Jornal Correio Braziliense

Cidades

Foliões preferem fugir das promoções mirabolantes de abadás

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O carnaval de Salvador, para muita gente, é quase um ritual sagrado. Nada pode atrapalhar os dias de folia atrás dos trios elétricos. Cair no ;golpe do abadá;, como ocorreu com a turma que foi passar o réveillon em Arraial D;Ajuda (BA), seria uma tragédia para quem planejou a viagem durante meses. Por isso, na hora de fechar pacotes e comprar camisetas dos blocos, é preciso desconfiar de ofertas atraentes demais, checar a credibilidade da agência de turismo ou do site de venda e ficar de olho no contrato. As agências de Brasília não incluem mais os abadás nos pacotes, como chegou a ocorrer em anos anteriores. De acordo com representantes de cinco empresas procuradas pelo Correio, a mudança nada tem a ver com o temor de possíveis golpes. É uma adaptação, segundo eles, à demanda dos foliões, que preferem ter liberdade para escolher os blocos em que querem sair a cada dia a adquirir pacotes fechados. Assim, sobra basicamente a opção de comprar as camisetas da festa pela internet. A Central do Carnaval, responsável por mais de 20 blocos e 10 camarotes da folia baiana, só trabalha com vendas pelo site oficial. ;Já aconteceu de gente comprar abadás em outros sites e chegar aqui e não ter nada. Se a pessoa compra por outro meio que não o nosso site, não podemos nos responsabilizar;, comentou a gerente de vendas da empresa, Jamile Nery. O cliente pode pagar com cartão de crédito ou imprimir boleto bancário. Com a confirmação do pagamento, o site gera um comprovante, com o qual o folião tem direito a retirar o abadá em Salvador. Da mesma forma, a empresa Reino da Folia vende entradas para outros cinco blocos apenas pelo site oficial. ;Nos demais (sites) eu não confiaria;, disse o diretor da empresa na capital baiana, Paulo Tavares. A Axé Mix também alerta aos clientes que, apesar de outros sites venderem abadás da empresa, não se responsabiliza por compras que não são feitas pela página oficial. Economia duvidosa Há cinco anos, o bancário Thiago Waltz, 26, garante pela internet o lugar dele em carnavais fora de época. Nunca teve problema e espera que, este ano, em Salvador, não seja diferente. A programação da festa está pronta desde maio passado. Para evitar qualquer dor de cabeça, ele ligou para a empresa que cuida da venda dos abadás para confirmar a compra e fugiu de promoções mirabolantes. ;Não fico tentado com preços baixos. Não vale economizar R$ 200 aqui e ter problema quando chegar lá;, avaliou. Como a compra de abadás é feita basicamente pela internet, os pacotes das agências de turismo restringem-se às passagens aéreas, hospedagem e traslado. O vice-presidente do Procon-DF, João Vieira, lembrou que o consumidor precisa estar sempre atento: ;Infelizmente, não se sabe se essa ou aquela empresa é confiável;. Entre as dicas dadas por ele está a adoção de procedimentos como ligar para o hotel e confirmar a reserva e exigir da agência o recibo de compra das passagens aéreas. Outra recomendação é exigir que tudo o que foi prometido esteja registrado em contrato. A Lei Geral do Turismo, sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em setembro de 2008, ainda não foi regulamentada. Do jeito que está, destacou João Quirino, diretor da Associação Brasileira de Agências de Viagens (Abav), fica difícil cobrar conduta ética das empresas do setor. ;Não temos respaldo jurídico para tanto. Hoje qualquer um pode abrir uma agência;, ressaltou. ;Enquanto a lei não for regulamentada, o consumidor terá de pedir referência a amigos antes de procurar uma agência.; FIQUE ATENTO # A relação entre o cliente e o agente de viagem se baseia na confiança. Por isso, procure referências de pessoas que já conheçam os serviços da empresa, como familiares e amigos que viajaram anteriormente. # Consulte o Ministério do Turismo (www.cadastur.turismo.gov.br) e a Associação Brasileira de Agências de Viagem (www.abav.com.br) para ter informações sobre o histórico da agência. # Verifique se os serviços oferecidos em materiais de divulgação e no contrato condizem com a realidade da viagem. Caso sejam de qualidade inferior, fotografe ou recolha outras provas para reivindicar o prejuízo nos órgãos responsáveis, como o Procon (telefone: 151). # Em caso de suspeitas sobre o pacote, ligue para verificar se os serviços oferecidos estão assegurados. Telefone para averiguar se as reservas do hotel foram confirmadas e faça o check-in no aeroporto o quanto antes, por exemplo. # No caso dos abadás, opte por comprá-los pelos sites oficiais ou nas lojas credenciadas, em Salvador. Agências parceiras oferecem as camisetas da folia em sites próprios, mas as empresas não se responsabilizam pela venda. Fontes: Abav-DF, Polícia Civil e centrais de venda de abadás do carnaval de Salvador