Jornal Correio Braziliense

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Em 2008, Detran emitiu 20 mil multas por má conservação de veículos

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Existem 139.203 veículos com mais de 20 anos de fabricação circulando pelas vias do DF. Eles correspondem a 13% da frota e, segundo o Departamento de Trânsito (Detran), boa parte está em péssimo estado. Um exame no banco de dados do órgão revela que 20 mil carros foram multados em 2008 por problemas de conservação, como falta de equipamentos de segurança ou falhas mecânicas. Uma média de 54 flagrantes por dia. Apesar de o erro humano ser a causa de 90% dos acidentes de trânsito em Brasília, especialistas alertam para o risco de manter latas velhas sem manutenção. Na tarde de domingo, um acidente entre uma Brasília 1976 e uma Silverado deixou três mortos na DF-450. Para a polícia, uma falha mecânica no carro com mais de 30 anos foi decisiva para a tragédia (leia abaixo). Na manhã de ontem, a equipe do Correio circulou por Ceilândia e Samambaia. Nesses locais, segundo o Detran, se concentra a maior parte dos veículos com mais de duas décadas de fabricação. Em uma hora e meia, a reportagem flagrou cinco carros que pareciam oferecer risco ao trânsito. O caso mais grave envolvia um fusca azul de 1972. O barulho alto do motor chamou a atenção. Com a aproximação, via-se que algumas partes da lataria estavam amarradas com arame. Ao parar para conversar com o motorista, flagrou-se que o cinto de segurança não existia no carro com 36 anos de uso. Como se não bastasse, não havia retrovisor nem assento para o passageiro, que seguia pelas vias de Ceilândia no banco de trás. O motorista, Francisco José Carmo, 41 anos, reconheceu os riscos que corre ao dirigir a velharia. ;Às vezes piso no freio e não responde. A lanterna não funciona. Sei que é perigoso, mas não tenho condições de trocar;, alegou. Ele admite que a manutenção só ocorre quando o carro quebra. ;Já tem sete meses que não dá nada. Ano passado mandei fazer um motor novo;, completou Francisco, que procura fugir de blitzes. ;Se parar, estou enrolado;, constatou. Entre os carros flagrados em mau estado na manhã de ontem, encontravam-se uma Brasília, duas Comodoros e um Chevette. Lanternas quebradas, falta de parachoque e pneus carecas eram pontos comuns. Ano passado, o Detran apreendeu 18.917 carros no DF. Desses, 2 mil acabaram leiloados. Dos vendidos, 60% ; 1,2 mil ; viraram ferro velho por não terem condições de voltar às ruas. Uma média de dois carros descartados por dia. De acordo com o chefe de fiscalização do Detran, Silvaim Fonseca, o acompanhamento de carros antigos ocorre por meio das blitzes e das vistorias de pátio. ;A legislação não impede carros velhos de andar. Para o Código de Trânsito Brasileiro, o que importa é o estado de conservação;, afirmou. Além da retenção do veículo, o motorista de automóveis caindo aos pedaços leva multa de R$ 127 e cinco pontos na carteira. Benefício e poluição Carros com mais de 15 anos de fabricação não pagam o Imposto sobre Propriedade de Veículo Automotor (IPVA) no DF. De acordo com o Detran, a isenção ocorre pelo cálculo da taxa, que leva em conta a idade dos carros. ;Quanto mais antigo, menos se paga;, explicou o diretor-geral do Detran, Cezar Caldas. A regalia acaba incentivando condutores a manter carros velhos. ;Com o preço do IPVA, eu coloco motor novo. Para mim é o melhor negócio;, argumentou Eduardo Souza, 36, morador de Samambaia e dono de um Chevette 1984. De acordo com o chefe do Laboratório de Controle Ambiental em Transportes da Universidade de Brasília, Felipe Azevedo, a permanência da frota velha prejudica até mesmo o meio ambiente. ;Só a partir da década de 1990 surgiram tecnologias de aproveitamento de combustível e outras, como o catalisador;, explicou o especialista. PRISÃO PREVENTIVA PARA PROFESSOR O professor David Silva, 46 anos, teve a prisão preventiva pedida ontem pelo Tribunal do Júri de Planaltina. Ele responde pelo crime de homicídio doloso (quando o autor assume o risco de matar) por ter atropelado Giovanna Vitória de Assis, de 5 anos, em dezembro de 2008. David dirigia sob efeito de álcool e atingiu a menina e a babá da garota em uma faixa de pedestre próxima à Rodoviária de Planaltina. Ontem, ele não foi encontrado pela polícia. Onde tem lixo, ele vê oportunidade. E transforma museus ambulantes em carros prontos para rodar nas vias da cidade. Dono de um ferro-velho em Ceilândia há 16 anos, Juvenil Sabino de Oliveira, 43 anos, usa três carros como meio de transporte. Dois da década de 1970 e um de 1980. Aparentemente, todos em bom estado de conservação ; com cinto de segurança, pneus novos e parte elétrica em dia. Segundo o comerciante, nunca ficou na mão por causa de falhas mecânicas nos veículos, que se destacam pelo cuidado e limpeza em meio ao amontoado de ferros retorcidos. O segredo para não deixar que a antiguidade vire mais um vilão nas vias do DF? Manutenção constante. De seis em seis meses. E feita pelo próprio dono, que desde os 12 anos se diverte montando e desmontando carros. Duas Caravans ; uma dourada de 1979 e outra branca de 1989 ; e uma Brasília de 1978 são os xodós do mecânico. Todas, um dia, foram relegadas ao ferro-velho, mas depois de uma dedicação exclusiva, com a escolha minuciosa de peças e lanternagem caprichada, voltaram à ativa. ;Eu gosto de reviver os carros, mas é preciso cuidado redobrado;, alertou Juvenil. Apesar da paixão, ele admite que automóveis antigos requerem atenção especial. Um carburador entupido, uma vela queimada ou peças soltas podem ser uma constante no trintões. ;Sempre dou uma olhada no motor e na parte elétrica. E, ao contrário do que pensam, a manutenção sai barata. Basta procurar lugares de confiança;, observou. O chefe de fiscalização do Detran, Silvaim Fonseca, reconhece que há muitos carros da década de 1970 mais enxutos que os dos anos 2000. ;Se o motorista toma cuidado na manutenção, não há problema em transitar. Mas carros em péssimas condições são um risco constante;, afirmou o fiscal, referindo-se ao acidente ocorrido na tarde do último domingo. Segundo testemunhas, a tragédia que tirou a vida de Gilcimar de Araújo, 29, Edilton Alves, 42, e José de Lima, 58, ocorreu quando o capô da Brasília 1976, de placa JDP 7397-DF, abriu e prejudicou a visão de Gilcimar. O motorista teria perdido o controle da direção, invadido a pista contrária e batido de frente com a caminhonete Silverado de placa BUM 1910. O laudo com as causas do acidente sai em 15 dias, mas os responsáveis pela 24ª Delegacia de Polícia (Ceilândia) apontam que a falha mecânica foi decisiva para o choque. (JC)