No meio da explicação do professor, o telefone toca e quebra a concentração de toda a turma. A cena ficou recorrente nas escolas com a disseminação dos aparelhos celulares ; cada vez mais baratos, modernos e inseparáveis das mochilas dos estudantes. Em 2005, o Instituto Brasileiro de Pesquisa e Estatística (IBGE) constatou que 364 mil estudantes do Distrito Federal possuíam celulares. O número corresponde a 65,2% do total de alunos acima de 10 anos. Desde o ano passado, no entanto, os estudantes estão proibidos de usar telefones móveis nas escolas do DF, mas não é difícil encontrar quem carregue o aparelho junto aos livros.
O aluno do colégio Setor Oeste Josiano Ribeiro, 17 anos, ganhou um celular aos 12 e só desliga o aparelho para dormir. ;Muitas vezes me ligam na hora da aula achando que eu estou em casa. Peço para sair da sala, atendo e digo que ligo depois;, disse. Segundo Josiano, esquecer de colocar o telefone no silencioso é uma das maiores gafes dentro da escola. Certa vez, o celular dele disparou a tocar uma música sertaneja no meio da prova. ;Fiquei sem graça, estava todo mundo em silêncio;, revelou. A colega Érika Lobo, 18 anos, não sente falta do telefone no horário da aula. Ela abandonou a linha há dois anos e não se importa de ficar ;fora do ar; no colégio. ;Além de ser falta de respeito, eu teria vergonha se o celular tocasse na sala;, comentou.
Para o supervisor pedagógico do Setor Oeste, Carlos da Costa, a questão não é só proibir o celular, mas garantir a todos os alunos o direito a uma aula tranquila ; ou seja, sem interrupções. ;Temos o horário de recreio para fazer as ligações. Em casos urgentes, a família pode ligar para a escola e entrar em contato com o aluno;, ressaltou. Os pais têm papel importante no trabalho de conscientização. Vem deles boa parte das ligações que interrompem as aulas.
Usar celular em sala de aula é vetado no Distrito Federal desde maio do ano passado. A Lei Distrital nº 4.131 proíbe que os alunos liguem o aparelho em todos os colégios públicos e particulares. Também é contra a lei usar qualquer aparelho eletrônico capaz de armazenar e reproduzir arquivos de música, CDs e jogos, como MP3 players e videogames. Os equipamentos estão liberados nos intervalos e no horário de recreio, desde que fora da sala. Quem desrespeitar a norma pode ser encaminhado à direção. A Secretaria de Educação do DF dá às escolas autonomia para resolver o problema com o estudante.
Todo mundo tem
A professora de história Dalva Santos, 49 anos, tem um jeitinho para lidar com a situação de encontrar um estudante ouvindo música ou passando mensagem pelo celular durante a aula. ;Eu chego, brinco e peço para guardar. A gente pede com educação e eles obedecem;, afirmou. No Centro de Ensino 3 do Guará, onde Dalva trabalha, boa parte dos alunos carrega o telefone para cima e para baixo, inclusive no horário da escola. ;Hoje todo mundo tem celular;, comentou.
A questão do uso de celulares pelos estudantes será tratada amanhã pelo professor do Departamento de Ciência da Computação da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo Rogério da Costa. Ele dará palestra na Interdidática Brasília 2009, o 2º Congresso de Tecnologia Educacional Aplicada à Sala de Aula, sobre uma das maiores paixões do jovens: o celular. ;O celular teve aceitação e disseminação rápidas. Você percebe que as crianças, na maioria, possuem um. Agora, fica a pergunta: o que fazer com esse aparelho para beneficiar o ciclo de ensino e aprendizagem?;, questiona o especialista.
Abrir arquivos de texto, transferir dados por bluetooth, produzir e editar fotos e vídeos são alguns dos recursos que podem ser aproveitados na escola. O uso de redes sociais também é uma tendência, na opinião de Rogério. ;O aluno está construindo e trocando informação, partilhando isso com sua rede social;, completou. O Interdidática reúne cerca de 10 mil profissionais de educação para discutir o uso da tecnologia em sala de aula. ;Isso contribui para a formação do professor e para que ele entenda as funções das novas tecnologias e como aproveitá-las no dia a dia da vida escolar;, explicou o diretor do evento, Jorge Vidal.