Jornal Correio Braziliense

Cidades

Chefão da máfia dos concursos volta à ativa

Apontado como líder da quadrilha especializada em fraudar seleções, Hélio Ortiz tem nova prisão decretada. Polícia Federal acredita que ele está por trás do golpe na prova do Depen, em fevereiro

A Polícia Federal (PF) reúne indícios de que a máfia dos concursos jamais parou de agir no Distrito Federal, apesar da série de prisões e do enfraquecimento do esquema em 2005. Nova investigação reforça a suspeita sobre a volta à ilegalidade do homem acusado de liderar o grupo acusado de interferir em concursos públicos no Brasil, principalmente na capital do país. O ex-técnico judiciário Hélio Garcia Ortiz tem agora o nome envolvido na tentativa de fraude em um processo seletivo realizado no mês passado. Ele é considerado foragido pela PF. Os agentes federais estão à procura de Ortiz para esclarecer a suspeita de que ele atuou como intermediário para fraudar o último concurso do Departamento Penitenciário Nacional (Depen). As provas objetivas foram aplicadas em 15 de fevereiro e terminaram com as prisões de um professor de matemática e de um comerciante de Taguatinga. O mestre usou uma carteira de habilitação falsa para se passar pelo candidato e preencher as questões. O documento levava a foto dele, mas os dados eram do concorrente. O fiscal não identificou a falsificação, mas uma denúncia do departamento de inteligência do Depen alertou a polícia. A detenção do professor ocorreu na saída do concurso, quando ele confessou o crime. O nome de Ortiz surgiu ao longo dos depoimentos na delegacia. O ex-técnico judiciário, que perdeu o emprego em novembro de 2006 por decisão unânime dos desembargadores do Tribunal de Justiça do DF, teria sido o responsável por oferecer os serviços do mestre ao aspirante à vaga no Depen. ;Os indícios apontam que ele foi o intermediário da fraude;, afirmou o superintendente da PF, Disney Rosseti. Segundo ele, o candidato pagou R$ 10 mil adiantado e, se passasse na seleção, pagaria 10 vezes o valor do salário. O valor a ser pago ao matemático seria negociado após a aprovação. A tentativa de fraude na seleção para agente penitenciário mostrou como funciona um dos tentáculos da máfia dos concursos. Para a PF, Hélio Ortiz trabalhava como articulador de profissionais escolhidos para fazer as provas no lugar dos concorrentes a cargos públicos. ;Ele devia estar arregimentando pessoas com conhecimento maior para oferecer aos candidatos. Mas é um caso pontual, não há indício de que era uma fraude generalizada;, avaliou Rosetti. Segundo ele, o concurso organizado pela Fundação de Apoio a Pesquisa, Ensino e Assistência (Funrio) não está comprometido. Em busca de provas Diante das informações, a PF foi à casa de Ortiz, no Guará. Queriam prendê-lo, mas não o encontram. O mandado de prisão acusa-o de estelionato, falsificação de documento público e uso de documento falso. Após mais de três horas na residência onde ele mora com a família, na QE 15, apreenderam uma vasta papelada. A polícia vai analisar os documentos em busca de comprovantes de inscrição de outros candidatos e provas que liguem o acusado ao crime. Não foi encontrado material para falsificação de documentos. Os agentes federais ainda procuraram Ortiz em uma chácara no Setor de Mansões do Park Way, onde também não o localizaram. O chefe da Delegacia de Repressão de Crimes Fazendários, Júlio César Fernandes, responsável pela operação da manhã, acredita que não há envolvimento de outras pessoas na fraude. Mas a análise dos documento ajudará a PF na busca de evidências que revelem a participação de mais envolvidos na compra e venda de provas. ;A princípio, não tem indício de quadrilha ou de um grupo trabalhando junto;, disse Fernandes. O comerciante de Taguatinga preso em fevereiro está em liberdade provisória. O professor de matemática continua detido na PF. O processo seletivo do Depen abriu 656 vagas de agente penitenciário federal, função que exige nível médio e tem remuneração de R$ 4 mil. Quem tiver informações sobre Ortiz ou tiver sido lesado por ele pode entrar em contato com a Polícia Federal. O telefone é 3799-9503. A PF desconfia que Ortiz tenha fugido logo após a prisão dos fraudadores do concurso do Depen.
Entenda o caso Denúncia em 2005 O ex-técnico judiciário Hélio Garcia Ortiz e outras 29 pessoas foram denunciados à Justiça Federal por estelionato, falsidade ideológica e fraude em licitações. A quadrilha, que se especializou em fraudar concursos públicos, começou a ser desarticulada em 22 de maio de 2005, na Operação Galileu, da Polícia Civil. A ação prendeu 103 pessoas durante a aplicação da prova para agente penitenciário do Ministério da Justiça. As investigações do caso revelaram que um dos concursos que sofreu a ação da quadrilha foi o realizado pelo Tribunal de Justiça do DF, aplicado em 2003 pelo Centro de Seleção e de Promoção de Eventos (Cespe) da Universidade de Brasília (UnB). O processo continua em tramitação. Os acusados começaram a prestar depoimento em 2005 e a previsão era de que o processo fosse encerrado em 2006. Apesar da demora, a presidência do Tribunal de Justiça afastou os 16 funcionários sob suspeita de participação na fraude, inclusive Hélio Ortiz, apontado como o líder do grupo.
Leia outras reportagens sobre o caso