A polícia conseguiu evitar duas grandes confusões na Escola Parque da 307/308 Sul. A primeira foi na última sexta-feira, quando cerca de 30 adolescentes, com pedaços de cano e chinelos em mãos, tentaram invadir a escola para bater em alunos. Durante 10 minutos, até a chegada dos policiais, a porteira de 48 anos ouviu ameaças e viveu momentos de pânico enquanto se esforçava para manter o portão do colégio fechado. Ontem, quando a promessa era de que o grupo voltaria para acertar as contas com estudantes da Escola Parque, a presença do Batalhão Escolar e até do Batalhão de Operações Especiais (Bope) da Polícia Militar inibiu a ação.
O motivo das confusões evitadas ninguém sabe dizer ao certo. ;Não precisa de motivo, não, moço. Aqui briga por qualquer coisa;, disse um dos alunos, em frente à escola. Estudantes da 307/308 acusam alunos da escola do Parque da Cidade, o Proem (Promoção Educativa do Menor), de roubarem nas proximidades do colégio. Os adolescentes que provocaram a arruaça na última sexta seriam alunos do Proem. Alguns contaram que a rixa começou depois que um aluno da Escola Parque resolveu revidar um suposto roubo cometido por um estudante do Proem. Outro grupo disse que a confusão é ;coisa normal;. ;Foi porque um daqui xingou eles de lá. É assim;, tentou explicar.
A diretora da Escola Parque 307/308 Sul, Delaine Veras, não quis falar com o Correio e tentou evitar que a porteira Maria Aparecida de Jesus falasse. ;Mas eu vou falar. Quem ficou aqui no desespero foi eu, quem correu o risco de ser pisoteada foi eu. Passei mal o fim de semana inteiro, com medo desses meninos;, desabafou Aparecida. Era por volta das 18h de sexta, quando o sinal tocou para os alunos saírem. ;De repente, eles vieram, eram uns 30. Queriam pegar a escola inteira, perguntavam onde estavam os ;machões; e disseram que iam matar todo mundo;, lembrou a porteira.
Segundo relatos de Aparecida e de alunos da escola, houve correria. Os mais novos choravam, sem saber o que estava ocorrendo. Quem saiu antes de o sinal tocar teria levado socos e pontapés perto da parada de ônibus, na W3. A direção chamou a polícia, que conseguiu chegar a tempo de evitar a invasão. Ontem à tarde, o clima na escola era de medo. Os alunos diziam que o grupo prometera voltar. Policiais a pé, de moto e nos carros faziam ronda pela quadra. Às margens da W3, um grupo de alunos do Proem foi revistado. Os policiais não encontram nada suspeito com eles.
Assalto
Pouco antes, um adolescente de 15 anos que voltava do curso de inglês havia sido roubado em frente à Escola Parque da 307/308. Levaram a mochila e o tênis Nike. ;Ele está em casa, chorando muito. Disse que não quer mais voltar para a aula de inglês;, contou o pai da vítima, um servidor público de 42 anos que preferiu não ser identificado. Na hora da saída, a diretora da Escola Parque ajudou a dispersar os alunos de frente do colégio e, mais uma vez, não quis conversar com o Correio. A doméstica Maria Vila Nova, 46 anos, pediu que a filha, de 11 anos, esperasse dentro da escola. ;Vi toda a confusão na sexta. Fiquei com medo. Esses meninos não querem nem saber, pegam qualquer um;, disse.
O Correio ouviu a diretora e o vice-diretor do Proem. O colégio, localizado no Parque da Cidade, tem a missão de promover a reinserção escolar e social de adolescentes em situação de risco. Os dois sabiam da confusão da última sexta, mas disseram não acreditar que alunos do Proem estejam envolvidos. ;Qualquer coisa que acontece de ruim, já falam logo que são nossos alunos. Não vou dizer que eles não fazem arruaça, mas também não é assim;, comentou a diretora Maria dos Anjos. O vice-diretor, Isaac de Souza, informou que hoje conversaria com os alunos sobre o episódio.
Memória
Ciclo de tensão
Em setembro do ano passado, cerca de 30 meninos, com pedaços de ferro e paus, foram ao parquinho da 106 Sul agredir um adolescente. A briga, que envolvia grupos rivais do Centro de Ensino Fundamental 1 (103 Sul) e 3 (106 Sul), também foi impedida pela polícia. A confusão ocorreu porque um aluno de uma escola teria esbarrado na namorada de outro da outra escola. Estudantes dos dois colégios se encontram duas vezes por semana na Escola Parque 307/308 Sul para aulas de artes e educação física. Naquela mesma semana, quando os protagonistas da briga se reencontrariam na Escola Parque, a PM armou um esquema de segurança para garantir a tranquilidade. Os brigões foram suspensos e transferidos. Os diretores classificaram o caso como um ;fato isolado;.
Em julho de 2006, um grupo de 20 meninas, a maioria do Centro de Ensino Fundamental 3, cercou a saída do CEF 2, na 106 Sul. O alvo era uma aluna de 13 anos que teria beijado o ex-namorado de uma das agressoras. O pior só não aconteceu porque a adolescente havia faltado à aula. Antes da ação, a menina foi ameaçada no Orkut, site de relacionamentos na internet.