Jornal Correio Braziliense

Cidades

Capitão andarilho é atração no trânsito da BR-040

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É muito cheiroso, o Capitão. Bem-vestido como o quê. Ele mesmo lava, passa e engoma sua fatiota e engraxa as quatro botas número 40 (de cano longo abaixo do joelho). Banha-se de perfume e veste-se de vaqueiro. Põe o cordão com a medalha de honra ao mérito do Sesc/DF, o outro com os três apitos, a bandoleira, o cinto de caubói, o canivete, o chaveiro e vai para um dos cruzamentos do Núcleo Bandeirante com a BR-040. Faz de conta que está ordenando o trânsito, apita, levanta a mão esquerda, aponta para quem eventualmente está atrapalhando a corredeira no asfalto e responde aos sucessivos cumprimentos dos motoristas. É uma festa a presença do Capitão no cruzamento do Bandeirante. Buzinam os à paisana e os fardados, os motoristas de ônibus e o da viatura do Corpo de Bombeiros, o policial civil e o militar. Dão duas buzinadinhas de leve, esticam o braço para fora do carro, acenam, levantam o polegar e alguns batem continência ao que o Capitão responde com solenidade militar. Sabe de muita coisa, o Capitão que tem por nome Sebastião Severiano, filho de José Custódio Severiano e Geralda Gonçalves de Oliveira, nascido em Visconde do Rio Branco, Minas Gerais, em 25 de janeiro de 1934. Estudou pouco, até o segundo ano, ele diz. Conta que não se casou, não teve filhos e que se amasiou pelaí. O Capitão saboreia a vida como se ela fosse ;uma margarina num pão doce;, diz com expressão de muito gosto. ;Se tiver uma distinta perto da gente, é melhor ainda;, ressalta, agora com expressão de malícia masculina. Ele conta que servia no Exército, em Juiz de Fora (MG), quando teria sido convocado para impedir a explosão de três bombas na ponte do Rio Paraibuna, na divisa de Minas com o Rio de Janeiro. Na memória do Capitão, a destruição da ponte fazia parte de um plano para impedir a transferência da capital para Brasília. A operação militar foi bem-sucedida, conta. Desde então, ele vive em Brasília. São muitas as aventuras que diz ter vivido, mas não se sabe com certeza onde terminam os acontecimentos reais e onde começam as invenções da imaginação. Diz que serviu no Rio de Janeiro, no Rio Grande do Sul, no Paraná, em Mato Grosso do Sul e em Rondônia. Repete, de cor, nome de bairros do Rio de Janeiro e de municípios dos demais estados. Do Rio: ;São João de Meriti, Belford Roxo, Pavuna, Del Castilo, Engenho de Dentro, Cascadura, Engenho Novo, Madureira, Campo Grande, Santa Cruz, Deodoro;, repete, num só fôlego. Depois, declama nomes de lugares de Rondônia por onde passou: ;Vilhena , Marco Rondon, Pimenta, Cacoal , São Mateus, Presidente Médici, Ji-Paraná, Ouro Preto (do Oeste), Jaru, Seringau 70, Garapeira, Cajazeira, Nova Vida, Porto Velho;. A maioria é município do estado. Sebastião Severiano vive no Lar dos Velhinhos Maria Madalena, o maior abrigo filantrópico do Distrito Federal. É um interno atípico. O mais falante, o mais colorido, o mais altivo, o que dá mais trabalho e o único que sai todos os dias, de segunda a sexta-feira. Pega a autorização e ganha a liberdade. Deixa para trás a grande maioria dos 109 idosos, com idades entre 60 e 106 anos, a maioria deles tomados por uma apatia paralisante. Leia a matéria completa na edição impressa do Correio Braziliense