Jornal Correio Braziliense

Cidades

Defesa consegue suspensão do julgamento de Sebastião Curió

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Inicialmente marcado para a próxima sexta-feira (20/2) o julgamento do tenente-coronel da reserva Sebastião Curió Rodrigues de Moura foi suspenso. A informação foi dada pela assessoria do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT). A defesa de Curió conseguiu um habeas corpus no fim da noite de sexta, livrando o cliente, que está internado no Hospital das Forças Armadas, do júri. O caso envolve o homem que ficou conhecido nacionalmente pela repressão à Guerrilha do Araguaia e pela liderança social e política no coração do garimpo de Serra Pelada, no Pará. Curió é acusado de ter matado o adolescente Laércio Xavier da Silva, 17 anos, no dia 2 de fevereiro de 1993 com um tiro nas costas nas proximidades de sua chácara, no Núcleo Rural Sobradinho dos Melos, em Sobradinho. Indiciamento Sebastião Curió acabou indiciado em fevereiro de 2003. A denúncia feita pelo Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT) não poupou os suspeitos, ao caracterizar o ataque como ;extermínio de menores infratores;. ;Para lograrem êxito na investida, os acusados colocaram-se no local retrodescrito, já cientes de como e onde alcançariam, de surpresa, os ofendidos, e de tocaia, à traição, de sorte a dificultar qualquer chance de defesa às vítimas, puseram-se em condições de perpetrar, sem reação provável, o propósito homicida;, escreveu o então promotor Chico Leite, hoje deputado distrital (PT). Segundo ele, houve uma série de dificuldades durante a formulação da denúncia. Entre elas, uma suposta parcialidade na conclusão do inquérito policial. ;Quando o inquérito chegou ao MP, ele estava direcionado para a absolvição do réu (Sebastião Curió). Vi que a polícia da época tentou protegê-lo de alguma forma;, contou o deputado. Leite, assim, pediu uma investigação paralela. E foi com ela que montou a cena do crime e acusou os cinco envolvidos pela morte do adolescente. O tenente-coronel participou de interrogatório no Tribunal do Júri do DF em abril de 1994. Admitiu que atirou em direção aos adolescentes, mas porque ;tinha a impressão de que estava sendo cercado;, como publicou o Correio no dia 9 daquele mês. Afirmou ainda que só disparou três vezes depois de ouvir disparos vindos de dentro do barraco onde estavam as duas vítimas ; os irmãos teriam escolhido a chácara vazia para se esconder, pois sabiam que havia gente no encalço deles. Também contou ao juiz Jessuíno Rissato que não mirou e que, mais tarde, o grupo encontrou o corpo de Laércio próximo a uma cerca. perfil - Sebastião Curió Rodrigues de Moura Do SNI para Serra Pelada O tenente-coronel da reserva Sebastião Curió Rodrigues de Moura (foto), o Sebastião Curió, ganhou destaque nacional pelo envolvimento em episódios marcantes da história do Brasil. Teve, por exemplo, papel decisivo na repressão à Guerrilha do Araguaia, movimento de combate ao regime militar que existiu durante a década de 1970 ; uma das obrigações era identificar os guerrilheiros do Partido Comunista do Brasil (PCdoB). Curió também atuou como agente do Serviço Nacional de Informações (SNI), foi deputado federal pelo PMDB entre 1983 e 1987 e recebeu a missão de acabar com o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) ainda em formação. Mas foi a partir da nomeação como interventor no garimpo de Serra Pelada, no Pará, que Sebastião Curió reforçou o perfil de liderança e virou referência política. Assumiu a função por determinação do então presidente João Baptista Figueiredo no início da década de 1980, anos depois de combater os guerrilheiros do Araguaia. Instalou-se na região e, em 1989, fundou a cidade de Curionópolis (PA) ; o município engloba o povoado de Serra Pelada. O apelido de Curió, um pássaro briguento da América do Sul, surgiu nos primeiros anos de Exército. O militar lutava boxe nos fins de semana, enquanto frequentava a Escola Preparatória de Cadetes, em Fortaleza, na década de 1950. Subia aos ringues para reforçar o salário. Em março de 2008, perdeu o cargo de prefeito de Curionópolis após decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que o condenou por compra de votos e abuso do poder econômico.