A cada cinco minutos, um novo carro aumenta a frota do Distrito Federal. A média deste ano ajuda a explicar os congestionamentos e preocupa população e governo. Por dia, são 259 veículos incluídos nas estatísticas do Departamento de Trânsito (Detran). O crescimento diário é 15,6% maior em relação ao do ano passado, que teve média de 224. A frota de Brasília, até abril, era de 1.077.781, sem contar outros milhares de carros emplacados no Entorno e que trafegam pela capital diariamente. E a tendência, segundo especialistas, é que os números continuem a crescer.
O secretário de Transportes, Alberto Fraga, é claro: ;Não dá mais. O sistema viário está totalmente estrangulado;. Para ele, o engarrafamento de ontem, provocado por uma manifestação na Esplanada dos Ministérios, é apenas mais um sinal de alerta. ;Não existe milagre, não tem como resolver esse problema imediatamente. A cidade precisa começar a mudar de cultura e a acreditar mais no transporte público. Claro que hoje ainda ele está ruim, mas vamos melhorar aos poucos;, completa o secretário.
Enquanto isso, o governo alarga pistas e constrói viadutos para tentar amenizar as consequências. ;Essas obras não vão acabar com os transtornos. Estamos fazendo isso para não deixar que a cidade pare de uma vez;, reconhece Fraga. Na Estrada Parque Indústria e Abastecimento, a Epia, por exemplo, o alargamento das pistas não foi suficiente para impedir os engarrafamentos nas horas de pico. Mesmo no trecho em que as obras estão concluídas, o trânsito chega a parar no fim de tarde.
Na avaliação do próprio secretário, Brasília caminha para o caos. Ele calcula que em no máximo seis anos a cidade terá uma realidade do trânsito semelhante à de São Paulo. Por lá, de acordo com dados do Detran paulista, o crescimento da frota entre dezembro do ano passado e abril deste ano foi de 1,8%. São atualmente 6.369.581 carros nas ruas. Na capital federal, nesse mesmo período, o contigente de veículos cresceu 2,9%. ;Se nada for feito, a cidade vai parar totalmente. Por isso a preocupação do governo com as obras;, destaca Fraga.
A invasão de carros em Brasília assusta. Em 2000, o número de veículos era de 585.424 (veja quadro). O diretor-geral do Detran-DF, Cezar Caldas, lembra que a preocupação com o crescimento da frota e com o futuro do trânsito não é privilégio de Brasília. Assim como o secretário de Transportes, ele exalta as obras realizadas pelo governo para a expansão das pistas, com o objetivo de ;minimizar os transtornos;. ;A frota continua crescendo, apesar da crise financeira. No DF, pelo que a gente percebe, parece que ela não foi tão grande;, comenta.
Cultura do carro
A iniciativa para conter o avanço da frota precisa partir do governo, na avaliação do especialista em engenharia de trânsito Paulo César Marques. E as obras, destaca ele, não deveriam servir de motivo para tanta comemoração. ;É uma solução paliativa. Em pouco tempo, o problema volta. E vai chegar uma hora em que não haverá mais para onde abrir espaço;, justifica. ;As obras são uma medida razoável para desafogar pontualmente o tráfego. Mas o que é preciso é desestimular a cultura do carro;, defende o professor da Universidade de Brasília (UnB).
Apesar de todo o transtorno que a população percebe no dia a dia, o especialista afirma que a capital federal ainda não tem um trânsito caótico. Ele ressalta que os congestionamentos se concentram nos horários de pico e são intensificados quando há algum obstáculo, como a manifestação de ontem. No entanto, sustenta ele, isso não é motivo para relaxar. ;Estamos no limite. Situações como a de hoje (ontem) mostram um problema estrutural;, alerta o professor, que vai e volta para a universidade de bicicleta. Ele mora na Asa Norte.