Cerca de 15 motos param enfileiradas no Eixo Monumental. Todas são de alta potência. A maioria, importada. Alguns condutores levam mulheres na garupa. Com o semáforo vermelho, aceleram. O barulho assusta os motoristas dos carros ao lado e atrás. No acender da luz verde, as motocicletas saem em disparada. Só fream no próximo sinal fechado, em que há pardais para flagrar o excesso de velocidade e o avanço da barreira eletrônica.
A cena se repetiu no fim da noite de quarta-feira ao longo de todo o Eixo Monumental, no sentido Praça dos Três Poderes-Rodoferroviária. Por volta das 22h40, uma equipe do Correio flagrou as arrancadas tÃpicas de um racha em um trecho da avenida mais larga de BrasÃlia, entre os semáforos da Sala Funarte e o Centro de Convenções. Alguns motociclistas viram a câmera ligada e apontada para eles, mas não se inibiram com o equipamento nem com o veÃculo do jornal.
O carro de reportagem seguiu a 60km/h, limite de velocidade da via. Em menos de 10 segundos, as motos em velocidade bem superior sumiram do alcance da filmadora. Depois, só foi possÃvel ouvir o barulho estridente e agudo. ;Vocês filmaram isso? Tem que filmar, olha que absurdo;, gritou a motorista de um Corsa preto. Do momento da parada dos motociclistas no semáforo vermelho da Sala Funarte até quando eles saÃram do foco da filmadora, após o Centro de Convenções, foram 40 segundos de imagens. Elas estão no site www.correiobraziliense.com.br, que traz também videorreportagem sobre o caso.
Na frente da PM
Antes do flagrante, o grupo havia passado em alta velocidade em frente a um carro da PolÃcia Militar com os rotolights ligados, parado no estacionamento da lanchonete McDonald;s próxima à Torre de TV. Alguns motociclistas deixaram o grupo filmado pegando vias transversais. A concentração e modelos das máquinas davam a entender que todos vinham de algum encontro de motociclistas, como os realizados regularmente na capital.
O fato de um motorista ou motociclista parar ao lado do outro e começar a acelerar forte e arrancar em disparada configura infração gravÃssima, segundo o gerente de fiscalização do Departamento de Trânsito (Detran) do DF, Silvaim Fonseca. ;Não é preciso haver competição organizada. Basta um incitar o outro e haver a arrancada brusca;, explica. ;Isso é o que chamamos de competição por espÃrito de emulação. Além de multa de R$ 574, o condutor perde o direito de dirigir e tem o veÃculo apreendido;, completa.
Agentes do Detran flagraram quatro motociclistas cometendo esse tipo de infração na noite da última sexta-feira. ;Um deles estava em uma moto com caixa de entrega de pizza;, conta Fonseca. Ele ressalta que os agentes costumam fiscalizar os encontros de motoqueiros. ;Os grupos de motociclistas sérios pedem a nossa presença para intimidar os maus condutores;, diz o gerente de fiscalização do Detran.
Mais mortes
A quantidade de motos em circulação no DF cresceu 314,73% nos últimos oito anos, bem acima da média nacional de 211,13%. Eram 25.973 unidades em 2000 e, no fim do ano passado, 107.720. No mesmo perÃodo, a frota de carros cresceu 66,31%. O Detran ainda não tem as estatÃstica de motociclistas mortos em todo o ano passado no trânsito brasiliense. Até novembro, foram 83. Considerando a população de 2,5 milhões pessoas, a taxa de mortes por 100 mil habitantes foi de cerca de 3,2.
Estudo da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego mostra que os Ãndices vêm crescendo em todo o paÃs. Em 1996, era de 0,4. Em 2005, a taxa de motociclistas mortos por 100 mil habitantes subiu para 2,3. Já um estudo feito com pacientes do Hospital Sarah Kubitschek de BrasÃlia revelou que os acidentes de trânsito respondem pela maior parte dos casos de paraplegia. Dos 111 pacientes entrevistados, 49,5% sofreram o dano após acidente automobilÃstico. Mais da metade de moto.
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