A força da água das chuvas e a ocupação urbana desordenada se transformaram em um grave problema ambiental entre Sobradinho e o Varjão. Uma erosão que atingiu uma área de preservação permanente (APP) ameaça o Ribeirão do Torto e as casas próximas. O buraco de quase 5m de profundidade fica escondido em meio à vegetação de vereda, mas basta andar alguns minutos pela mata para se deparar com a cratera. Buritis com mais de 12m de altura correm o risco de cair, pois a rachadura do solo aumenta a cada dia. Em tempos de chuva, a preocupação da comunidade da região é ainda maior. O temor é que novos desmoronamentos agravem o problema e coloquem em risco as residências e a vida dos moradores.
A erosão fica próxima ao Núcleo Rural do Torto, ao lado do Setor Habitacional Taquari, antigo condomínio Hollywood. Antes da construção irregular do parcelamento, havia eucaliptos na região. Mas a retirada da vegetação e a impermeabilização do solo decorrente das construções de centenas de casas fizeram com que a água da chuva chegasse cada vez com mais força ao Núcleo Rural do Torto.
O problema começou no início de janeiro quando, castigado pelos temporais, o solo simplesmente se partiu ao meio. Morador de uma chácara próxima,
Armando dos Anjos Muniz, 37 anos, se lembra da noite em que a erosão começou. ;Acordamos com um barulho enorme. No dia seguinte, quando fomos ver o que tinha acontecido, encontramos esse buraco no meio do terreno;, conta Armando. ;Basta chover um pouco para a erosão aumentar. A terra vai se soltando e forma um mar de lama, que entra nas chácaras;, descreve o morador, que vive no local há mais de 10 anos.
Lama no Lago
A comunidade da região entrou em contato com o engenheiro florestal César Vítor do Espírito Santo, que coordena o Fórum das ONGs Ambientalistas. Ele esteve no local e ficou impressionado com a cratera. ;Toda essa lama que se forma com a erosão é arrastada para o Ribeirão do Torto e vai chegar ao Lago Paranoá. É um problema ambiental grave, que vai contribuir para o assoreamento do espelho d;água;, destaca César Vítor.
A erosão preocupa o ambientalista porque o problema atingiu uma APP conhecida por ter solo de vereda. Esse é um tipo de terreno encharcado, que se comunica diretamente com o lençol freático. Como a terra fica repleta de água, não existem árvores nem vegetação exuberante.
A destruição do solo de vereda pode secar o lençol freático e esgotar os recursos hídricos de toda a região. As edificações nesse solo podem contaminar as águas subterrâneas e até mesmo misturar o conteúdo das fossas sépticas com o dos poços profundos. Um dos exemplos onde as áreas de preservação permanente foram destruídas é Vicente Pires. Condomínios inteiros foram construídos sobre esse tipo de solo encharcado. A legislação ambiental classifica como APP todo terreno a 50m de nascentes ou a 30m de córregos. A lei também restringe construções em solo de vereda e prevê punições que variam de três meses a um ano de prisão, com multa de um a 100 salários mínimos.
O diretor do Instituto Brasília Ambiental (Ibram), Gustavo Souto Maior, lembra que as erosões são comuns na cidade por conta do tipo de solo da capital federal, mas, principalmente, por causa da ação do homem e de falhas na construção de redes de captação de águas pluviais. Os técnicos do instituto vão verificar o problema no Núcleo Rural do Torto para descobrir o que causou a cratera.