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No Dia do Prefeito Comunitário, o Correio conta como é o trabalho dos guardiões das quadras

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Hoje é o dia daqueles que sempre sabem quando a grama da quadra está alta, o morador de certo bloco anda fazendo muito barulho ou a iluminação do parquinho está ruim. O Dia do Prefeito Comunitário é uma homenagem aos 107 prefeitos que atuam nas superquadras das asas Sul e Norte. Os protetores das quadras acompanham as reivindicações dos moradores e buscam soluções. O trabalho é voluntário e exige uma carga de paciência, mas eles juram que é recompensador. Os prefeitos do Plano Piloto serão recebidos amanhã em uma sessão solene na Câmara Legislativa, às 19h. Com cerca de 500 apartamentos e até mais de 2 mil habitantes cada, as superquadras do Plano Piloto são pequenas cidades dentro da capital. Com comércio próprio, escolas e milhares de pessoas convivendo no mesmo espaço, não faltam problemas. Ouvir reclamações por telefone a qualquer hora do dia ou da noite faz parte da rotina do técnico em informática Artur Benevides, 43 anos. O prefeito da 205 Sul recebe ligações de moradores para resolver todo tipo de problema. Desde o som alto em algum apartamento até discussões conjugais, passando pela falta de poda das árvores e retirada do lixo. E sem receber um centavo por isso. O que seria motivo de enxaqueca para muitos é a alegria de Artur Benevides, que está no terceiro mandato consecutivo na prefeitura. ;Para fazer isso, você tem que gostar muito. Porque prefeito só recebe duas coisas: trabalho e encrenca. Você vira psicólogo, engenheiro, um pouco de tudo para resolver os problemas;, disse. Artur Benevides mora na 205 Sul há 19 anos e já conhecia boa parte dos moradores e dos problemas da quadra quando foi eleito pela primeira vez, há seis anos. Depois de assumir o posto, dedicou-se à melhoria da sinalização dos prédios e da limpeza. Até hoje, os maiores desafios são manter as caçambas de lixo em ordem, as árvores bem podadas e a iluminação em dia. Ele se considera o ;xerifão; da 205 Sul ; não porque dá muitas ordens, mas porque abraça os problemas dos moradores e se empenha em controlá-los. A atual preocupação da prefeitura é com os puxadinhos no comércio, cuja regulamentação saiu este mês. Nenhum prédio da quadra conta com garagem subterrânea, então os estacionamentos já costumam ficar cheios boa parte do dia. Com o aumento das lojas, o prefeito teme que encontrar uma vaga fique ainda mais difícil. A rotina de Artur Benevides inclui idas e vindas aos órgãos públicos responsáveis por reformas, jardins e a limpeza do Plano Piloto, além das prestações de contas e atendimento aos moradores. ;As cobranças são maiores que os agradecimentos, mas é gratificante;, garante. Apoio Ele conta com o apoio da professora aposentada Mercês Miranda, 62 anos, a vice-prefeita da quadra. Mercês está sempre de olho na situação das calçadas, parquinhos e na nova quadra poliesportiva para ver se não há algum defeito. ;Nós somos a voz da quadra, levamos ao governo as reivindicações da comunidade. As pessoas sentem necessidade da prefeitura, até para ter de quem cobrar. É uma referência para os moradores;, comentou. Segundo ela, tem até gente que vigia os garis para saber se o lixo está sendo recolhido direito e liga para avisar quando há alguma falha. Fundação Antes de assumir o cargo na 205 Sul, Mercês participou da fundação da prefeitura da 216 Sul, na década de 1990. Ela também integra o Conselho Comunitário da Asa Sul, por isso acompanha os problemas de todas as quadras. Para Mercês, trabalhar pelo bem da quadra é uma maneira de manter a qualidade de vida de toda a vizinhança. ;Aqui podemos fazer nossa caminhada e levar as crianças para brincar no parque;, disse. Os prefeitos escutam as reclamações dos moradores e entram em contato com órgãos do governo para buscar soluções. Os prefeitos não têm poder de fiscalização nem salário e as prefeituras não recebem dinheiro público. Algumas delas recolhem contribuições mensais dos moradores para realizar pequenas reformas. Cada prefeitura tem as regras definidas por estatuto próprio e todo ano presta contas à Receita Federal. Até o ano passado, Mercês lidou com várias queixas sobre os frequentadores de um bar que funcionava em uma comercial próxima. Era som no meio da madrugada, estacionamentos lotados e uso de drogas perto dos prédios. ;Quando tinha barulho a noite toda, eram muitas reclamações;, lembrou. Barulho e vagas cheias são alguns dos problemas mais recorrentes para a prefeita da 204 Sul, Cleusa Joanna Bugni, 73 anos. Quando os restaurantes da quadra estão movimentados, os moradores têm dificuldade em estacionar. Na época do carnaval, nos dois dias em que o bloco Galinho de Brasília passa pelo local, o telefone de Cleusa volta a tocar. ;Os estacionamentos ficam cheios, sempre me ligam quando alguém não consegue entrar ou sair da quadra de carro;, afirmou. Há sete anos na prefeitura, Cleusa assumiu o posto por insistência da comunidade. A sua antecessora deixou o cargo e todos queriam que a funcionária pública aposentada tomasse conta da quadra. Já à frente da prefeitura, ela levou mais verde para a 204 Sul. Amante da natureza, Cleusa colocou plantas novas e costuma dar orientações ao jardineiro para que os gramados fiquem bem conservados. Nas caminhadas diárias, checa cada detalhe da quadra para se adiantar às reivindicações dos moradores. Ela juntou o dinheiro da prefeitura para reformar um parquinho e a quadra de esportes e não gosta quando flagra alguém depredando os bens públicos. ;Peço para os moradores preservarem a quadra porque aquilo é deles;, justificou. Apesar das confusões, ela garante que compensa trabalhar pela quadra onde mora há 30 anos. ;Aqui tem muita natureza, um bom comércio e foi onde criei meus filhos. Não tenho vontade de sair da quadra;, refletiu. Leia mais na edião impressa