Em um mutirão de revisão de processos do Tribunal de Justiça de Goiás (TJGO), 29 presidiários foram soltos na última quarta-feira, em Águas Lindas. Seis juízes assinaram alvarás de soltura para diminuir a superlotação na cadeia dessa região. Onde cabem 50 pessoas, estão presas 144. A ordem de libertar homicidas e latrocidas que não cumpriram pena causa insegurança à população e indignação à polícia da região. De acordo com o delegado-chefe do Centro Integrado de Operações de Segurança (Ciops) de Águas Lindas, Hylo Marques, foram para as ruas criminosos que cometeram assassinatos, roubos seguidos de morte e o maior estelionatário da cidade.
O TJGO, porém, garante que só libertou condenados que continuavam presos mesmo depois de cumprir a pena. Mas não foi o que ocorreu com o homem que matou a mulher com 19 facadas, há dois meses e ganhou novamente liberdade, na manhã de ontem. %u201CEle ficou foragido durante um mês, no Maranhão. Gastei mais de R$ 1 mil do meu próprio bolso para mandar buscá-lo fora daqui. O homem não ficou nem 30 dias na cadeia e já está livre para fazer o que quiser%u201D, indigna-se o delegado.
Há menos de 20 dias, os policiais civis da cidade concluíram o trabalho de investigação que os levou ao maior estelionatário de Águas Lindas. Há 10 anos, o criminoso clonava cartões de crédito, falsificava identidade, título de eleitor e até contracheques do Senado Federal. Agora, o falsificador está livre novamente. %u201CFoi um grande trabalho, e vamos ter que fazer tudo de novo%u201D, lamenta Marques. Um dos homens que foi solto é suspeito de cometer um assassinato no mesmo dia em que saiu da cadeia. Ele teria matado Talisson Augusto de Sousa Silva com três tiros. %u201CTudo indica que foi ele. Essa é a segunda vítima. Há suspeitas de que tenha sido um acerto de contas, por causa de drogas%u201D, diz o chefe da delegacia.
Entre a comunidade %u2014 Águas Lindas tem 250 mil habitantes %u2014, reina o medo. %u201CA Justiça não deveria soltar esses bandidos. Ao invés de prender os ladrões e assassinos que ainda estão soltos, que são muitos, eles vão soltar os que a polícia já conseguiu pegar?%u201D, reclama a dona de casa Rosana Rocha, 18 anos. O comerciante Jaime Silva é dono de uma funerária em Águas Lindas. %u201CO que mais recebo é caso de morte violenta. É absurdo soltar quem cometeu essas atrocidades%u201D, protesta Silva. O mutirão carcerário deve ocorrer em todo o Entorno. Em Santo Antônio do Descoberto, foram analisados os processos de todos os 83 presos. Foram expedidos 17 alvarás de soltura.
Paralisação
A partir de segunda-feira às 8h, a Polícia Civil de Goiás entra em greve. Apenas 30% dos serviços vão funcionar. Segundo a categoria, o governo de Goiás nega o reajuste inflacionário dos últimos cinco anos, referente à data-base. O aumento exigido pelos policiais civis é de R$ 1.350. O salário inicial de um agente hoje é de R$ 2.711. Há 3.402 policiais civis em atividade.