Número de motoristas alcolizados supera o da semana em que a legislação entrou em vigor

O primeiro carnaval da lei seca desafia quem ainda ousa beber e dirigir. Nas duas primeiras noites de festa, o número de motoristas flagrados dirigindo sob o efeito do álcool no Distrito Federal supera o registrado na semana em que a legislação entrou em vigor. Entre 20 e 28 de junho do ano passado, no auge da fiscalização, 28 condutores foram pegos alcoolizados ao volante. Da última sexta-feira para sábado e de sábado para domingo, 34 pessoas acabaram ;reprovadas; no teste do bafômetro em blitzes montadas pelo Departamento de Trânsito (Detran) e pela Polícia Militar. Em cerca de nove horas de fiscalização por noite, registraram-se, em média, quase dois flagrantes a cada 60 minutos. Os foliões estão cercados. As barreiras com cones e luzes surpreendem quem deixa bares e clubes. A estratégia do Batalhão de Trânsito da PM (BPTran), responsável por 32 das 34 autuações nos dois primeiros dias, é o dinamismo. As blitzes ocorrem em 10 pontos diferentes a cada noite. ;Ficar parado em um lugar muito tempo não dá resultado. A gente precisa mudar o local das blitzes a todo instante;, comentou a tenente Rebeca Alves Amaral. Até porque, lembra ela, a notícia de que a polícia ou o Detran estão por perto se espalha rapidamente. A Operação Álcool Zero do BPTran segue em ritmo intenso até o próximo domingo. Cerca de 40 militares estarão nas ruas todos os dias. ;Estamos dando o recado para o motorista: ;Olha, você não vai poder beber e dirigir;;, disse a tenente. O número de autuações costuma aumentar durante o carnaval, segundo o major Alessandro Venturin, subcomandante do BPTran. ;Por conta das festas, as pessoas bebem mais e ficam mais inconsequentes;, observou. Três motoristas flagrados pelo BPTran foram parar na delegacia porque o bafômetro acusou mais de 0,3 miligrama de álcool por litro de ar expelido. O Detran autuou dois motoristas nas duas primeiras noites de carnaval. ;É um número baixo porque estamos atingindo nosso objetivo: os condutores estão constrangidos com a fiscalização;, avaliou o chefe do núcleo de policiamento e fiscalização, Francisco Saraiva. Como os agentes do Detran estão envolvidos no controle do trânsito próximo aos locais das festas organizadas pelo governo, realizam apenas uma blitz por dia. Mas isso não impede, de acordo com Saraiva, a fiscalização em todo o DF. ;Estamos com cerca de 40 agentes espalhados pela capital;, informou. Além das autuações por conta da lei seca, o Detran multou 13 motoristas por irregularidades nos veículos ; cinco carros foram para o depósito. A atração do bafômetro O Correio acompanhou o trabalho do Detran e da PM na madrugada de ontem. Antes mesmo de os carros chegarem perto das blitzes, os agentes e os policiais tentam identificar motoristas embriagados. Freadas bruscas, ziguezague sem jeito entre os cones e até aquele que tenta passar despercebido são alvos certos. Quando os fiscais pedem o documento do carro e a habilitação do motorista, a fala enrolada e o reflexo comprometido podem acusá-lo. ;Geralmente quem se recusa é porque bebeu;, acrescentou o soldado Gustavo Almeida. Quem respeita a lei fica de consciência limpa. E encara com bom humor a parada na blitz. ;Eba! Vou ver minha tia assoprando no bafômetro;, gritou Giovanni, 7 anos. A tia, Valéria Ribeiro, 41, ganhou parabéns do policial pela aprovação no teste. ;Tem que ter pulmão para fazer isso;, comentou ela, após soprar por seis segundos no aparelho. ;Todo mundo tem que assoprar, sim. Como eles vão saber se você bebeu ou não?;, opinou a estudante Camila Oliveira, 20, que também seguiu viagem sem problemas. O teste do bafômetro virou atração. A pesquisadora Fernanda Oliveira, 32, mesmo já fantasiada de melindrosa, não se incomodou em descer do carro para fazer o exame. O marido, o publicitário Marcelo Pereira, 33, vestido de marinheiro, parou o carro dele à frente da blitz e foi ver a mulher soprar no aparelho. O casal iria dormir no local da festa. ;Vou beber quando chegar lá;, adiantou ele. Ela, que disse não ter bebido nada antes de pegar o volante, tomou um susto com uma brincadeira do policial. ;O teste acusou 0,5mg de álcool;, decretou ele, todo sério, antes de mostrar o papel que comprovava a ausência de álcool no organismo. Na blitz do Detran, perto da Rodoviária do Plano Piloto, o ambulante Antônio Almeida da Cruz, 33, escapou do bafômetro, mas foi multado por dirigir sem habilitação. ;Vim trabalhar aqui perto (no Gran Folia), não vendi nada e ainda me dei mal;, lamentou. A operação de carnaval do Detran segue até a quarta-feira de cinzas. O que diz a lei A Lei Federal nº 11.705/08, que ficou conhecida como lei seca, entrou em vigor em 21 de junho de 2008. A norma alterou o Código de Trânsito Brasileiro e determinou que o condutor embriagado deve pagar multa de R$ 957 e perder o direito de dirigir por um ano. Se não houver outro condutor em condições de assumir o volante no momento do flagrante, o carro é levado para o depósito do Detran. As medidas valem para motoristas com qualquer índice de álcool no sangue ou sinais nítidos de embriaguez. Como cada corpo responde de forma diferente aos efeitos do álcool, a legislação parte do princípio que não existe quantidade segura para beber e dirigir. Os motoristas com até 0,2 miligrama de álcool por litro de ar expelido dos pulmões (teste do bafômetro) respondem a processo administrativo no Detran. A partir de 0,3mg/l, o condutor é levado à delegacia e também tem de responder pelo crime de embriaguez ao volante.