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Plano Piloto: vagas devem custar R$ 2 a hora

Se depender do governo, as empresas que serão escolhidas para construir os estacionamentos subterrâneos no centro da capital, com espaço para 20 mil carros, não cobrarão mais que isto. No início, falou-se em R$ 4

O motorista não deverá pagar mais que R$ 2 por hora para estacionar nas garagens subterrâneas que serão construídas em Brasília por meio de uma parceria público-privada. Essa é a nova previsão do governo, depois de divulgar, em fevereiro, que o valor poderia chegar a R$ 4. A Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan) elabora, há duas semanas, o edital de licitação para escolher a empresa que tocará o projeto. A obra de cerca de R$ 500 milhões criará pelo menos 20 mil vagas, inicialmente, nos setores comercial, hoteleiro, hospitalar e de autarquias, nas asas Sul e Norte. A orientação para rever a estimativa do preço a ser cobrado partiu do governador José Roberto Arruda. No início do ano, quando uma comissão coordenada pela Secretaria de Transportes escolheu o melhor de três projetos para minimizar o problema da falta de vagas no Plano Piloto, ele reagiu. ;O estudo existe, mas não tem minha decisão. Desautorizo qualquer definição a respeito disso;, chegou a dizer. Na próxima segunda-feira, o secretário de Transportes, Alberto Fraga, e o presidente da Codeplan, Rogério Rosso, vão se reunir para acertar os detalhes do edital de licitação. Fraga e Rosso destacaram, ontem, que priorizarão a continuidade da proposta. A assessoria do governador informou que a construção das garagens subterrâneas é projeto de governo e tem o aval de Arruda. Mas deixou claro que, antes de o processo licitatório ser lançado, o governador avaliará as decisões tomadas pela Codeplan e pela Secretaria de Transportes, principalmente em relação à previsão de cobrança. É com base no que estará no edital que a empresa definirá o valor da tarifa. Parceria Como o investimento será por meio de uma parceria público-privada, o governo cederá a área pública para as obras, mas não gastará nada. A vencedora da concorrência, por sua vez, ganhará o direito de cobrar pelo uso do estacionamento. Fraga reforçou que o governo exigirá um valor acessível à comunidade. ;Não pode passar de R$ 2 por hora. Mais caro que isso seria inviável, não faria sentido;, disse o secretário. ;Com certeza, o valor caberá no bolso do motorista. A menor tarifa prevalecerá. Se a menor for R$ 1, vai ser R$ 1;, endossou Rosso. O governo estuda permitir a participação de empresas de fora do Brasil no processo, para aumentar a concorrência e tentar diminuir ao máximo o preço a ser cobrado. Na reunião da próxima segunda-feira, também estará em pauta a divisão da licitação em lotes. A intenção é que as obras sejam feitas em etapas, para diminuir os transtornos que certamente os motoristas enfrentarão. Será discutido ainda que alternativas poderão ser oferecidas aos usuários durante o período de obras. Depois que todos os detalhes estiverem definidos, o processo de licitação começará em 45 dias. O Correio visitou ontem os locais onde as novas vagas devem ser criadas e encontrou gente que saiu em defesa da cobrança do futuro estacionamento ; algo que tempos atrás era quase impossível. ;Tem que cobrar, é o jeito. O valor que se paga é o que se gasta de combustível procurando vaga;, comentou o segurança Mauro Firmino da Silva, 39 anos. ;A saída é essa. Ou, então, a coisa tende só a piorar. Conforto custa dinheiro;, completou o aposentado Urias Rodrigues, 71. Ele procurou uma vaga por quase 30 minutos no Setor Comercial Sul. Não achou e decidiu entregar a chave a um flanelinha. Carro solto No Setor Comercial Norte, o servidor público Alexandre Amaral, 51, também cansou de procurar e deixou o carro solto. Ele acredita que a cobrança pode desestimular muita gente a usar carro. ;Alguns veículos ficam horas parados, ocupando o lugar de alguém que só quer resolver um problema rápido no lugar;, exemplificou. Mas a polêmica continua. Muitos não estão dispostos a pagar para estacionar. ;Já pago IPVA e ainda terei de pagar mais?;, questionou o vendedor Márcio Carvalho, 34, que, por falta de opção, parou no gramado. ;Só quem tem dinheiro vai poder estacionar?;, completou o aposentado José Filho, 66, depois de usar, rapidamente, uma vaga do Corpo de Bombeiros, no Setor Comercial Sul. A falta de vagas é um problema crônico da capital federal. O aumento da frota, que já ultrapassou 1 milhão de veículos, torna a situação ainda mais complicada. Para o professor da Universidade de Brasília (UnB) Joaquim Aragão, a cobrança é uma tendência natural. ;Já é inconcebível o estacionamento livre, mas é preciso saber quanto será cobrado e quem vai explorar o negócio;, comentou. No entanto, destacou o especialista em trânsito, falta uma ;política de estacionamento; no DF. ;Claro que garagens subterrâneas ajudam, mas falta planejamento. É preciso analisar a demanda, a evolução do crescimento da frota;, alertou Aragão, coordenador do Centro de Formação de Recursos Humanos em Transportes (Ceftru) da UnB. » Dê sua opinião: como a falta de vagas interfere na sua rotina? Envie e-mail para