Jornal Correio Braziliense

Cidades

Ponte JK, cartão-postal abandonado

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Dizem que algumas coisas ficam mais belas com a passagem do tempo. Esse, infelizmente, não é o caso da Ponte JK. Com apenas seis anos de existência, o mais novo cartão-postal de Brasília sofre devido à falta de conservação. Os arcos metálicos que embelezam o Lago Paranoá e surpreendem os turistas perderam parte do brilho que tinham devido à sujeira que se acumulou sobre eles. Terra e fuligem se misturam na superfície branca dos arcos, que também apresentam pichações nas partes próximas ao passeio de pedestres. Corrimões danificados em acidentes automobilísticos esquecidos ainda aguardam reparos, assim como postes de iluminação quebrados devido à ação de vândalos. A falta de respeito com a obra chegou a tal ponto que uma perfuração de bala pode ser vista em uma placa localizada em frente à ponte. Para completar a história de abandono da Ponte JK, não existe previsão de consertos ou limpeza no local. Apesar de se encontrar na área de gerência da Administração de Brasília, a manutenção do local está relegada à Secretaria de Obras, que não apresenta nenhum processo para melhorar a aparência do monumento ou reparar os danos que a estrutura sofreu ao longo dos anos. Como resultado, muitos turistas que passam por ali se sentem um pouco decepcionados e os moradores da cidade reclamam. As críticas vão desde o abandono da estrutura às políticas públicas que envolvem a ponte, como a proibição de estacionar nos acostamentos do local. O radialista Rubens Brasil, 49 anos, veio a Brasília participar de um congresso e aproveitou a oportunidade para conhecer alguns dos pontos turísticos da cidade antes de retornar para o Ceará. Ao passar pela ponte, não conseguiu deixar de reparar o estado em que ela se encontrava. ;O projeto é muito bonito, mas podia ser mais bem cuidado. Os arcos estão precisando de uma pintura e as pichações incomodam;, avaliou. Ele ainda reclamou da sujeira provocada pelo acúmulo de fuligem e poeira nos corrimões e no próprio passeio de pedestres. O motorista Carlos Antônio Ferreira dos Santos, 38 anos, mora em Valparaíso e é fã da arquitetura da ponte. ;A beleza dela agrada aos turistas, mas o estado de conservação deixa a desejar;, afirmou. ;Falta uma pintura ou limpeza que a deixe mais bonita para encher os olhos do povo.; Na opinião de Carlos, o governo também errou ao proibir o estacionamento de carros nos acostamentos da ponte: ;Isso acabou com a comodidade dos turistas. Deviam fazer um acesso melhor para o público;. E não são só turistas ou pessoas que passam esporadicamente pelo local que reclamam. Os próprios moradores do Lago Sul apresentam diversas ressalvas ao modo como a ponte tem sido tratada. Trânsito A professora Anna Maria Grebot, 49 anos, mora próximo da obra e aponta diversas falhas estruturais relacionados ao local. Para ela, um dos problemas principais está relacionado com a falta de travessias para pedestres e a instalação de uma mureta entre as duas pistas na via de acesso à ponte. ;De manhã ou no final da tarde, os passeios se enchem de pessoas que querem atravessar a rua e não tem como. O fluxo de carros é muito intenso e os muros dificultam a travessia. Canso de ver alguém arriscar a vida para chegar do outro lado da pista;, detalhou. ;O fato de os carros não poderem estacionar nos acostamentos é outro problema. Quer dizer: o turista vem a Brasília e não pode nem parar para apreciar a obra. Tem que ficar tirando fotos de dentro do carro. Que tipo de ponto turístico é esse?;, questionou. O Departamento de Trânsito do Distrito Federal (Detran/DF) é responsável pela fiscalização na Ponte JK. Além de um carro que passa pelo local diversas vezes durante o dia, câmaras instaladas no começo e no fim da obra ajudam a fiscalizar o local. Carros parados no acostamento podem receber multas de até R$ 127 por estacionamento irregular. Segundo o chefe de fiscalização do Detran, Silvain Fonseca, a medida precisou ser adotada por causa da ocupação irregular que tomava conta da ponte. ;As pessoas iam para lá para consumir drogas, ligavam o som nas alturas e faziam travessias perigosas de um lado para o outro da pista, o que trazia consequências negativas para o trânsito. Colocava vidas em risco;, explicou Fonseca. Ele destacou que os carros podem parar em um terreno próximo da ponte, no lado do Plano Piloto. Sobre a questão da travessia de pedestres, Fonseca foi categórico: ;As pessoas precisam perceber que ali passa uma via expressa. Não é lugar para se atravessar a pé;. Leia a matéria completa na edição impressa do Correio Braziliense