os carros ao estacionamento 11 do Parque da Cidade (o que dá acesso ao kartódromo) e passam o dia trocando figurinhas sobre os automóveis ; o próximo está marcado para 4 de julho, a partir das 14h. O estacionamento será o ponto de encontro da carreata em homenagem ao Dia Mundial do Fusca, celebrado em 22 de junho. O passeio está marcado para as 10h de domingo, rumo ao Taguatinga Shopping. Todos os Fuscas da cidade estão convidados e a participação é gratuita.

A carreata será liderada pelo Fusca 1969 do presidente do clube, Carlos Henrique Ferreira, 35 anos. O veículo é uma réplica do Herbie, personagem do filme Se meu Fusca falasse e de outros longa-metragens que se seguiram. Todas as peças são originais do fim dos anos 60 e os adesivos na lataria imitam o visual do Herbie. O carro só deixa a garagem para participar de eventos, mas ainda pega estrada de vez em quando. ;O Fusca ganhou respeito no trânsito. Você passa e as pessoas tiram foto, pedem para conhecer;, comentou Carlos Henrique. Até a cor do Herbie brasiliense é a mesma do estrangeiro: branco-lótus. Além do carro, ele mantém uma coleção de 1.211 miniaturas de Fuscas, que demandam 6h15min para ficarem limpas.

Também participa da exposição um Fusca Dragster FLTT de 1976. O carro não tem motor, bancos, faróis ou vidros. Tudo é retirado para garantir melhor desempenho nas provas de arrancada ; os carros percorrem 402m e quem chegar mais rápido ganha. O passeio dura entre nove e 13 segundos e o Fusca pode chegar a 240km/h. O exemplar presente no shopping é tricampeão brasiliense de arrancada e levou o quinto lugar do campeonato nacional em 2003.