1954, interior do Brasil. Os planos de JK para fazer de Brasília a capital do país começavam a sair do papel. Ali, naquela imensidão de cerrado, surgiam as primeiras edificações que serviriam de base para a concretização do sonho do então presidente. Entre elas, o Catetinho, casa oficial de Juscelino, o escritório da Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap) e os primeiros alojamentos de candangos. Os lampiões e pequenos geradores já não suportavam a demanda por energia. A cidade crescia. Era preciso uma usina para o abastecimento local. Às margens do Ribeirão Saia Velha, no município de Luziânia (GO), foi inaugurada a primeira Usina Hidrelétrica de Brasília, em 1958.
Hoje, o galpão que guarda parte da história da capital está abandonado. Peça fundamental na construção, acabou desativado depois da conclusão da usina do Paranoá, erguida no início da década de 1960. Desde então, pouco a pouco, a relíquia perdeu lugar para pichações, ferrugem e vandalismo. Quase 55 anos depois, as ruínas da Usina Saia Velha se encontram em uma propriedade privada pouco depois da divisa entre o Distrito Federal e Goiás. Para entrar no clube, é preciso pagar R$ 20. Diante da imobilidade do governo federal em relação à preservação do lugar, representantes da Organização Social e Ambiental da Fauna e Flora do Brasil (Osaff), com sede em Brasília, pedem pelo tombamento da usina.
A luta teve início em 1999. Já foi alvo de reportagem do Correio, em 2006, e envolveu diversos órgãos do governo federal. Mas até hoje nada de concreto. ;O lugar guarda a nossa história, mas falta vontade política para restaurá-lo. Deixar a usina como está é absurdo;, protestou Carlos Roberto Silva, presidente da entidade sem fins lucrativos. De acordo com ele, o principal impasse para o avanço das negociações vem da falta de articulação entre os institutos do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) do DF e de Goiás. O galpão fica na Cidade Ocidental, município goiano a 42km de Brasília. ;Tem que haver interesse dos dois lados;, disse Carlos.
O superintendente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional no DF (Iphan), Alfredo Gastal, reconhece o problema e explica que o processo depende do apoio do governo de Goiás. ;Temos dificuldade de articulação. Falta as autoridades goianas perceberem a importância da hidrelétrica para a história local;, afirmou. A superintendente do Iphan de Goiás, Salma Saddi, garantiu que o tombamento entra no orçamento de 2009: ;Até setembro, teremos resposta definitiva sobre a preservação da usina;.
Carlos luta para que a usina seja restaurada e tombada antes dos 50 anos de Brasília. ;Para isso, temos que agilizar o processo;, alertou. O superintendente do Iphan-DF manifesta o mesmo desejo, apesar de não se comprometer com datas. ;Vamos trabalhar para resolver esse impasse antes do próximo 21 de abril;, entusiasmou-se Gastal, que tem relação íntima com a hidrelétrica. Em 1967, ele visitou o lugar. Na época, a Usina de Saia Velha funcionava a todo vapor. ;Sei o que foi construir tudo aquilo. Conheço bem a história da usina e a importância dela;, ressaltou.
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