Lá vem o baiano subindo o palco. Moraes Moreira começa a passagem do som na tarde de uma segunda-feira de sombra. Como um maestro mascando incessantemente um chiclete, na busca de concentração, reclama que o som do baixo está alto e pede para aumentar o volume da guitarra. Passa uma, duas, três, oito músicas, num show particular que fez remexer a criança que brincava com o spray de espuma e parar o ciclista que pedalava pela Esplanada dos Ministérios. Sob aplausos, ele faz a convocação. ;Espero vocês mais tarde;, conclamou o cantor e compositor de 61 anos.
Não é à toa que Moraes Moreira escolheu Brasília, pela primeira vez, para festejar um carnaval. Ele se apresentou ontem à noite, sozinho no Gran Folia, e se apresenta hoje duas vezes: primeiro em Ceilândia, às 19h, e quatro horas depois, com a participação especial do baiano Luiz Caldas, no fechamento do feriado em sua volta ao Gran Folia. Moreira está na capital porque deseja fazer um carnaval ;para o Brasil;. Nesta folia, antes de aportar no DF, já passou pelo Rio de Janeiro, por Pernambuco e por Sergipe.
;Minha proposta sempre foi fazer um carnaval do Brasil principalmente depois que a Bahia se tornou aquela loucura;, afirmou o músico, numa crítica à industrialização e ao encarecimento da festa em Salvador. ;Eu me recuso a ir para a Bahia tocar num trio elétrico de terceira categoria às 4h da manhã;, protestou o primeiro cantor de trio do país, que abriu a avenida para as Ivetes e os Chicletes da vida.
À vontade
Mas Moreira, com seus 30 carnavais e mais de 20 discos gravados, se sente à vontade em Brasília. ;Seja em qualquer lugar que eu venho, aqui tenho uma resposta maravilhosa;, afirmou o cantor na rápida entrevista que deu ao Correio. Nos shows, diz que vai embalar os foliões ;principalmente com um grande repertório carnavalesco;. ;Antigas, novas, frevos, maracatus.;
A julgar pelo que mostrou brevemente no Gran Folia, o sucesso é garantido. A canja de Moreira, com Lá vem o Brasil descendo a ladeira embalou os presentes à passagem do som. Estão garantidas também aos foliões as clássicas Pombo-correio e Vassourinha elétrica. Pode surpreender o público com Asas de Brasília, composição que ele fez em parceria com Fausto Nilo sobre a capital.
Uma pequena, mas animada, multidão aglomerou-se para ouvir o músico baiano ontem à tarde. Por coincidência do acaso entre os deuses da folia e da meteorologia, foi só ele tocar que o sol abriu. O empresário Ubirani Rufino da Costa assistia ao aquecimento musical com a mulher, Janaina Raquel Pisciani, e a filha Taíssa, de apenas 5 anos. ;Se ela (Taíssa) aguentar, vamos ficar para assistir ao show;, dizia Ubirani sobre a filha que ia desfilar na Baratinha, o bloco de carnaval infantil de Brasília.
A expectativaé que 20 mil pessoas prestigiem cada um dos shows do cantor, segundo os organizadores. O desafio de tocar na capital do país também contagiou os músicos da banda de Moreira, acostumados a embalar carnavais no Nordeste, no Rio de Janeiro e em São Paulo. ;Confesso que em Brasília não esperava tocar no carnaval;, afirmou o saxofonista Roberto Stepheson, 43 anos, dos quais 17 tocando com Moreira. Lá vai o velho novo baiano descendo o palco.