Uma amostra da produção de arte brasiliense embarcou para Nova York, nos Estados Unidos, onde ficará disponível para o público por seis meses. A curadoria do Museum of Modern Art (Moma) escolheu três joias da designer Thelma Aviani, 36 anos, para integrar o projeto Destination Brazil. O museu selecionou cerca de 100 obras de 40 artistas brasileiros para representar o país na cidade norte-americana. Dividem espaço com as joias de Thelma exemplares assinados por nomes conhecidos do design nacional, como os irmãos Campana e Gilson Martins.
Thelma foi procurada pelo museu há quase dois anos ; ela chamou a atenção por peças expostas no catálogo de uma exposição em Milão, na Itália. Depois de algumas conversas, mandou sugestões de joias e os norte-americanos pediram três modelos. O material partiu do ateliê onde Thelma trabalha, na Vila Planalto, em fevereiro e está à venda no Moma desde o mês passado. O par de brincos Antena é bem-humorado; uma peça é o oposto da outra. Os dois são formados pela ligação de um círculo grande e um pequeno. Em cada orelha, os círculos ficam em uma posição diferente. A peça é uma brincadeira com quem usa ; é como se um emitisse a energia e o outro recebesse, depois emitisse para o primeiro, e sucessivamente.
O Antena é uma peça mais discreta, bem menor que o Ploc, o segundo par de brincos escolhidos pelos curadores do Moma. Nele, Thelma tira da audição a imagem de um processo passivo. ;É como se a audição estivesse reagindo, por isso ele se projeta na orelha;, disse. A terceira joia selecionada é o Linhas perpendiculares, um anel considerado por Thelma o melhor já feito por ela. ;Ele é simples, limpo, intrigante e minimalista;, comentou. Ele não tem o aro inteiro, como os anéis tradicionais, e o desenho acompanha o movimento da mão.
A vontade de produzir os adornos veio quando ela se cansou da arquitetura. Formada pela Universidade de Brasília (UnB), ela passou a se dedicar às joias como hobby. Fez um curso para aprender a usar as ferramentas e montou uma oficina. Em 2001, Thelma juntou o interesse pelo ofício com a vontade de conhecer novos cenários e partiu para Melbourne, na Austrália, onde ficou por um ano e meio. Lá, ela entrou em uma escola de joalheria e passou dias enfurnada no ateliê. ;Trabalhei muito. Na Austrália, eu desenvolvi um estilo e o embrião para tudo o que veio depois;, lembrou.
Do outro lado do mundo, Thelma desenvolveu a produção em série de peças. Alguns modelos são reproduzidos por ela com frequência para comercialização ; é o caso das joias enviadas a New York. A outra vertente do trabalho da designer inclui uma linha de objetos únicos, que rodam o mundo participando de exposições. ;É uma linguagem mais emocional, lúdica e pessoal. A pessoa olha a joia e aquilo frutifica na mente dela;, disse. Esses já passaram por países como Finlândia, Suíça, Holanda, Estados Unidos e Espanha. Logo depois de voltar ao Brasil, Thelma foi à Europa para uma exposição e descobriu uma escola de joias em Barcelona, na Espanha. A viagem curta virou uma temporada de três anos e despertou na designer o interesse pela arte nas joias.
Recortes de papel
A arquitetura ficou para trás, mas deixou uma herança importante no trabalho da designer. O processo de criação de Thelma muitas vezes começa com recortes de papel, como na montagem de uma maquete. ;Eu corto o papel, vejo como faço para prender no corpo, onde se encaixa melhor. Quando ele encontra um encaixe legal, chamo de um nicho anatômico. É o encontro das clavículas no pescoço, o ângulo da orelha;, explicou.
A designer não manda nada para o ourives. Ela prefere fazer as jóias do começo ao fim e ter controle total da produção. Thelma dispensa as máquinas para fazer o acabamento e usa ferramentas manuais. O desenho do produto também é dispensado em muitas das vezes. Ela pensa na joia enquanto mexe com a matéria-prima. ;Eu crio na tridimensionalidade. Tento diminuir a distância entre o 2D e o 3D. No processo, vejo como o material vai respondendo;, disse.
Thelma usa principalmente prata e aço inoxidável nas criações. Ela se encanta com a beleza e a maleabilidade desses metais. Há pouco, a designer inseriu pedras na coleção. Até os erros cometidos na confecção da joia servem de inspiração e às vezes são aproveitados. ;Nesse ofício, você não para de aprender. Está sempre levando uma surra dos materiais;, revelou.
Pechincha
As peças de Thelma podem ser encontradas na Casa da Vila, onde ela trabalha. O fim de semana dos dias 20 e 21 será uma boa oportunidade para conhecer as joias de perto. O ateliê fará um Dia da Pechincha e os preços estarão mais flexíveis. Além das joias, haverá móveis, objetos de resina e artesanato. A casa fica na Rua Planalto, Lote 14, Casa 3/4 (Vila Planalto). O telefone é o 3306-1494.
Para saber mais
Acervo com 150 mil obras
O Museum of Modern Art (Museu de Arte Moderna, em tradução livre) está localizado em Nova York, nos Estados Unidos. Na década de 1920, três personalidades decidiram fazer algo diferente dos museus tradicionais e criaram uma instituição voltada à arte moderna. O Moma foi fundado em 1929 sob a direção de Alfred H. Barr Jr. O público compareceu em peso e, nos 10 anos seguintes, o museu mudou de prédio três vezes para comportar mais gente. Desde 1939, ele ocupa o mesmo prédio, em Manhattan. Além de pinturas e esculturas, o museu foi pensado para receber peças de arquitetura, design, vídeos e outras formas de expressão artística. O acervo do museu já passa de 150 mil obras, inclusive exemplares de Salvador Dalí, Vincent van Gogh, Paul Cézanne e outros.