Jornal Correio Braziliense

Cidades

A cada semana, três pessoas perderam a vida ao serem atropeladas em 2008

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A cada semana do ano passado, três pessoas morreram atropeladas no Distrito Federal enquanto tentavam atravessar a rua, andavam na calçada ou passavam pela faixa de pedestres. Depois de dois anos estabilizado, o número de atropelamentos fatais voltou a crescer. Dados consolidados do Departamento de Trânsito (Detran) mostram que, de janeiro a dezembro de 2008, 157 pessoas perderam a vida ao serem atropeladas, 15,4% a mais que o mesmo período de 2007 (136). O crescimento do total de mortes de pedestres é ainda mais grave quando comparado aos dados de demais vítimas no trânsito, que reduziram 2,7% (passou de 467 para 454). Até atravessar no local dito seguro ficou mais perigoso: em 2008, o número de pedestres mortos na faixa triplicou. Desde 2000, as estatísticas de atropelamentos oscilam. Mas os números estavam estáveis desde 2006. Naquele ano, os atropelamentos fatais caíram 14,47% em comparação a 2005 ; foram 130 contra 152 ; e, em 2007, só ocorreu um atropelamento a mais. Ano passado, no entanto, o número saltou para 151, nos quais 157 pessoas morreram (veja arte). Ao ver os atropelamentos aumentarem ao longo de 2008, o Detran redobrou a vigilância. O resultado, em dados ainda preliminares, é que as ocorrências caíram 44% nos dois primeiros meses deste ano ; passaram de 27, em janeiro e fevereiro do ano passado, para 15 no mesmo período de 2009. O diretor-geral do Detran, Cézar Caldas, diz que o órgão está detalhando as estatísticas para entender as causas do aumento. ;Ainda precisamos de dados do IML (Instituto Médico Legal). Pedimos um teste de alcoolemia dos cadáveres, porque trabalhamos com a hipótese de muitas das vítimas estarem embriagadas;, diz. Caldas credita o bom resultado dos dois primeiros meses do ano à intensificação das campanhas educativas. ;Começamos o ano com a campanha Volta às Aulas, na qual focamos a travessia dos pedestres pela faixa. Depois veio o carnaval, quando também fizemos campanhas;, ressalta. Nova campanha O Detran pretende lançar, mês que vem, nova campanha que vai enfatizar os cuidados que os pedestres devem ter ao atravessar a rua. Mesmo com o aumento de mortes em faixas (6 em 2008 contra 2, em 2007), Caldas diz que passar por elas ainda é a maneira mais segura de cruzar uma via. Os atropelamentos fatais nas faixas respondem por apenas 5% do total dos casos. ;O pedestre não pode ser penalizado quando deixa de cumprir as regras. Por isso, precisamos chamar atenção deles para os cuidados que devem ter, como dar o sinal de vida e atravessar pela faixa ou passarela;, afirma. Entre os planos do Detran, também estão mudanças na localização de faixas de pedestres. O setor de estatística do órgão fez um levantamento apontando que, em todos os seis casos de mortes em faixas de pedestre em 2008, um veículo já estava parado e o segundo não viu que alguém atravessava a rua. ;Já identificamos, por exemplo, que há muitas faixas próximas a paradas de ônibus que atrapalham a visibilidade do motorista;, destaca o diretor-geral do órgão. A mãe de Jonathan de Souza Silva, 19 anos, ainda lembra da imagem do filho chegando ao Hospital Regional de Ceilândia. ;Só pedi para ele não ir embora, não me deixar;, diz a costureira Dinalva de Souza Silva, 41 anos, moradora de Ceilândia. O jovem, campeão nacional de jardinagem e paisagismo das Olimpíadas do Conhecimento em 2008, foi atropelado numa faixa de pedestres em Taguatinga, em novembro do ano passado, e ficou dois meses em coma. Hoje, Jonathan está em uma cadeira de rodas, sem poder fazer o que mais gosta: trabalhar. ;Levantava todos os dias às 6h para treinar no Senai e, à tarde, ensinava libras (linguagem de surdos e mudos, baseada em sinais feitos com as mãos) na igreja;, conta ele. No dia do acidente, Jonathan saía da última aula de direção. Ele fez o sinal para atravessar pela faixa de pedestre, mas um carro não parou e o atingiu. O motorista fugiu sem prestar socorro, mas foi encontrado por testemunhas pouco depois. Quando a família procurou saber como estava o processo na 17ª Delegacia de Polícia (Taguatinga Norte) descobriu que havia sido arquivado. Dinalva, com a ajuda de um advogado amigo da família, decidiu entrar na Justiça contra o técnico judiciário José Silva Leão, 55 anos, acusado de provocar o acidente. Idoso corre mais risco Dos 157 pedestres mortos ano passado, 34 tinham mais de 60 anos (21% do total). Os idosos aparecem no topo da lista das vítimas de atropelamentos no Distrito Federal. Em janeiro deste ano, três dos sete atropelados também tinham 60 anos ou mais. ;Os motoristas precisam tomar ainda mais cuidado com os idosos, que têm uma visão dinâmica ruim, são mais lentos para atravessar a rua e têm mais dificuldade de se recuperar quando são atropelados;, afirma o especialista em segurança de trânsito David Duarte Lima. As crianças também causam preocupação. Ano passado, oito meninas e meninos de até 9 anos morreram atropelados no DF. São casos como o de Giovanna Vitória de Assis, 5 anos, que morreu na manhã do último Natal, após ficar seis dias em coma. Ela foi atropelada na Avenida Independência, em Planaltina, enquanto atravessava na faixa de pedestres, por um motorista alcoolizado que dirigia em alta velocidade e não prestou socorro. O especialista ressalta que a principal causa dos atropelamentos ocorridos no DF é a alta velocidade. ;Quanto maior a velocidade, menor a chance do motorista de fazer uma manobra que proteja o pedestre;, afirma. De acordo com o especialista, é possível reduzir pela metade os números de atropelamentos em dois anos, mas, para isso, o Detran precisa fazer um grande diagnóstico dos acidentes. ;É essencial saber onde eles aconteceram e quais foram as circunstâncias.; Para Luís Riogi Miura, ex-diretor do Detran, as campanhas educativas feitas pelo órgão nos últimos anos estão equivocadas. ;Elas focam nos cuidados que os pedestres devem ter, como dar o sinal de vida, e deixam os motoristas relaxados. Na verdade, os motoristas precisam prestar atenção no pedestre onde ele estiver, pois o pedestre é o mais frágil;, diz. (GR) Lei seca reduz mortes em 15% A lei que instituiu tolerância zero à perigosa mistura de álcool e direção poupou vidas no trânsito pelo nono mês consecutivo. O Departamento de Trânsito do DF (Detran) divulgou ontem o balanço dos acidentes ocorridos desde que a lei seca entrou em vigor. Os dados mostram que, de 20 de junho de 2008 a 20 de março deste ano, foram registrados 281 acidentes com morte nas vias do DF, 16,1% a menos que o mesmo período do ano anterior (335). O número de mortes caiu praticamente 15% em nove meses ; passou de 363 entre junho de 2007 e março de 2008 para 309 entre junho de 2008 e março de 2009. ;Foram 54 vidas poupadas, uma média de seis a cada mês;, comemorou o diretor-geral do órgão, Cézar Caldas. Os bons resultados, segundo Caldas, foram obtidos graças à rigidez da fiscalização. Em 2007, 1.008 motoristas foram autuados por dirigir embriagados. Em 2008, o número subiu para 2.499 e, até 20 de março de 2009, 906 pessoas foram multadas por assumir o volante depois de beber. Desde que a lei foi sancionada, 2.747 testes de bafômetros foram feitos ; cerca de 305 por mês. ;A lei no DF está sendo aplicada com rigor. E não tem segredo. A fiscalização está na rua com bafômetros e levando motoristas para a delegacia;, disse o diretor-geral do Detran. Segundo ele, 90% dos condutores foram abordados antes de se envolverem em acidentes. A lei seca tornou mais rígidas as punições para quem é flagrado embriagado ao volante. Quem for reprovado no bafômetro leva multa de R$ 957 e pode perder o direito de dirigir por um ano. Se o teste acusar mais de 0,3 miligramas de álcool por litro de ar expelido dos pulmões, a infração se torna crime, o condutor é levado para a delegacia e só é solto ao pagar fiança estabelecida pelo delegado. De junho do ano passado até agora, 1.111 motoristas foram presos no DF. (GR)