Há seis meses, Matheus Costa, 13 anos, realizou o sonho de ter seu próprio helicóptero ; um protótipo de tamanho reduzido, é claro. Ele é o mascote do grupo que frequenta a pista de aeromodelismo no final da L2 Sul. No meio de marmanjos de todas as idades, o piloto mirim coloca em prática os ensinamentos de seu pai e instrutor particular, o bancário Eliezer Costa, 45 anos, arrancando elogios dos mais velhos com as manobras radicais. ;Meu pai tinha um avião. Mas eu queria mesmo um helicóptero, que tem um grau de dificuldade bem maior de pilotar;, conta.
Em breve, será a vez de Lucas Costa, 11 anos, seguir os passos do irmão. Enquanto o mais velho se arrisca nos céus, o caçula aprende a ;pilotar; com segurança. ;Antes de deixá-lo voar sozinho, uso o cabo trainer, um dispositivo que permite que eu comande o avião em caso de descontrole, como se fosse um instrutor de autoescola;, explica Eliezer.
Muito além de aproveitar os fins de semana em família, o pai garante que o hobby ajuda a educar os filhos. ;É uma prática que exige paciência. Além disso, eles aprendem conhecimentos mecânicos e de aerodinâmica;, destaca. Isso porque o motor de um aeromodelo é igual a qualquer outro de combustão interna, que transforma a energia química em mecânica. O álcool metílico é o combustível dos motores, que podem ser de dois a quatro tempos. Os comandos são emitidos pelo rádio e os praticantes utilizam o controle remoto para pilotar.
A brincadeira é de gente grande. Crianças como Matheus e Lucas são raridade no local dos voos. De 30 anos para cima, homens tornam o esporte quase exclusivo do sexo masculino. Mulheres, embora sejam bem-vindas, quase não dão o ar da graça na pista de aeromodelismo. Reunidos no clube do bolinha, os praticantes se esquecem nos fins de semana de qualquer compromisso em nome da paixão pelas miniaturas. ;Já tentei pilotar, mas não levo jeito. Como ele não pensa em outra coisa, o jeito é acompanhá-lo. Às vezes, chego a passar o dia inteiro aqui;, diz a funcionária pública Raquel Lopes, 23 anos. Sempre que pode, ela não abre mão de ficar longe do marido, o bancário Airton Ferreira Júnior, 37 anos.
E não só a velocidade e as manobras encantam os homens. Quando não passam horas mexendo nas máquinas, como se fossem mecânicos de suas próprias aeronaves, eles se dedicam à conservação. Depois de manobrar o Starflyer, um equipamento de treinador modelo asa alta ; indicado para quem está começando no hobby ;, José Américo Oliveira, 49 anos, não vai embora sem antes deixar o equipamento branquinho. ;Toda vez que voa, o lubrificante sai pelo escapamento e suja a aeronave. Por isso, não saio daqui sem antes deixá-lo reluzente;, justifica o analista de controle.
Tanto cuidado não é para menos. Apenas para começar no aeromodelismo, a pessoa pode desembolsar em torno de R$ 1,5 mil num modelo mais simples de avião. Só o rádio pode custar R$ 2 mil, pois o aparelho é importado. Já quem quiser um jato talvez chegue a um investimento de R$ 30 mil. Por isso, quando um aeromodelo despenca, sempre há alguém disposto a ajudar no conserto ou a consolar o amigo. ;É como perder um filho. Não só pela perda financeira, mas pelo laço afetivo;, ressalta José Oliveira. A recompensa do investimento, assegura o dono do Starflyer, vai além da pura diversão. ;É uma prática que exige muita tranquilidade. A gente esquece dos problemas. Isso aqui é um tratamento antiestresse;, recomenda.
Treinamento
A brincadeira, além de dinheiro, exige treinamento. Afinal, é preciso muita habilidade para manobrar aviões que chegam a 250 km/h. As miniaturas mais potentes, os jatos, podem chegar a 400 km/h e voar a até mil metros do chão. No Distrito Federal, são mais de 500 adeptos, sendo 240 filiados à Associação Brasiliense de Aeromodelismo (Abra).
De acordo com Luciano Hideki Suguieda, um dos integrantes da direção da Abra, os interessados passam por aulas práticas e voos, que custam em média de R$ 20 a R$ 50. Se forem aprovados na avaliação, recebem uma carteirinha emitida pela Confederação Brasileira de Aeromodelismo. ;Em duas a três aulas, dependendo da habilidade do aluno, já é possível realizar voos sozinho;, adianta. Vale lembrar que, para cada modalidade ; aviões, helicópteros e jatos ;, a pessoa passa por cursos e provas específicas.
Luciano Hideki é considerado um mestre entre os praticantes. Levou oito anos para executar manobras que levantam suspiros dos observadores. ;Não é difícil. Mas exige dedicação;, lembra o consultor de recursos humanos, que começou no automodelismo.
Colaborou Diego Amorim
Onde praticar
Quem quiser conhecer e praticar o aeromodelismo deve procurar a única pista coletiva habilitada pela Associação Brasiliense de Aeromodelismo (Abra-DF), que fica no final da L2 Sul. Com autorização do Serviço Regional de Aviação Civil (Serac VI), o local funciona de quarta a domingo, das 9h às 18h. A Abra, responsável pela pista, pode indicar instrutores credenciados para aulas e locais apropriados para compra de aeromodelos novos ou usados. Mais informações pelo site www.abradf.com.br.
MODELOS
Asa alta
Considerado um equipamento treinador. É indicado para quem está começando. O modelo exige muita habilidade para executar piruetas.
Asa baixa
Usado pelos pilotos mais experientes. A aerodinâmica do modelo permite realizar manobras arriscadas e acrobacias.
Helicóptero
É considerado um dos mais difíceis de manusear, pois é preciso muita sensibilidade no controle.
Números ao alto
No Distrito Federal, há mais de 500 adeptos do hobby.
Destes, 240 estão registrados na Associação Brasiliense de Aeromodelismo.
Mesmo se tratando de miniaturas, é preciso habilidade para manobrar. Algumas chegam a 250 km/h.
As miniaturas mais potentes podem atingir 400 km/h e voar até 1 mil metros do chão. Só para começar, um adepto do aeromodelismo pode ter de desembolsar, em média, R$ 1,5 mil
Um rádio, que normalmente é importado, pode custar R$ 2 mil
O preço de uma miniatura de jato pode atingir os R$ 30 mil