Jornal Correio Braziliense

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Distúrbios do sono atingem metade da população mundial, mas ainda são desconsiderados por muitos médicos

No DF, há cinco laboratórios ; apenas um público ; dedicados a diagnosticar esses problemas

Tadeu Osmala costumava passar o dia inteiro cansado, com sono, sem entender por quê. A mulher dele reclamava toda manhã dos roncos do marido e alertava o funcionário público de 53 anos sobre as várias vezes em que ele havia tido falta de ar durante a noite. Os sintomas indicavam que Tadeu poderia sofrer de algum distúrbio do sono, mas o problema só foi descoberto depois que seu cardiologista o encaminhou para fazer uma polissonografia. O exame, que registra a atividade cerebral, muscular e respiratória enquanto o paciente dorme, indicou a existência de apneia do sono, doença que acomete 4% da população mundial de 30 a 60 anos. A apneia, uma obstrução parcial ou total da faringe, dificulta a respiração durante o sono e pode causar problemas circulatórios. É apenas um dos inúmeros distúrbios que podem levar à depressão ou à dependência química e provocar de acidentes de trânsito a prejuízos à memória. Metade da população mundial sofre com distúrbios do sono, alerta a mestre em medicina do sono Ana Paula Megale Hecksher, mas nem a comunidade médica atentou para a importância do assunto. ;Os médicos só estão se informando agora;, critica o professor Carlos Alberto Viegas, coordenador do Laboratório do Sono do Hospital Universitário de Brasília (HUB). Segundo Viegas, 40% dos pacientes que apresentam pressão arterial alta enfrentam essa condição por causa de distúrbios do sono. ;Tem muito cardiologista que não sabe disso. Como é que eles vão tratar a causa se não a conhecem?;, questiona o professor, que lembra que nós dormimos um terço de nossas vidas. ;É o sono que nos prepara do ponto de vista físico e psíquico;, completa. As dificuldades de sono podem ser motivadas por diversos fatores, desde a condição física do paciente até alterações neurológicas. O assunto ainda é novo na área médica, mas abrange diversas especialidades. Trabalham com medicina do sono profissionais de psiquiatria, pneumologia, neurologia e otorrinolaringologia, mas a área também envolve odontologistas, fisioterapeutas, psicólogos, fonoaudiólogos e profissionais de educação física. Defasagem O Brasil conta com apenas três laboratórios do sono públicos, um deles no HUB. O serviço do hospital é pioneiro no país (inaugurado na década de 1980), mas perdeu prestígio com o passar dos anos. A falta de dinheiro e o desgaste dos equipamentos periféricos (eletrodos, câmeras e sensores) diminuíram os atendimentos de quatro para um por dia. Neste mês, o HUB ainda atende pacientes da lista do ano passado. Mais informações podem ser obtidas pelo telefone 3448-8596. Além do laboratório da universidade, a cidade tem quatro clínicas particulares certificadas pela Associação Brasileira do Sono. O site da entidade é Quem passar o dia cansado ou com sono e tiver problemas para se concentrar deve fazer como o contador Urley Antônio Nunes Carvalho, 29, que procurou um laboratório do sono. Urley era tido como indolente na adolescência, porque passava a maior parte do dia sonolento. O contador sofreu 11 anos com essa condição, até conhecer o serviço do HUB e descobrir que tinha narcolepsia. ;Eu costumava dormir de uma hora para a outra, no meio da rua;, lembra. Uma vez, o rapaz caiu no sono enquanto caminhava. No HUB, Urley encontrou outros narcolépticos e começou a tratar seu distúrbio em grupo. O contador tomou remédios para se tratar e, instruído pelos médicos, modificou hábitos. ;Passei a dar mais valor ao meu sono, dormir mais cedo. Também aviso a todos com quem convivo sobre minha condição. Todo mundo colabora;, diz. O tratamento de Urley não é barato, a exemplo de outras terapias para distúrbios do sono. Os exames periódicos que ele precisa fazer custam em torno de R$ 500. No caso da apneia, o preço de um aparelho para ajudar a dormir pode chegar a R$ 3 mil. Tadeu Osmala, que desenvolveu o distúrbio como consequência da obesidade, terá de dormir com o aparelho até emagrecer.

O que você faz quando não consegue dormir? Gabriela Silva, 21 anos, pedagoga "Costumo tomar calmantes. Em tempos de tensão, já passei até dez dias sem conseguir dormir. Minha mãe se trata de distúrbios de sono e eu pego escondido uns remédios dela." Conceição Borges, 47 anos, dona de casa "O melhor é tomar um chá. Pode ser de erva-cidreira, de capim santo, qualquer tipo funciona. É melhor tomar alguma coisa natural do que se entumir de remédios que podem fazer mal depois." Cláudio Ramalho Andrade, 34 anos, artista plástico "É preciso esquecer de tudo o que aconteceu no dia. Tentar relaxar. A insônia acontece quando a gente não consegue parar de pensar no que passou e no que ainda está por vir, no passado e no futuro." Luciana Batista, 26 anos, motorista "Tomar um banho costuma ajudar. Além disso, o ambiente do quarto tem que ser o melhor possível. Se tiver alguma coisa atrapalhando, vai ser difícil dormir mesmo.