Jornal Correio Braziliense

Cidades

Oficina de música na UnB integra crianças

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Violoncelos e violinos combinam com triângulos e pandeiros? Para as crianças que estiveram na oficina do quarteto espanhol BlauKamara, a mistura deu certo. Vinte meninos e meninas subiram no palco de um auditório na Universidade de Brasília (UnB) na tarde de ontem com instrumentos em mãos para ensaiar com o grupo. O quarteto veio ao Brasil pela primeira vez e fez uma oficina com alunos do curso de música para crianças ministrado pela universidade. Gustavo Façanha, 9 anos, adorou ver de perto violas, violoncelos e violinos. O que ele achou da aula com o quarteto? ;Gostei!”, resumiu. O menino participa da oficina da UnB há um ano e meio e desenvolveu o gosto pela música. Gosta de tudo um pouco: reggae, funk, rock, música brasileira e os hits da cantora Ivete Sangalo. ;Nas festas de aniversário, é ele quem puxa os convidados para dançar. A música tem o aspecto sociável, deixou ele mais desinibido;, comentou o pai do garoto, o professor universitário Augusto Façanha, 63 anos. Conviver com música desenvolveu as habilidades de Gustavo, que tem Síndrome de Down. Ele está aprendendo a tocar flauta doce e pratica as notas da música Maracangalha. ;Faz muito bem para a criança. Ele escuta um ritmo e já canta a letra da música, e está muito entrosado com os outros alunos;, disse Augusto. O BlauKamara Quartet está em Brasília para um show gratuito hoje, às 20h, no Teatro Nacional. É a primeira vez que o quarteto se apresenta no Brasil. Eles vieram por um intercâmbio promovido pelo Duo SPES, uma dupla de brasileiros que atua na divulgação da música erudita e nacional. Uma das obras escolhidas pelo grupo é brasileira, de autoria do professor de violino e membro da Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Zoltan Paulinyi, chamada Teu desprezo. Interação Violinista do quarteto, Ingrid Torrecillas usa a música instrumental em atividades voltadas para crianças com deficiências em Madri, na Espanha. Mãe de um menino com Síndrome de Down, Ingrid se dedica ao desenvolvimento de meninos e meninas que nasceram com a deficiência. ;Usamos instrumentos que eles possam tocar. O importante é a criança interagir. A música trabalha a psicomotricidade, ajuda a relaxar;, afirmou. Nas aulas da violinista, bebês usam o tato para se acostumar às teclas do piano e os maiorzinhos usam instrumentos de percussão para produzir sons. Ingrid trouxe ao Brasil uma maleta com chocalhos, triângulos de metal, pandeiros e outros materiais. As crianças subiram ao palco para escolher o instrumento preferido e começaram o show. Com o som do quarteto ao fundo, elas montaram uma orquestra improvisada e emocionaram os pais que estavam presentes. Nem a diferença de idiomas entre os músicos e os pequenos aprendizes atrapalhou o espetáculo. O engenheiro mecânico Jeferson Miquens, 40 anos, assistiu ao filho Gabriel de Souza Miquens, 5 anos, se familiarizando com os instrumentos vindos da Espanha. O menino se divertiu fazendo parte da orquestra-mirim ao lado dos colegas. Gabriel nasceu com Síndrome de Down e entrou na oficina musical aos 6 meses de idade. Ele intercala as aulas semanais com terapia ocupacional e fonoaudiologia. ;Eu percebo o desenvolvimento dele, não só pela música mas também por outras atividades que ele realiza. Esse tipo de atividade dá prazer a ele;, disse Jeferson. Gabriel participou do conjunto infantil ao lado de Maria Teresa Prado, 5 anos, e Lourenço Prado, 4 anos, que são irmãos. Os dois começaram na oficina em 2005 e hoje adoram cantar ; até ensaiam antes de ir para a aula. No momento, os irmãos gostam de ouvir Dorival Caymmi quando estão em casa. ;O projeto é importante porque dá uma base musical, que eu por exemplo não tive a oportunidade de ter quando era criança. Muita coisa eu aprendi com eles. Cria identificação e identidade musical;, lembrou a mãe dos meninos, a professora Cláudia Pauleto do Prado. Oficina As crianças que participam do projeto da UnB iniciam o trabalho com a música aos 4 meses de idade. Uma vez por semana, elas se reúnem para ouvir as canções e ter o primeiro contato com ritmo e instrumento musicais. ;Trabalhamos a música no desenvolvimento cognitivo, afetivo e social da criança. É a primeira aula em grupo que ela vai ter;, explicou o coordenador do projeto de extensão, o professor de música Ricardo Dourado. A iniciativa entrou no sétimo ano e hoje conta com cerca de 850 alunos e uma equipe de 20 professores. As aulas são ministradas no Departamento de Música da UnB. Os pais acompanham as crianças em todos os encontros, especialmente no caso de meninos e meninas com menos de 5 anos. ;Os pais são os promotores da música dentro de casa;, ressaltou o professor Ricardo. Existe uma turma só para bebês com necessidades especiais ; a partir dos 2 anos, elas entram nas turmas regulares. O trabalho ajuda na concentração e integração com outras crianças. ;É uma oportunidade de aprender a música como linguagem de expressão e de integração dos sentidos;, disse Dourado. As vagas da oficina são concorridas e há uma lista de espera para conseguir a matrícula. COMO INGRESSAR NAS AULAS DE MÚSICA? As oficinas são abertas a crianças entre 4 meses e 8 anos. A partir dos 6 anos, elas podem escolher tocar piano, violino ou flauta doce. A presença dos pais é essencial durante as aulas no caso de alunos com menos de 5 anos. As aulas do próximo semestre começam em agosto, mas já é possível se inscrever na lista de espera. Mulheres grávidas podem deixar o nome na lista para ingressar no curso quando o bebê alcançar a idade mínima. O telefone de contato é 3307-2884. A taxa semestral é de R$ 280 e dá direito a uma aula de 50 minutos por semana ; os horários são variados.