O número de casos de câncer de intestino registrados no Brasil tem aumentado, graças, em parte, ao desconhecimento da população brasileira sobre o assunto. Só no ano passado, segundo estimativas do Instituto Nacional do Câncer (Inca), mais de 27 mil pessoas foram acometidas por esse tipo de tumor no Brasil (360 delas no Distrito Federal), uma taxa de incidência alta em comparação com outros tumores, como os de esôfago ou fÃgado. Atualmente, o câncer de intestino é a terceira causa mais comum da doença no mundo e a quarta com maior incidência no Brasil. Para reverter esse quadro, a Associação Brasileira de Prevenção ao Câncer de Intestino (Abrapreci) e a Associação Brasileira do Câncer (ABCâncer) realizam há três anos a campanha Laços de Esperança, que pretende conscientizar a população brasileira sobre o assunto.
A prevenção é o foco principal da campanha, realizada simultaneamente em oito capitais brasileiras (informações pelo site www.lacosdeesperanca.com.br). Se o tumor for identificado na fase de pólipo ; lesão benigna que dá origem ao câncer ;, a doença não se desenvolve. ;O pólipo demora em média 10 anos para se transformar em um tumor maligno. Quando encontrado, ele é ressecado e o câncer não se manifesta;, explica o cirurgião Guilherme São Julião, que instruiu os brasilienses que passaram pelo posto da campanha montado ontem no shopping Pátio Brasil. Os cânceres de intestino e de colo de útero são os únicos que apresentam uma lesão pré-maligna, que permite a detecção precoce.
O câncer de intestino é mais comum em pessoas maiores de 50 anos, mas as chances de desenvolver o tumor de cólon/reto, como ele também é conhecido, aumentam a partir dos 40 anos. Hábitos alimentares ruins, tabagismo e sedentarismo são apontados pelos médicos como as maiores causas da doença. Quem tem parentes que enfrentaram o câncer precisa tomar mais cuidado. ;Aqueles que possuem histórico familiar de câncer de intestino, mama, endométrio ou ovário devem buscar orientação médica;, aconselha o oncologista Murilo Buso, do Hospital Universitário de BrasÃlia (HUB).
É o caso da operadora de hipermercado Joana Cristina Elói de Carvalho, de 23 anos. A mãe de Joana morreu há 12 anos de câncer de intestino, depois de passar um ano internada do Hospital de Base. Dois tios da operadora de hipermercado também foram vÃtimas de cânceres (um de próstata e outro de garganta), e duas de suas tias vão retirar nódulos benignos do peito nos próximos dias. ;Tenho medo por causa desse histórico, por isso faço mamografias anualmente;, conta Joana, que estava atrás de informações sobre a melhor alimentação para evitar a doença. Grávida de três meses, ela tem dificuldade para comer, por causa de enjoos.
Segundo a nutricionista Ronylma Lacerda, o consumo de fibras, encontradas em frutas e cereais, pode prevenir a doença. ;São recomendadas três porções de fruta por dia, mas também é bom beber de oito a dez copos de água diariamente, para ajudar na digestão dessas fibras;, comenta. Ronylma explica que a alimentação do brasileiro é rica em gordura animal (carne e derivados do leite), o que favorece o desenvolvimento de cânceres. PaÃses cuja população adotou uma dieta ocidental têm maior incidência da doença. ;Tratar câncer é muito mais do que aplicar quimioterapia ou fazer cirurgia. É preciso desmistificar a doença. Ela é grave, mas pode ser enfrentada;, avisa o oncologista Murilo Buso.
Exame
O pólipo pode ser identificado por um exame simples de sangue oculto nas fezes. O teste identifica quantidades microscópicas de sangue que geralmente saem desses tumores benignos. Quando o exame dá positivo, o paciente deve fazer uma colonoscopia (similar à endoscopia), em que é introduzida uma câmera através do ânus até o intestino, para identificar o sangramento ; que também pode ser proveniente de hemorróidas ou fissuras.
Caso o tumor seja diagnosticado somente em sua fase maligna, também há possibilidade de cura. O medicamento bevacizumabe está entre os anticorpos monoclonais que impedem os tumores de se desenvolver sem prejudicar as células saudáveis (veja ilustração). No pior dos casos, quando o câncer é descoberto em fase avançada, ainda é possÃvel estender a vida do paciente em até dois anos. Os sintomas que indicam a existência de um tumor no intestino são sangramento anal, dor abdominal difusa (em pontos diversos) e alteração do hábito intestinal.
Março é o mês mundial de conscientização sobre o câncer do intestino. ;Começamos esse trabalho em 2004, graças à vontade de alguns médicos de divulgar a doença o máximo possÃvel;, lembra Angelita Gama, presidente da Abrapreci.
Ãudio: entrevistas com o cirurgião Guilherme São Julião sobre as formas de prevenção do câncer de intestino e com a nutricionista Ronylma Lacerda sobre a alimentação ideal para se prevenir da doença