Jornal Correio Braziliense

Cidades

Maior playground público do DF, o Ana Lídia está fechado desde novembro

Obras ; que deveriam ser uma parceria GDF-iniciativa privada ; nem começaram

As brincadeiras no parquinho Ana Lídia, no lado nordeste do Parque da Cidade, são uma feliz lembrança para boa parte dos brasilienses e uma gostosa realidade para quem é criança hoje. Ou melhor, era. O espaço está fechado desde o início de novembro do ano passado, quando um brinquedo enferrujado cedeu e machucou duas crianças ; uma até quebrou o pé. O acidente foi um sinal para que a Defesa Civil sugerisse a recuperação de várias estruturas, abaladas pela ferrugem. A administração do local decidiu então interditar a área para uma reforma ; que não começou até agora. Segundo o guarda que impede que as pessoas entrem no local, ainda hoje muitos pais e crianças chegam ao portão sem saber que os brinquedos estão indisponíveis e vão embora decepcionados. O Ana Lídia recebia milhares de visitantes aos fins de semana e cerca de 500 por dia entre segunda e sexta-feira. O administrador de empresas Carlos Fábio de Brito, 34 anos, morador do Guará, foi uma das pessoas que encontraram o parque fechado durante esta semana. De férias, ele aproveitou para levar o filho João Victor, 4, para tomar vacina no posto de saúde. ;Mas tinha que trazer para algo bom também, né?;, disse ele na última quinta-feira. Brito lamentou a tristeza nos olhos da criança diante dos brinquedos vazios. ;Já viemos aqui várias vezes no fim de semana e ele adorava. É realmente uma pena, eu achava que já estaria aberto;, disse. Ferrugem O local ainda apresenta os mesmos sinais de abandono que levaram à interdição. Os bancos estão quebrados em sua maioria. Brinquedos tradicionais como o foguete mostram claras marcas de desgaste. A torre de escalada, que caiu em cima dos pés da pequena Alanis Ferreira, 8 anos, no ano passado em pleno domingo, quando o local recebia até duas mil pessoas, continua no chão. Outros equipamentos, como um brinquedo em forma de carroça e um escorregador, também lacrados na época, não receberam reparos. A cena do parque vazio ; inaugurado em 1978 e diversão garantida para várias gerações ; fica ainda mais triste por causa do mato, nunca mais foi aparado. A Administração de Brasília, responsável pelo Parque da Cidade, busca uma parceria privada para a reforma do Ana Lídia. Segundo a assessoria de comunicação do órgão, já há empresas que demonstraram interesse na empreitada e uma reunião no início da próxima semana pode selar o futuro do espaço. Mas, por enquanto, não há sequer previsão para o início das obras. Nem mesmo o orçamento está concluído. O fechamento do local que conta com 35 brinquedos para a garotada é um fato lamentável na opinião da economista Cláudia de Sousa Fernandes, 42, que costumava levar os filhos Evandro, 8 e Janaína, 6, para brincar no local toda semana. ;Agora eles brincam no parquinho da nossa quadra, mas não é a mesma coisa;, afirmou. ;Eles tinham amiguinhos que só encontravam lá e gostavam dos brinquedos grandes. É uma pena o que aconteceu. Acho que o governo deveria trazer a responsabilidade para si e reformar o Ana Lídia ao invés de esperar pela iniciativa privada;, protestou ela. Um protesto que o guarda do local ouve muito. ;As pessoas sempre vêm aqui, principalmente nos fins de semana. É ruim ficar explicando que está interditado, ainda mais sem ter uma previsão de quando vai voltar;, contou ele. O projeto inicial da reforma já foi feito pela administração e aprovado pela superintendência regional do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan-DF), já que se trata de uma área tombada. A ideia é manter os brinquedos tradicionais e construir outros, inclusive alguns adaptados a crianças com deficiências físicas. Espaços como a lanchonete também devem passar por ampliação. Alternativas O administrador do Parque da Cidade, Rivaldo Carvalho, espera uma decisão sobre o Ana Lídia, mas lembra que há opções à disposição de meninos e meninas. ;Temos outros cinco playgrounds pelo parque e reformamos todos. A procura tem sido grande, principalmente aos fins de semana;, informou. ;Mas sei que o Ana Lídia é o maior e mais tradicional. Espero que possamos entregá-lo o mais rapidamente possível.; Construído há 31 anos, o maior parque infantil público do Distrito Federal nunca teve os brinquedos trocados. A última reforma pelas quais as estruturas passaram ocorreu em 2007.
Para saber mais Crime chocante O parque infantil homenageia em seu nome uma garota de 7 anos brutalmente assassinada em setembro de 1973. Ana Lídia Braga foi vista pela última vez deixando o colégio Madre Carmem Salles com um rapaz loiro e alto, com um livro vermelho na mão. No dia seguinte, ela foi encontrada morta, nua, em um matagal. A autópsia mostrou que ela foi arrastada pelo cascalho e asfixiada. Indicou ainda sinais de violação sexual ; algo que provavelmente, de acordo com a polícia, não ocorreu com a menina viva. Os culpados pelo homicídio nunca foram identificados.