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Cidades

Empresas privadas já empregam um em cada quatro brasilienses que ganham acima de R$ 5 mil

O sonho de conquistar uma vaga no serviço público povoa os planos de milhares de brasilienses. A estabilidade desejada é exclusiva do cargo público, mas os bons salários, não. Embora os servidores continuem ganhando bem mais que os trabalhadores da iniciativa privada, o desenvolvimento econômico da cidade tem criado oportunidades com remunerações elevadas. No Distrito Federal, um quarto das pessoas que ganham acima de R$ 5 mil por mês são funcionárias de empresas particulares ou têm negócio próprio - no geral, menos de 10% dos brasilienses ocupados ganham mais de R$ 5 mil por mês, ou seja, pouco mais de 100 mil contracheques têm esse valor. "As pessoas querem tanto passar em um concurso público que acabam se esquecendo de que Brasília tem boas oportunidades. Existe vida além da Esplanada", analisa a consultora de recursos humanos Marillac de Castro, da Intellijob Consultoria. A crise econômica que assola o país e o mercado internacional não interrompeu a oferta de oportunidades. Desde o início do ano, 18% das vagas oferecidas nas agências de recrutamento de pessoal ultrapassaram a faixa de R$ 5 mil. Algumas ofertas chegam a R$ 20 mil mensais. Há hoje nas consultorias vagas abertas para contratar gerentes de diferentes áreas e engenheiros com salários que podem chegar a R$ 18 mil. Ouça as dicas da consultora de RH Marillac de Castro sobre como conquistar uma vaga com salário elevado "Essa parcela de trabalhadores não sofre tanto com a crise porque são eles que lideram as decisões, que ajudam a decidir o resultado da empresa, por isso as empresas precisam tanto deles. O que mudou é que os profissionais já chegam tendo que apresentar resultados, não há prazo para adaptação", afirma a especialista em recursos humanos Carmen Cavalcanti, diretora da Rhaiz Soluções em RH. Serviços Levantamento feito pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) a pedido do Correio mostra que o setor de serviços é o melhor pagador da iniciativa privada. Do total de pessoas que têm renda mensal superior a R$ 5 mil, 53,7% estão na administração pública - o que inclui a administração direta e indireta das esferas federal e distrital. Mas outras 39% estão no segmento de serviços, incluindo os prestadores de serviços de utilidade pública, como funcionários das empresas de água e esgoto e de energia elétrica, por exemplo. Juntos, os demais segmentos produtivos - entre eles a indústria, o comércio e a construção civil - empregam os 7,3% restantes. "A renda elevada é bastante concentrada no setor público, o que acaba puxando a média dos salários deles para cima", explica a coordenadora da Pesquisa de Emprego e Desemprego do Dieese, Adalgiza Lara Amaral, responsável pelo levantamento. Pelos dados do Dieese, o rendimento médio dos funcionários públicos é quatro vezes superior ao dos funcionários de empresas privadas. O comércio pode não ter número significativo de trabalhadores com renda elevada, mas no setor também há salários que passam dos cinco dígitos. A dedicação de 12 horas diárias de trabalho há 20 anos rendeu à economista Socorro Carvalho uma carreira de causar inveja. Ela começou aos 29 anos em uma rede varejista e atacadista como gerente de loja, cargo que atualmente paga um salário de R$ 2,5 mil. De gerente, passou a gerente-geral de vendas e, depois, a gerente de compras. Hoje, é diretora comercial do grupo, lidera 205 funcionários e recebe, mensalmente, R$ 12,5 mil. Acima de Socorro há apenas os donos da rede. "Gosto muito do varejo, nunca passou na minha cabeça fazer concurso público. Agora, cheguei no topo da carreira, mas, quando me aposentar, penso em dar aulas para ensinar as pessoas sobre o varejo", conta. Principal empregador Dentro do setor de serviços, que emprega 561 mil brasilienses (49,7% do total de ocupados), estão os melhores salários. Os professores de instituições privadas estão no topo. Segundo o Dieese, do total de empresas do setor que pagam salários superiores a R$ 5 mil, 21,9% são do ramo de educação. As companhias creditícias e financeiras e as entidades de saúde também têm participação elevada, 18,8% cada. Em seguida, aparecem os serviços especializados, que representam 15,6% do total, e englobam desde as atividades de engenharia e arquitetura às consultorias e as empresas de tecnologia da informação. PALAVRA DE ESPECIALISTA Qualificação é essencial Apesar do desemprego elevado, as empresas instaladas no DF encontram dificuldade para preencher as vagas mais exigentes. Na avaliação de especialistas em recursos humanos, existem profissionais qualificados, mas em pouca quantidade, o que leva as empresas a disputar os bem qualificados. "Os bons estão colocados no mercado. É difícil encontrar pessoas que atendam os pré-requisitos exigidos pelas empresas e, quando achamos, já estão colocadas. Aí entra a barganha para ver quem oferece mais benefícios. A dança das cadeiras é grande por aqui", afirma Marillac de Castro, consultora da Intellijob. Para preencher uma vaga, as empresas recrutadoras chegam a entrevistar 10 profissionais. Em alguns casos, o processo de seleção pode levar até nove meses. Mas, em média, o tempo para preenchimento é de dois meses, de acordo com Carmen Cavalcanti, da Rhaiz. Quem sonha galgar cargos na iniciativa privada deve atender alguns pré-requisitos, orientam as especialistas. Além de uma boa formação acadêmica, especializações focadas em negócios são sempre bem-vindas. Falar mais de um idioma conta muitos pontos. O ideal, orienta Marillac, é que ainda na faculdade o profissional defina a área que quer seguir e procure estágios em empresas privadas. "É preciso ter um objetivo de carreira definido. O profissional tem que alavancar novos projetos e negócios para a empresa" É importante saber liderar, ensina Carmen, já que a maior parte dos cargos que pagam salários superiores a R$ 5 mil envolvem a liderança de pessoal. "A maioria é função de gerente, coordenador, superintendente ou diretore, que tem que liderar pessoas, processos ou áreas", afirma. (MF e LN)