A construção de duas novas quadras no Sudoeste representa um crescimento populacional de quase 7,5% na região. Os futuros 3,5 mil moradores das SQSW 500 e 501 devem trazer, pelo menos, mais 1,5 mil carros para a cidade, que já sofre com congestionamentos nos horários de pico. O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) está preocupado com o adensamento populacional e pediu ao governo local um detalhamento maior dos projetos ambientais e urbanísticos apresentados pela Antares Engenharia, dona da área onde os novos 22 prédios residenciais serão erguidos. A análise do empreendimento está adiantada e a construtora espera iniciar as obras em um ano. Mas o MP alega desconhecer informações importantes sobre o futuro empreendimento, como o número de unidades habitacionais que serão feitas em cada edifício.
O MPDFT requisitou os documentos adicionais à Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano (Seduma) e ao Instituto Brasília Ambiental (Ibram) ontem, depois que o Correio revelou detalhes do projeto. ;Com a reportagem, pudemos observar que o governo já tem muitas informações que nós não temos;, afirmou o titular da 4ª Promotoria de Defesa da Ordem Urbanística (Prourb), Paulo José Leite. O promotor também marcou uma reunião para discutir a expansão do Sudoeste com a Seduma, o Ibram, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), o Departamento de Trânsito do DF (Detran), a Companhia Energética de Brasília (CEB) e a de Saneamento Ambiental do DF (Caesb). O encontro vai ocorrer na próxima terça-feira.
Paulo José Leite contou que se interessou em conhecer o estudo de tráfego feito pela Antares e analisado pelo Detran e pela Seduma. Os órgãos pediram à empresa uma complementação no trabalho, mas nem a primeira versão chegou ao MP. ;Nossa maior preocupação é com o impacto que o empreendimento vai causar nas vias do Sudoeste, porque CEB e Caesb já atestaram a viabilidade de abastecer as novas quadras. Ainda esperamos uma resposta do Detran e não sabíamos da existência desse estudo;, disse. Atualmente, 35 mil veículos circulam por dia pelas ruas do bairro. Considerando a taxa de motorização do DF (de um carro para cada 2,22 habitantes), mais 1.576 devem chegar com os 3,5 mil novos moradores.
Quantos apartamentos?
Além de requerer as cópias do projeto, o MP recomendou que a expansão seja apresentada com a indicação da quantidade de apartamentos e unidades comerciais a serem construídos na área de 140 mil metros quadrados, que fica ao lado do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), quase às margens do Eixo Monumental. A construtora diz que tal detalhe só pode ser dado quando os projetos de cada bloco estiverem prontos. Mas a Seduma estima que a empresa fará prédios com quatro apartamentos por andar, o que daria 24 moradias com cerca de 280 metros quadrados em cada prédio. Pela densidade estabelecida para a área, a empresa pode optar por prédios com até oito apartamentos em cada andar, ou 48 unidades de 140 metros quadrados por edifício. ;Esse dado é muito relevante, pois uma previsão é o dobro da outra;, justificou Paulo José Leite.
De acordo com a Prourb, o detalhamento é requisito imprescindível para a concessão de Licença Prévia, que deve ser emitida pelo Ibram ainda neste semestre. A Seduma foi procurada pela reportagem, mas informou, por meio da assessoria de imprensa, que oficialmente não recebeu qualquer documento, apesar de ter confirmado a reunião da próxima terça-feira. Ninguém do órgão quis dar entrevista.
Também procurado, o administrador do Sudoeste, Nilo Cerqueira, não quis se manifestar. A assessoria de imprensa justificou que ;ainda não é hora para a administração falar alguma coisa porque os projetos estão sob análise de outros órgãos;. A assessoria informou apenas que o Sudoeste ainda não atingiu 100% da sua capacidade e que obras de melhorias no trânsito serão feitas.
Opiniões divididas
Cerca de 47 mil pessoas moram hoje no Sudoeste e na Octogonal, que também faz parte da região administrativa. O crescimento de 7,5% da população da cidade divide a opinião de especialistas. Segundo o pesquisador do Núcleo de Estudos Urbanos e Regionais da Universidade de Brasília (UnB), o arquiteto e urbanista Sérgio Jatobá, a taxa não é grande e, por isso, o acréscimo populacional pode ser plenamente absorvido pela cidade.
;O Sudoeste não é uma área muito adensada e esse aumento na população não deve acontecer de uma vez, até por uma estratégia imobiliária. A construtora deverá lançar os prédios aos poucos e o crescimento deve ser gradativo, o que dará tempo para as obras de melhoria da infraestrutura;, argumenta.
Já o professor da UnB Frederico Flósculo, também arquiteto e urbanista, ressaltou que o aumento de 7,5% na população é significativo e classificou como uma imprudência a expansão do Sudoeste. ;Ela vai adensar uma cidade que não nasceu para ser tão grande. A ideia do Sudoeste era fazer uma complementação delicada do Plano Piloto, com meia dúzia de quadras. Hoje, ele já é nove vezes maior que o pensado por Lucio Costa;, disse o especialista.
;Brega;
Flósculo também critica o fato de os prédios estarem a apenas 250m do Eixo Monumental. ;Isso não tem nada a ver com a proposta de Brasília. As árvores do Parque das Sucupiras não serão suficientes para esconder os edifícios. O Eixo vai ficar brega naquela região.;
O projeto apresentado pela Antares Engenharia foi aprovado pelo Iphan e os prédios terão as mesmas características dos do Plano Piloto: seis andares com pilotis. Além dos 22 blocos residenciais, serão construídos seis comerciais, com quatro andares cada um. As duas quadras serão interligadas, com duas saídas (uma para cada) para a pista que passa pelo Sudoeste Econômico. O comércio fica nos fundos da quadra, virado para o Setor de Oficinas. Todos os edifícios terão garagem no subsolo e uma área institucional está reservada no meio do terreno. Provavelmente, ela será ocupada por uma escola. Apenas 15% do terreno total será ocupado pelos blocos.