Há 19 anos, ela não vê a filha. Chora ao lembrar, porque a lembrança se apaga a cada dia. O amor, não. ;Às vezes, tenho medo de que ela possa estar sendo maltratada ou usando drogas. Mas, às vezes, também penso, eu quero acreditar, que ela está bem, feliz. Peço a Deus que, se um dia minha filha passar por mim, que ele toque meu coração para que eu a reconheça;, diz a auxiliar de limpeza Ana Rosa de Souza, 44 anos, emocionada. A filha dela está desaparecida há quase duas décadas.
A menina receberia o nome de Katchuska, mas não houve tempo. Após deixá-la com a avó paterna, com apenas cinco meses de vida, para procurar emprego por um dia, Ana perdeu a filha. A avó, segundo ela, deu a criança. Não se sabe para quem. Mas Ana, assim como tantas outras pessoas que sofrem com a ausência de notÃcias de um parente, não desiste.
Dados da Secretaria de Desenvolvimento Social e Trabalho do DF (Sedest) mostram que, hoje, 40 casos de desaparecimento ainda esperam por solução na capital federal. Desde 1968, o órgão computou 1.040 registros semelhantes no DF. A maioria em Ceilândia, BrasÃlia, Samambaia, Taguatinga e Planaltina. Desses, mil foram desvendados. Apenas nos primeiros meses deste ano, a Sedest recebeu 13 notificações.
Os números comprovam que a maior causa de desaparecimentos é a fuga de lar (847). Dos 1 mil casos solucionados do DF, em 329 houve retorno espontâneo. ;Em mais de 90% dos casos de fugas, existem abusos e problemas em casa que os levam a sair;, disse a delegada Gláucia Ésper, titular da Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA). Ela orienta que, em casos de desaparecimento, deve-se procurar o jovem nos lugares em que ele costuma ir e ligar para parentes e amigos.
Ana não teve orientação. ;Mas um dia vou encontrar minha filha;, disse. O vigia Gecino da Conceição, 56, também amarga a falta de notÃcias da filha. Em 2006, Michele, então com 10 anos, desapareceu no caminho para a casa de uma amiga, em Ceilândia. O pai recorreu à polÃcia, espalhou cartazes e ainda grita a dor de ter sido separado de Michele. No armário, as roupas, brinquedos e material escolar da garota continuam intactos. ;Ela era boa menina. Pergunto por que isso aconteceu comigo. Onde está minha filha? Não tenho pistas;, disse, desolado.
Luta mundial
O drama é enfrentado por famÃlias de todo o mundo. Desde 1998, existe uma rede de crianças desaparecidas nos Estados Unidos, conhecida como Missing Kids. O Brasil é um dos membros. Por isso, na próxima segunda-feira, BrasÃlia se junta ao movimento para lembrar o Dia Internacional da Criança Desaparecida ;a data marca o dia em que um menino de 6 anos desapareceu quando ia para a escola em Nova York e ganhou repercussão mundial. ;Queremos chamar a atenção. Porque cada cidadão tem que saber que pode ajudar. A dor é tanto para a criança desaparecida quanto para a famÃlia;, disse a titular da Sedest, Eliana Pedrosa.
PROCURE AJUDA
SOS Crianças e Adolescentes Desaparecidos: 3342-1407
SOS Cidadão: 0800-647-1407
DPCA: 3361-1049/ 3361-5798
Creas BrasÃlia: 3346-9332
Veja programação do Dia Internacional da Criança Desaparecida no DF
25 de maio
Encontro Nacional sobre o desaparecimento de crianças e adolescentes
Local: Museu da Imprensa ; Setor de Indústrias Gráficas
9h Palestra - A problemática do desaparecimento de crianças e adolescentes
10h30 Trabalho em grupo
12h Encerramento
Mobilização
Local: Praça em frente ao Conjunto Nacional
14h às 16h35 apresentações culturais e recreativas
16h35 apresentação de vÃdeo sobre o desaparecimento de crianças e adolescentes
16h50 depoimentos de pessoas sobre a importância do evento
17h40 balões com fotografias de crianças, de várias partes do mundo, serão soltos ao mesmo tempo
18h encerramento do evento com apresentação artÃstica