Para os que passam apressados todos os dias pela Rodoviária do Plano Piloto, a presença deles é quase imperceptível. Mas após 84 horas de paralisação dos servidores de limpeza, não há quem fique indiferente. Do alto da plataforma dava para avistar o resultado de três dias e meio de greve. Apesar do menor movimento, por causa do fim de semana, a sujeira estava por todos os lados: nas escadas, no piso dos passageiros e no asfalto. ;É nessas horas que a gente vê como faz falta o serviço de limpeza;, observou o bancário Fernando Nóbrega, 47 anos, que passava, na manhã de ontem, pelo centro da cidade para comprar o presente de aniversário da filha. ;Além disso, dá para notar como o brasiliense ainda carece de cidadania. As pessoas jogam o lixo no meio da rua sem a menor cerimônia;, completou a mulher de Fernando, Penélope Nóbrega, 46.
Além do aspecto, o lixo acumulado ainda incomodava os passageiros com o cheiro forte e a presença de moscas. ;É um absurdo que a situação fique desse jeito;, lamentou a doméstica Rita de Cássia, de 32 anos. O serviço de limpeza da Rodoviária e de outros públicos é feito por servidores terceirizados que pararam na quarta-feira à noite em busca de reajuste no salário e no vale alimentação. No primeiro dia, o aumento salarial pretendido era de 30%. O percentual caiu para 12% após uma assembleia na última quinta-feira. ;Para o vale-refeição, queremos que suba de R$ 6,25 para R$ 10. Ninguém almoça com menos que isso;, observa a presidente do Sindicato dos Empregados das Empresas de Asseio e Conservação de Serviços Terceirizados (Sindserviços), Maria Isabel Caetano dos Reis.
Chão sujo e lixeiras transbordando também incomodaram quem passou pela Rodoferroviária de Brasília. ;Quem chega aqui para conhecer a cidade ou visitar um parente deve ter vontade de pegar outro ônibus e ir embora;, provocou a professora Luciana Peres. ;É um absurdo que a sujeira acumule desse jeito.;
De acordo com Maria Isabel, até ontem, a adesão era de 10 mil dos 30 mil servidores terceirizados do Governo do Distrito Federal (GDF). ;Nossa remuneração é de R$ 456, menos do que o salário mínimo (R$ 465) e recebemos um abono de R$ 6 para chegar ao mínimo. Isso está longe de ser digno;, observa. Segundo a diretoria jurídica do Sindserviços, após os descontos da Previdência Social e da contrapartida do vale transporte, o salário líquido cai para R$ 395.
Locais como delegacias, hospitais públicos, escolas e fóruns também foram afetados com a paralisação de serviços, como manutenção e limpeza. Apesar disso, serviços de transporte, saúde e segurança não pararam. O GDF optou por não interferir nas negociações apenas advertiu às empresas para que busquem uma solução rápida. Caso isso não aconteça, de acordo com a assessoria de imprensa do governo, os contratos com as empresas terceirizadas podem ser desfeitos. Para garantir serviços básicos, como o atendimento em hospitais, foram convocados funcionários do Serviço de Limpeza Urbana (SLU).
O sindicato patronal foi procurado sem sucesso pela reportagem ontem para comentar o problema. Até sexta-feira, a contraproposta apresentada não convencia os grevistas. O Sindicato das Empresas de Asseio e Conservação (Seac) ofereceu reajuste de 6% e R$ 7 de auxílio alimentação. Um acordo com os patrões pode ocorrer amanhã em uma audiência de conciliação na Justiça trabalhista às 11h.
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