Os 1,8 mil alunos do Centro de Atenção Integral à Criança (Caic) de São Sebastião receberam uma autorização para puxar a orelha de seus pais sempre que eles cometerem infrações de trânsito. Os meninos e meninas de 7 a 12 anos ganharam uma carteirinha de "Amigo do Trânsito" da Associação Brasileira de Apoio à Educação (ABRAE), que iniciou o projeto "O Bom no Trânsito" pela escola de São Sebastião.
A iniciativa, que está em fase de experimentação, será repetida em cinco escolas do Distrito Federal nos próximos dias e tem como meta preparar uma geração de motoristas mais conscientes e responsáveis. "Agora eu vou ajudar os meus pais a dirigir melhor. É muito importante ter cuidado, para não causar acidentes", ensinava Eliabe Souza Araújo, de 7 anos, depois de assistir às apresentações de teatro e música organizadas pela ABRAE.
De acordo com Antônio de Pádua Viana, diretor executivo da ABRAE, a ideia do projeto é trabalhar a parte afetiva do trânsito com as crianças. "Pretendemos desenvolver sentimentos como solidariedade, amor e gentileza, para formar uma nova geração de motoristas em Brasília", explica o coordenador do projeto, patrocinado pela Petrobras, que vê na educação a melhor saída para os problemas no trântito da cidade. "As crianças têm um apelo muito grande. Se elas alertarem os pais sobre as infrações, eles vão ouvir", diz. Por isso, além de entregar a carteirinha de amigo do trânsito, o projeto fornece um termo de compromisso e um diploma de bom comportamento no trânsito para as crianças entregarem aos pais que cumprirem a lei.
"Só vou entregar o diploma para o meu pai se ele dirigir bem", avisou Jenife Gabriela Sousa Santos, de 7 anos, que aprendeu que crianças menores de 10 anos só podem andar no banco de trás e com o cinto de segurança. "E as crianças até 5 anos têm que ir na cadeirinha", emendou o colega de turma Dyelisson Monteiro, de 7 anos. Os estudantes participaram de uma brincadeira em que tinham de responder perguntas sobre segurança no trânsito e ganharam uma cartilha com histórias em quadrinhos, jogos e e um CD com histórias do vovô Rafael, todas com dicas de segurança no trânsito.
A instrução serve para impedir acidentes como o que aconteceu com o tio de Luísa Rany, de 7 anos. "Ele bateu o carro porque estava bêbado. Mas tem aquela frase que diz: se beber, não dirija", lembra a menina. A professora de Luísa, Jesuína Soares Coutinho, conta que as crianças aprendem noções básicas de sinais de trânsito nas aulas de Geografia e utilizam o conteúdo para intruir os pais. "Atividades como essa complementam o conteúdo ensinado em sala de aula", considera a professora Marilene Isidoro, que dá aula para alunos do 1º ano no Caic.
As professoras e os profissionais da ABRAE estabeleceram algumas estratégias para que as crianças fixem o conteúdo. "Fazemos uma pesquisa logo depois da palestra para ver o que os alunos aprenderam e uma segunda 30 dias depois. Também deixamos as professoras encarregadas de aplicar uma redação com o tema "o que pode ser melhorado no trânsito", diz Pádua. Os três melhores textos de cada escola rendem prêmios para os autores e podem até virar livro ao final do projeto. "O bom no Trânsito" ainda vai passar pelos Centros de Ensino Fundamental 1 e 9 de Taguatinga, pelo La Salle, pelo Colégio Militar e pelo Colégio JK. "Pretendemos atingir todas as escolas do DF, mas o projeto ainda é um piloto", explica Pádua.
Prevenção
Quando foi buscar a sobrinha Ana Clara de Oliveira, 7 anos, no colégio por volta de 12h, o motorista João Bosco se surpreendeu com o comportamento da menina, que já foi botando o cinto. "As crianças lá de casa estão sempre atentas para a segurança dentro do carro. Eles costumam reclamar quando a gente corre demais", diz o motorista. O garoto Jonas Rodrigues Cândido, 10 anos, também tem o hábito de alertar o pai. "Sempre andamos com segurança na moto. Ele sabe que tem que usar o capacete e nem reclama", conta o pedreiro Pedro Cândido, 42 anos. A auxiliar de creche Francisca Florença dos Santos não tem carro e vai buscar a filha Andréia a pé. "Ele sempre atravessa as ruas na faixa de pedestres", elogia a mãe.
"Quando fiquei sabendo do projeto ;O Bom no Trânsito;, impus a condição de que a nossa escola fosse a primeira a recebê-lo", conta Zélia Santana Magalhães Leão, diretora do Caic de São Sebastião há pouco mais de um ano. Para a diretora, o trabalho é preventivo e o material utlizado pela ABRAE ajuda as crianças a absorver o conteúdo. "Eles precisam vivenciar e discutir situações que acontecem no trânsito e essas cartilhas contribuem muito para isso", considera.