Na entrequadra 112/113 Sul, o uso de maconha é constante a qualquer hora do dia: jovens deixam vestígios do uso de crack
Ainda na 112/113 Sul, o consumo constante de drogas inibe a presença de crianças: pais não deixam filhos sozinhos nas quadras.
Grupo de cinco garotos se encontra em uma praça de uma quadra residencial do Plano Piloto. É início da tarde de um dia de semana. Os jovens, vestidos com bermudões e camisetas de marca, se acomodam em um banco em frente ao parquinho infantil. Entre risadas e conversas em voz alta, um deles tira do bolso um cigarro de maconha e passa para um dos amigos. O adolescente acende, puxa o fumo, prensa a fumaça e a solta pela boca. Em seguida, repassa o baseado. O clima é de total descontração e tranquilidade. Como se o consumo fosse liberado no Brasil.
A cena, flagrada pelo Correio, virou rotina nas quadras do Plano Piloto. Manhã, tarde ou noite, pouco importa. Estudantes de escolas e moradores das asas Sul e Norte encontram nas praças e áreas verdes das residenciais lugares seguros para o consumo e a venda de entorpecentes. Em alguns casos, a movimentação ocorre a poucos metros dos postos comunitários da Polícia Militar. A Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal aumentou a repressão, mas denuncia falhas na legislação brasileira. Lei recente descriminalizou o uso e o porte de droga, o que dificultaria o flagrante.
A 113 Sul aparece como um dos pontos onde ocorre o uso e o tráfico indiscriminado no Plano Piloto. Conta com extensa área verde localizada em uma das extremidades da residencial, às margens do Eixinho Sul. Há quadra poliesportiva, parquinho infantil, bancos e sombra à vontade. Mas a degradação e o abandono transformaram o lugar em uma espécie de boca de fumo. São raros os pais que deixam os filhos brincarem sozinhos. E a garotada mais velha evita a quadra de esportes, pois faltam traves de futebol e tabelas de basquete. Sobra espaço, assim, para a presença de usuários e criminosos.
A cena de garotos a se drogando, por exemplo, se tornou comum na 113 Sul a qualquer hora do dia. Na última quinta-feira, o Correio flagrou cinco jovens bem-vestidos consumindo às 14h. Permaneceram no local por mais de uma hora, a fumar cigarros comuns intercalados com os de maconha. Riram alto e conversaram diante dos apartamentos do bloco F. Os restos ficaram para trás: pontas de baseados, guimbas, fósforos e sujeira ; também aparecem por ali latas com pequenos orifícios e marcas de fogo, vestígios de consumo de crack.
Já o comércio ilegal na quadra ocorre à noite, em estacionamento dos blocos próximos à área de lazer. O lugar virou drive-thru do tráfico, onde carros param e saem a todo instante. O síndico do bloco F, Ronan Costa, luta para afastar o movimento. Apelou à polícia e à Secretaria de Ação Social, mas sem resultados. ;O uso e o tráfico ocorrem a toda hora na porta da nossa casa. Não podemos permitir esse tipo de coisa;, afirmou. Moradores e representantes da escola local se uniram para revitalizar o terreno. O projeto Vida Nova na Quadra contará com recursos materiais próprios e trabalho em mutirão.
Flanelinhas
Na 308 Sul, a praça central também aparece como ponto de encontro de jovens estudantes em horário escolar. Além do espaço nobre na quadra, situado entre os blocos D e E, grupos de meninos e meninas entornam bebidas alcoólicas e fumam cigarros e baseados a cerca de 100m de um posto comunitário da Polícia Militar. A proximidade com a polícia não inibe a garotada. Na última sexta-feira, uma caminhonete do Batalhão de Operações Especiais (Bope) circulou pelo local e não intimidou a turma.
A cena se tornou tão comum, que moradores da quadra sabem como funciona o esquema do tráfico na região. ;Homens que se disfarçam ou são flanelinhas fazem a droga girar. São eles os fornecedores para todos esses garotos que passam a manhã e a tarde se drogando;, afirmou um morador da 308 Sul, que preferiu o anonimato. Às sextas-feiras, o movimento na quadra aumenta. Alunos de colégios das imediações saem de casa com uniforme, mas levam nas mochilas peças de roupa para vesti-las em seguida. Às vezes, trocam a sala de aula pela pracinha. Nenhum deles quis conversar com a reportagem.
Asa Norte
O problema se repete na Asa Norte. Na 409, pequenos traficantes se aproveitam da circulação de jovens de uma escola pública das proximidades para ganhar dinheiro. Os aviõezinhos, entre eles uma adolescente, repassam maconha nos horários de entrada e de saída do colégio. Aproveitam a calçada entre o centro de ensino e os blocos da residencial, no sentido L2 Norte;Eixão Norte, como corredor para a venda de entorpecentes. Muitos consumidores, a maioria menores de 18 anos, acendem o baseado em frente ao bloco B e debaixo das marquises e árvores dos prédios às margens da L2.
Além dos alunos, que nem se dão ao trabalho de esconder o uniforme escolar, garotos da própria quadra consomem e compram maconha a qualquer hora do dia nas duas principais áreas verdes da residencial. Na última quinta-feira, o Correio flagrou às 14h53 cinco garotos enrolando e fumando um cigarro de maconha em frente ao parquinho infantil. O grupo, vestido de roupas de marca, não se importou com o movimento de moradores e de carros. Sentados em bancos de pedra, fumaram calmamente e deram risadas como se estivessem em países em que a legislação antidroga é branda.
A síndica do bloco B, Marli de Fátima Oliveira, chama a polícia pelo menos uma vez por semana para tentar coibir a presença de traficantes e usuários na residencial. O prédio fica em frente à calçada que serve de passagem para os estudantes. ;A coisa piorou demais de um mês para cá. É maconha e álcool e a qualquer hora. Ainda piora entre as 10h e as 12h30. Tem muito menor de idade envolvido;, denunciou. Marli orienta o zelador do edifício a pedir que os usuários pelo menos se afastem da área residencial. Mas o funcionário é repelido com palavrões e ameaças.
Movimentação intensa de carros e pedestres na 312 Norte também não inibe a garotada de consumir maconha à luz do dia. A mesa e os bancos do coreto da quadra são frequentemente usados para que jovens de classe média apertem baseados. Detalhe: o coreto fica ao lado de um jardim de infância. O Correio flagrou na semana passada grupo a deixar o abrigo e seguir até as proximidades dos blocos E e G, onde há aparelhos de musculação. Quatro meninos e duas meninas puxaram fumo às 15h sem se importar com a proximidade de crianças e de posto da PM a cerca de 100m dali.