As investigações sobre a queda do monomotor no shopping de Goiânia (GO) reforçam a intenção de Kléber Barbosa da Silva, 31 anos, de provocar uma tragédia em grandes proporções. Depoimentos ouvidos pelo Correio e pela polícia da capital goiana revelam que o sequestrador tentou atingir a torre de controle do Aeroporto Santa Genoveva em pelo menos três oportunidades. Como não conseguiu, voou em direção ao Flamboyant Shopping Center, o maior centro comercial da cidade, para mais uma vez arriscar uma catástrofe. A bordo da aeronave estava a filha dele, Penélope Barbosa Correia, 5.
A tendência suicida do piloto contou com testemunhas até no ar. O tenente-coronel Milton Antônio Ananias, comandante do helicóptero da Polícia Militar responsável por monitorar a aeronave roubada em Luziânia (GO) no perímetro de Goiânia, se assustou com o excesso de manobras bruscas feitas por Kléber. ;Em dois minutos no ar, já tinha contato visual. Ele sobrevoou o aeroporto por 45 minutos e tentou atingir a torre três vezes. Eu gritava no rádio: ;Abandona a torre, abandona a torre, pois ele está mirando em vocês;.;, afirmou à reportagem.
Segundo o tenente-coronel Milton, piloto do Grupo de Radiopatrulha Aérea da PM de Goiânia (Graer), o monomotor obrigou as autoridades goianas a manter o espaço aéreo fechado por mais de meia hora. Enquanto seguia de perto o sequestrador, tentou contato com a aeronave via celular e rádio várias vezes para tentar salvar a criança ; a bordo do helicóptero estavam quatro PMs e um tio de Érika. Kléber manteve o transponder do avião desligado.
O oficial da PM também acompanhou o fim do voo, momento em que o piloto se aproximou do Flamboyant Shopping Center com os tanques praticamente vazios. A descrição de Milton dá a entender que ele arriscou uma manobra complicada com a ideia de pegar velocidade. ;Ele subiu em forma de looping (espécie de giro em 360; no ar) e tentou jogar o avião em cima do shopping. Caiu de bico, mas antes atingiu uma árvore;, contou. Pai e filha morreram na hora.
Metais retorcidos
A polícia goiana reconhece que a árvore descrita pelo tenente-coronel Milton, de 5m de altura e 20cm de diâmetro, impediu uma tragédia maior. O delegado Manoel Borges de Oliveira, titular da 8; Delegacia de Polícia (localizada no Setor Pedro Ludovico, a cerca de 3km do local da queda), está convicto de que o choque evitou que a aeronave entrasse no Flamboyant. ;Ele queria arremessar o monomotor dentro da entrada principal do prédio. Seria uma tragédia gigantesca. Para a nossa felicidade, a árvore salvou a vida de muita gente e mudou a trajetória do aparelho;, explicou.
Segundo o delegado, o impacto fez com que o caule acabasse cortado ao meio. Só por isso a aeronave pendeu para o lado. Mesmo assim, atingiu 23 carros. Quando Oliveira chegou ao estacionamento do Flamboyant, grande quantidade de combustível estava vazando do avião. ;Acreditamos que só não houve explosão porque não existiu faísca ou fagulha no momento do impacto;, arriscou o policial.
Para Oliveira, os detalhes que envolvem o episódio levam a crer que Kléber queria chamar a atenção. O sequestrador estava desempregado, tinha problemas conjugais, era suspeito de estuprar uma menina de 13 anos e vivia à custa da família. Também tinha ideias suicidas, sobrevoou Goiânia por pouco mais de uma hora, colocou em risco a vida de passageiros de voos domésticos, obrigou um avião da Gol Linhas Aéreas a arremeter e fez algumas aeronaves transferirem o pouso para o Aeroporto Internacional Juscelino Kubitschek, em Brasília.
Tais fatores, segundo o delegado, explicam parte do comportamento de Kléber. ;Na minha opinião, ele queria buscar sensacionalismo e protagonizar uma cena com proporções gigantescas;, afirmou. Cerca de três horas depois da tragédia de quinta-feira, Miranides Esteves de Matos, diretor técnico-administrativo do Flamboyant, também admitiu a intenção suicida do piloto. ;O sujeito queria entrar pela portaria do prédio com o monomotor e chegou a arrancar algumas árvores;, comentou, logo depois de se deparar com a destruição no local.