As moradoras da capital do país frequentam o ginecologista com a mesma periodicidade que as de capitais de estados do Norte e do Nordeste, onde a população tem menos poder aquisitivo e acesso a serviços de saúde. Pesquisa do Ministério da Saúde divulgada ontem aponta que o Distrito Federal tem índices de cobertura de exames ginecológicos essenciais na prevenção ao câncer semelhantes a cidades como Maceió, Belém, Fortaleza, Manaus, Macapá e Rio Branco. O percentual de brasilienses maiores de 25 anos que fizeram o exame Papanicolau nos últimos três anos está empatado em segundo lugar ; entre os piores do Brasil ; com Fortaleza e Belém e só perde para Maceió. Na realização de mamografias, o DF aparece como 10º pior, mas só está na frente do Rio de Janeiro e de oito capitais nordestinas e nortistas.
Os dados são do Sistema de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel) 2008, uma pesquisa feita pelo Ministério da Saúde há três anos. O estudo, realizado por meio de entrevistas por telefone, traça um perfil da saúde do brasileiro, levando em consideração fatores de risco e proteção para doenças crônicas, responsáveis por 61% de todas as mortes do mundo. Ao todo, 2.013 brasilienses ; 822 homens e 1.191 mulheres ; responderam ao questionário, aplicado também nas demais capitais dos 26 estados brasileiros. Eles são usuários das redes pública e privada de saúde.
O Ministério da Saúde recomenda que todas as mulheres com idade entre 25 e 59 anos façam, a cada três anos, o Papanicolau (que analisa o colo do útero). O exame também deve ser feito por mulheres mais jovens que tenham vida sexual ativa. Entre as 54 mil brasileiras entrevistadas, 80,9% afirmaram ter feito o exame nos últimos três anos. Mas o índice cai para 74,8% no DF, o mesmo que o de Fortaleza e Belém, e para 72,9%, em Maceió, a última colocada. A maior cobertura, em São Paulo, Porto Alegre e Florianópolis, fica em torno de 90% (veja arte).
A realização de mamografias, recomendada para mulheres entre 50 e 69 anos uma vez a cada dois anos, também deixa a desejar na capital federal. A média nas 26 cidades pesquisadas é de 71%, mas apenas 66,3% das brasilienses na faixa etária de risco afirmaram ter feito o exame nos últimos dois anos. No ranking de piores capitais, o DF fica em 10º lugar com resultados melhores do que Rio de Janeiro (64,6%), Manaus (64,4%), João Pessoa (63,9%), Fortaleza (62,3%), Boa Vista (55,4%), Belém (55,1%), Macapá (53,5%), Rio Branco (51,1%) e Palmas (49,2%). Mais uma vez, a melhor cobertura é em capitais das regiões Sul e Sudeste, como Florianópolis, Vitória e Belo Horizonte.
Resultado preocupante
O Ministério da Saúde classificou a situação do DF como preocupante. ;Esse resultado não devia ser o esperado para a capital do país, que tem melhores recursos financeiros. O DF deveria ter dados mais próximos às capitais do Sul e do Sudeste e não os mesmos que cidades sem estrutura, como as do Norte e Nordeste;, avaliou a coordenadora-geral de Doenças e Agravos Não Transmissíveis do ministério, Deborah Malta.
Apesar do alerta, Deborah contou que os dados do DF não foram exatamente surpreendentes porque, em 2007, a capital do país também ficou abaixo da média nacional. Naquele ano, a cobertura de mamografias no DF foi de 68,8% (e a média do Brasil foi de 70,8%) e a de Papanicolau, 74,9% (enquanto o índice do resto do país foi de 82%). ;Esses números refletem uma pouca oferta nos serviços de saúde básica;, afirmou Deborah.
O coordenador de Ginecologia e Obstetrícia da Secretaria de Saúde, Avelar de Holanda Barbosa, reconheceu o problema e disse que o resultado do DF na pesquisa é ;vergonhoso;. ;O DF nunca pode ter cobertura igual à dos estados do Norte e do Nordeste. Aqui não falta dinheiro. Temos a melhor estrutura física do país, mas não temos os resultados esperados;, afirmou o médico. Segundo ele, há dois problemas na realização dos exames Papanicolau: a falta de citologistas, para avaliar o material colhido pelos ginecologistas nos postos de saúde, e de material básico, como lâminas e espátulas.
Avelar ressaltou que a secretaria está ciente do problema e tem trabalhado para melhorar a cobertura dos exames. ;Vamos voltar a centralizar os citologistas em um centro, porque não há profissionais suficientes para atender cada regional de saúde separadamente;, disse. Além disso, a secretaria mudou a forma de fazer licitações para a compra de materiais há seis meses. Agora, grandes quantidades são licitadas e o fornecimento do material é feito aos poucos. Em relação às mamografias, o problema era a falta de mamógrafos. ;Até cinco anos atrás, apenas o Hospital de Base tinha um mamógrafo;, disse. Atualmente, 10 equipamentos estão em funcionamento nos hospitais do DF e uma licitação está em andamento para a compra de mais 10 aparelhos.
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