Jornal Correio Braziliense

Cidades

Prostitutas migram para paradas de ônibus da W3 Norte

Elas não atendem pelo nome verdadeiro: Débora, Carlinha e Alana são algumas das centenas de mulheres que abandonaram o comércio das quadras 314 e 315 para ocupar a principal avenida do Plano Piloto. Em pontos de ônibus, elas esperam os clientes enquanto dividem histórias de sofrimento e desencanto

Em 1996, Alana brincava de boneca e tinha medo de escuro. A menina que morava em Ceilândia nunca tinha ido ao Plano Piloto. Muito menos ouvira falar em boate. Não sabia que, na 314 Norte, moças dançavam nuas num lugar que ficava num subsolo e depois satisfaziam, fora dali, seus clientes. Enquanto as moças ganhavam dinheiro em troca de sexo, Alana dormia. Na madrugada de quarta-feira, debaixo de uma marquise pouco iluminada, na Asa Norte, Alana, hoje uma bela mulher de 22 anos, olhar penetrante e pernas bem torneadas, esperava mais um cliente. E no princípio, Deus criou o homem e, com a costela do homem, a mulher. E o homem, dono de si, expulso do paraíso, criou a Queen;s. A boate, de um casal de coreanos (ele mal falava português), reinou absoluta durante a primeira metade dos anos 1990. Era o templo do prazer das entrequadras 314/315 Norte. Figurões, políticos, empresários, jogadores de futebol, todos frequentavam a ;rua do desejo;, como o lugar ficou conhecido. Dentro da boate, moças faziam striptease e depois marcavam programas bem rentáveis com seus clientes. Alguns só falavam em dólares. Era negócio da China. Todo mundo sabia, mesmo fingindo não saber, o que se passava na boate cheia de espelhos. Moças dos quatros cantos do DF e Entorno invadiram a quadra. Mas nem todas podiam frequentar a Queen;s. Era preciso ser chique. As excluídas ficavam na rua. A vizinhança e os comerciantes começaram a se incomodar com as meninas da boate (as chamadas ;rainhas;), com as excluídas e com a boate propriamente dita. O movimento na 314/315 era infernal. Na madrugada, engarrafamento. Barulho, buzinas, gente alcoolizada, drogas, brigas, tiros. Alguns escândalos ; sobretudo no embate entre as prostitutas de ;castas; (as rainhas) e as ;dalit; (as párias, em tempos de Caminhos da Índia...). Com receio da desmoralização da quadra, moradores e comerciantes se juntaram. Exigiram do governo o fechamento imediato da boate. Em nome da moral e dos bons costumes, a família venceu. A boate e suas meninas foram expulsas do paraíso. Em junho de 1996, fecharam a Queen;s. Nesse mesmo ano, Alana fingia ser mãe de suas bonecas. As moças da Queen;s, sem emprego, foram para a rua. Juntaram-se às que já estavam ali. E a quadra ficou pequena demais para tantas. Dezenas, centenas delas tomaram o poder. E da rua, já que prostituição não é crime no Brasil, ninguém pôde expulsá-las. O movimento duplicou. Triplicou. Os moradores foram à loucura. Viram o valor dos seus imóveis despencar. Os bares, um a um, fecharam as portas. Só resistiram as barraquinhas de cachorro-quente. Treze anos se passaram. Alana completou 22 anos. Virou mulher. Casou-se, separou. Tem uma filha de 2 anos. Mora em Valparaíso (GO). Não conheceu a Queen;s. Há seis meses, esteve na 314 Norte. Foi a única vez. O lucro não foi o esperado. Preferiu a W3 Norte, o novo e sofisticado endereço do trottoir de Brasília. É ali, ao longo de toda a avenida ; mais precisamente nos pontos de ônibus ; , que as moças agora se prostituem. Na madrugada de sexta-feira, entre 1h e 1h15, havia ; espalhadas pelos 6km da comprida avenida e abrigadas nos 33 pontos de ônibus ou debaixo de marquises ; 82 prostitutas à espera de um cliente. Isso sem levar em conta aquelas que já tinham embarcado nos carrões importados (alguns até com placas de corpo diplomático). À 1h20 da madrugada, na comercial da 314/315 Norte, não havia mais do que quatro mulheres, ao longo de toda a quadra. Inacreditável. Naquele mesmo lugar, até bem pouco tempo, elas disputavam espaço a tapas. Até o vendedor de cachorro-quente abandonou a região. ;Desocupa a moita; Durante duas madrugadas, o Correio circulou pela Avenida W3 Norte. Conversou com as meninas que estavam à espera de mais um programa. Um trago de conhaque, um copo de cerveja, uma dose de uísque.... Ou apenas sexo, sexo sem conversa. Ouviu suas histórias. Algumas sonham. Fazem planos de deixar as ruas. ;Fico aqui só mais um ano;, calcula a bela Alana. Outras, castigadas pelo sofrimento, imprimem certa dureza, olhar desconfiado.Um grito apertado. Desencanto. Uma delas, uma loira de vestido vermelho tomara que caia e bota de cano longo preto acima do joelho, que se prostituía com outra amiga num ponto de ônibus da 508, ao perceber que a equipe de reportagem ; que se deslocava em carro descaracterizado ; não estava ali para mais um programa, respondeu curta e agressivamente: ;Desocupa a moita. Eu tô perdendo cliente com essa conversa;. E ordenou, em tom de intimidação: ;Vaza, vaza, vaza...; Havia uma fila de carros, com pisca-alerta aceso, esperando a loira fatal. Ela se aproxima do primeiro motorista. Abaixa-se para falar com ele, que traz mais um rapaz no banco do carona. Insinua-se. Deixa o colo bem à mostra para os dois. Um deles apalpa o corpo da moça. Em menos de cinco minutos, o programa é acertado. Ela entra e parte. Um gari, que varre a região, assiste impassível à cena. Seus olhos já não mais se espantam com nada. A madrugada segue. Depois das 23h30, quando o lugar começa a ficar mais vazio, elas dominam as paradas. Às vezes, juntam-se cinco, seis moças. Noutras, duas. Depende da afinidade e do tempo de rua que cada uma tem. Há uma hierarquia inquebrantável entre as prostitutas. Aquela que ousa desobedecer não será perdoada. Pode até ser expulsa da região. Há um cheiro de sexo impregnado em toda a Avenida W3 Norte. Principalmente quando a madrugada avança. É o clamor do ;pecado; trazido pelas moças de microvestidos, minissaias e shorts bem curtos ; independentemente se na madrugada faz frio ou calor. Sentam-se nos pontos de ônibus. Cruzam as pernas. Jogam os cabelos. Retocam a maquiagem. Ajeitam um ou outro detalhe na roupa sensual. Estão prontas para a luta. Ao primeiro contato, a conversa é seca e concreta. A moça se aproxima e diz, sem meias palavras: ;O programa é 80 (reais) no meu ambiente (705 Norte) ou 40 no carro;. No seu ambiente? ;Sim, eu atendo num apartamento aqui perto (quitinetes das quadras 700);, responde a moça. E logo se apressa, completando o pacote: ;Esse preço é pra sexo oral e vaginal. Posso até fazer anal, mas tudo com camisinha;. Quem esclarece é uma moça loira de tintura, 39 anos, evangélica (sim, caro leitor, ela foi criada dentro da igreja), 1,68m e 53kg, experiente no andar e falar, metida num vestido vermelho de renda e salto alto. O nome dela? ;Pode me chamar de Carlinha. Mas alguns me chamam de Joelma. Dizem que eu pareço com a cantora da banda Calypso.; Carlinha, ou Joelma, é maranhense de Bacabal. Diz que morou também em Teresina, antes de se mudar para Brasília. ;Eu era enfermeira e ganhava muito pouco. Tô na rua há nove meses e aqui faturo bem mais.; A prostituta reflete: ;Quando a gente se acostuma a ganhar muito não consegue viver com pouco. Vira vício;. A moça de vestido de renda revela que tem duas filhas ; uma de 18 e outra de 9 anos. ;A mais velha tá com o pai, em Rondônia. A mais nova mora com minha mãe, em Taguatinga.; É a justificativa que dez em cada dez prostitutas usam para explicar por que ganham dinheiro vendendo sexo: ;Tô aqui pra não deixar faltar nada em casa;. Todos os tipos Além da rua, a maranhense anuncia em sites. ;Cheguei a ganhar, num mês, R$ 9 mil. Fui até Portugal. Na rua, quando a menina trabalha bem, pode ganhar até R$ 500 por noite;, ensina a vivida prostituta. E conta uma preferência: ;Gosto de atender executivos em hotéis. É mais seguro. Eles pagam bem e não criam confusão;. Na rua, entretanto, não tem muita escolha. ;Aqui vem de tudo. Tem médico, político, delegado, advogado, traficante. São homens casados. Não pergunto, mas eles me contam. Só quero ganhar o meu dinheiro;, determina-se. Sobre as preferências sexuais dos clientes, a profissional é lacônica: ;Ah, meu filho, tem todo tipo de tara...Tem homem que adora vestir minhas calcinhas...; Carlinha divide o apartamento onde atende os clientes com Alana ; de 1,57m e 52kg, a morena bonita do começo desta história que na época da Queen;s ainda brincava de boneca. Alana é tímida. Lembra, ainda, uma garota ingênua, mesmo com a vida que resolveu seguir. A moça ; que trancou a faculdade no primeiro semestre de marketing, numa instituição particular ; conta que era vendedora de loja. ;Mas como tenho uma filha pra sustentar, parei aqui.; E decreta: ;Faço apenas pelo dinheiro. Vou juntar o que puder e sair em um ano;. Como vendedora, a moça diz que ganhava cerca de R$ 800. ;Na rua, faturo, livre de tudo, mais de R$ 3 mil;. Ela também atende em site. ;Os que me xingam à noite, quando tô na rua, me procuram de dia, no site. Já fiz 20 programas em menos de 12 horas;, cronometra, orgulhosa. Vinte? Indago, perplexo. Ela responde, com naturalidade: ;Muitos só querem conversar. A gente vira psicóloga;. Mas há coisas bizarras também: ;Uma vez um cliente pediu pra eu defecar em cima dele. Não faria por dinheiro nenhum;, conta, com repugnância. Pergunto se, depois de um programa, ela não se sente mal, se pensa na filha. Ela me olha com certa compaixão e responde, com sinceridade impressionante: ;Na primeira vez, foi ;vergonhoso;. Hoje, tomo um banho, retoco a maquiagem e volto pra rua. A gente se fecha. Só pensa no lucro;. Sobre a filha de 2 anos, planos: ;Quero pra ela tudo que não tive;. E planeja, romanticamente: ;Quando sair da rua, vou me casar e ter minha família;. E drogas, existem no meio das moças da W3? Carlinha jura que nunca usou. ;Minha viagem é outra. Basta uma cervejinha.; Alana vai além: ;Tem muita droga. Em todo lugar rola. Nunca usei, nem quero usar, mas tem menina que tá aqui só pra sustentar o vício;.
FRASES Quando a gente se acostuma a ganhar muito não consegue viver com pouco. Vira vício Carlinha, ou Joelma, 39 anos Na primeira vez, foi ;vergonhoso;. Hoje, eu tomo um banho, retoco a maquiagem e volto pra rua Alana, 22 anos O fim da linha é ver meus filhos passando fome. Não quero que nenhum deles tenha que vir pra rua, como eu Sandra, 33 anos Pago 30 reais pra ele (segurança), por noite. Tem menina que se submete a ser mandada por cafetina e gigolô. Eu, não Débora, 33 anos
Em meio à batalha, leitura e segurança Sexta-feira e sábado são os melhores dias para as meninas da W3 Norte. Numa das paradas, encontramos uma moça de pele bem clara, pernas grossas, usando um vestido vermelho, do mesmo comprimento de uma minissaia. A moça que se diz chamar Débora, de 33 anos (em tempo: prostitutas nunca dizem os nomes verdadeiros. E nunca, em momento algum, revelam sobrenomes), fala que está naquela parada da 503 Norte há três anos. O ponto é dela. Nunca o divide com nenhuma outra prostituta. ;Tenho direitos. Cheguei primeiro e conquistei meu espaço;, gaba-se. A moça conta que nasceu em Mato Grosso do Sul, casou-se, pariu três filhos, mora em Sobradinho, foi professora de informática, secretária e garçonete. ;Aqui eu ganho mais. Sou mãe e pai;, justifica-se. Cobra R$ 60 em hotel (uma pousada-motel na 712 Norte, onde a maioria das prostitutas leva seus clientes), e R$ 40 no carro. ;Só faço vaginal e oral. E os dois com camisinha. Nem adianta pedir sem;, jura e jura. Enquanto espera pelos clientes, a moça escolhe os livros que levará pra ler em casa. Livros? Todos os pontos de ônibus da avenida ganharam estantes com livros. O usuário do transporte coletivo pode levar qualquer obra pra casa, ler e devolver. Assim também como pode doar. É o projeto Parada Cultural. Débora virou leitora cativa. Já pegou As brumas de Avalon e As Mil e uma noites. Confessa até ter se emocionado com as obras. Segura de si e do espaço que ocupa, Débora inovou. Está sempre acompanhada por um segurança. ;É um amigo que trago de Sobradinho;, conta. Para não espantar a clientela, o rapaz, um moreno forte de 30 anos, fica escondido atrás da parada. ;Pago 30 reais pra ele, por noite. Tem menina que se submete a ser mandada por cafetina e gigolô. Eu, não;, ela bate o pé. O moço confirma. ;Tem muito cara mal encarado. Ela precisa tá protegida.; A vida na rua tornou Débora muito prática: ;Meu programa no carro dura 30 minutos. É tempo demais, até. Se o cara não gozar, eu desço onde estiver e vou embora. Ele que se vire como quiser;. Cena comum é ver, altas madrugadas, moças de pernas cruzadas, sentadas nos pontos de ônibus, manuseando livros com pompa de intelectual, como a loira Angélica, que, na madrugada de sexta-feira, na 504/505 Norte, folheava uma obra de Érico Verissimo. ;É o escritor que mais gosto;, confidencia. E não estica muito a conversa. Ali é local de trabalho. Direta, a moça da parada diz a que veio: ;Só atendo no meu local (quitinete na 705) e cobro R$ 60. Não faço nada no carro. Não preciso me expor tanto;. Vida pessoal O Correio continuou andando pela W3 Norte e observando suas meninas. Em cada parada, uma história. Várias histórias. Na 506 Norte, uma moça loira que fumava um cigarro vestia minissaia e descansava os pés dos sapatos de salto no colo de outra amiga, não aceitou muita conversa. Quando soube que aquele carro que dela se aproximava não era um convite para um programa, logo na primeira pergunta, disparou: ;As minhas histórias dizem respeito só a mim. Tô aqui trabalhando. Se quiser que eu fale, só pagar cachê. Sou tipo artista;. Em seguida, um Golf prata parou pra elas. A loira que não comenta a vida pessoal logo se ajeitou. Calçou as sandálias. Ajeitou a microssaia. Ela e a companheira de noite entraram no carro. As histórias daquela moça de fato só interessam a ela. No fim da Asa Norte, na 715, uma moça sozinha espera mais um cliente. Passa das 2h da madrugada. A avenida está deserta. Sandra, 33, paranaense, nos revela que tem quatro filhos. ;Um menino de 17 anos e três meninas de 15, 13 e 10 anos.; E o pai? ;Sou separada e ele não me ajuda em nada;, explica. A moça que não se veste de forma provocante ; está de jeans e casaco do mesmo tipo ; revela: ;Pra ser p...não precisa ser vulgar;. Indago se ela tem ideia de quanto tempo ainda ficará vendendo sexo pelas ruas. ;Não quero completar 50 anos nessa vida;, calcula a moça que sonhava ser veterinária. Pergunto se posso lhe fazer um questionamento muito pessoal e que nada tem a ver com juízo de valor, mas com simples constatação. ;Não tenho medo de responder nada;, ela me devolve. Quero saber se estar ali, numa parada de ônibus, trocando sexo por dinheiro, não seria o fim da linha para qualquer ser humano. A moça me fita e diz, sem hesitar: ;O fim da linha é ver meus filhos passando fome. Não quero que nenhum deles tenha que vir pra rua, como eu;. Sandra diz aos filhos que trabalha num supermercado 24 horas. ;Eles acreditam;, conta. Exausta, espera o primeiro ônibus passar e segue para Taguatinga, depois que termina a madrugada. ;Às vezes, pego uma carona.; Enquanto conversa com a reportagem, um Corolla passa e para no ponto. Chama-a. Ela vai até o carro e diz, da janela, desaforos para o motorista. O homem arranca, cantando pneu. Indignada, ela explica: ;Esse cara, na semana passada, saiu comigo e não pagou o programa. Ainda tem a cara de pau de querer de novo hoje;. O dia vai amanhecer. A madrugada termina. A escuridão começa a cessar. Os pontos de ônibus ; locais de embarque e desembarque de sexo, mentira e fantasia ; ficam cada vez mais vazios. Restam silêncio, solidão e os livros, agora sem suas leitoras da noite. Os garis sumiram. As meninas já se recolheram. Carlinha não está mais ali. Nem Sandra. Nem Débora. Nem Angélica. Nem Alana a garota de programa mais bonita da região... Hoje à noite, porém, todas elas voltarão à luta. As histórias vão continuar. A Avenida W3 Norte voltará a ter o cheiro de sexo. E a vida, a despeito de todos que fingem não enxergar aquelas moças, vai prosseguir. E pensar que tudo começou num subsolo, na Trezentos e Queen;s...
ARTIGO Mercado do sexo Vicente Faleiros A prostituição pode ser vista tanto como falha moral, como opção de trabalho, ou escravidão. O moralismo culpa e reprime. A opção é valorizada por várias/vários profissionais do sexo, mas muitos relatos afirmam a falta de opção diante da pobreza, do abandono, da violência familiar e social, da falta de escolarização e de oportunidades. É um fenômeno diversificado e relacionado à mercantilização do corpo, seja feito por conta própria, seja em rede comercial, pois o corpo é usado e exposto como uma mercadoria, seja nas ruas, nas paradas de ônibus ou mesmo em vitrines. A violência social e sexual da prostituição pode estar mascarada pelo prazer, satisfação ou ganho monetário. Está sujeita a tráfico, a chantagens, condições humilhantes e cobranças extorsivas e pode ser exercida como programa, como acompanhante, em apartamentos, boates, bordéis, saunas e clubes, via telefone ou internet ou como serviços na rua, estes mutáveis conforme as exigências e controle da polícia e interesses políticos. A prostituta é desvalorizada, não raro chamada de cachorra, cadela, vagabunda ou sem-vergonha. A rede da prostituição é, na maioria das vezes, invisível, podendo envolver o crime organizado, com operadores de aparente vida comum. As/os profissionais do sexo, portanto, podem ser explorados/das por vários agentes ao mesmo tempo, como cafetões ou rufiões que o Dicionário Houaiss chama de ;indivíduo que vive à custa de mulher pública, a quem simula proteger; gigolô, proxeneta, intermediário entre amantes; alcoviteiro;. O estigma aplicado a ;mulher pública; não existe para ;homem público;, numa clara discriminação do gênero feminino. Para se enfrentar essa questão também existem formas diferentes de política. A abolicionista propõe erradicar totalmente essa prestação de serviços, inclusive pela repressão. A regulacionista estabelece normas trabalhistas, educativas e sanitárias para profissionais do sexo e medidas educativas junto aos clientes. A posição do laissez-faire supõe que o mercado atue livremente. No Brasil, o exercício da prostituição de adultos é permitido, mas são criminalizados seu favorecimento, o tráfico, a casa de prostituição, o rufianismo, ou seja, transformar o corpo em objeto de lucro de outrem. Na ótica dos direitos humanos, é fundamental considerar que tanto os/as profissionais do sexo como os clientes e a população precisam olhar para a dignidade das pessoas e também ser olhados e respeitados como sujeitos de direitos e lembrar que a exploração sexual de crianças e adolescentes é crime, ferindo profundamente tanto a dignidade humana como a integridade física e psicológica dessa população. Vicente Faleiros é assistente social, doutor em sociologia e professor universitário