Os pacientes com tosse, febre ou dores pelo corpo ; que contribuem para superlotar ainda mais as emergências dos hospitais públicos ; passarão a ser atendidos perto de casa, por médicos, enfermeiros e agentes da comunidade. O Programa Saúde da Família, que oferece assistência médica para casos mais simples, tem hoje 44 equipes completas, que cobrem apenas 6% da população do Distrito Federal. Para melhorar a saúde primária e a prevenção de doenças, o governo vai retomar o programa, completar as 31 equipes que estão incompletas e criar mais 120 grupos de profissionais. Com isso, o índice de cobertura dos brasilienses vai chegar a 39%. A medida vai ajudar a desafogar o pronto-socorro dos hospitais e garantir um atendimento mais rápido e digno.
O Programa Saúde da Família foi criado há 15 anos pelo Ministério da Saúde para melhorar a atenção básica nos municípios e representou um novo modelo para o atendimento à população. Em vez de receber os pacientes nos hospitais e curá-los, o foco passou a ser prevenir doenças a partir de medidas de proteção à saúde e atenção integral. Com o programa, os médicos e enfermeiros atuam na comunidade e conhecem de perto os problemas de cada uma das famílias.
Uma pessoa com uma problema cardiológico, por exemplo, é atendida na própria casa ou em um posto de saúde próximo. Se o problema se agravar ou se o médico considerar que é preciso uma maior estrutura de atendimento e equipamentos mais sofisticados, o paciente é encaminhado a um hospital. Se não, toda a assistência é prestada na própria comunidade.
Uma equipe do Saúde da Família é formada por um médico, um enfermeiro, dois auxiliares de enfermagem, cinco agentes de saúde comunitários, um dentista e um técnico em saúde bucal. Cada grupo deve atender, no máximo, quatro mil pessoas. O custo para manter uma equipe completa não é alto e consiste, basicamente, no pagamento de salários. Os 11 profissionais de saúde de cada grupo do programa recebem, juntos, cerca de R$ 24 mil por mês. O Ministério da Saúde repassa, mensalmente, R$ 10 mil ao GDF para cada equipe completa. O objetivo do governo local é chegar ao fim de 2009 com quase 600 grupos de profissionais de saúde em atuação e atingir, assim, 50% de cobertura da população da capital federal.
Hoje, o gasto mensal com o salário dos servidores do Saúde da Família não chega a R$ 1,8 milhão. Quando as 195 equipes estiverem em atuação, o investimento chegará a R$ 4,6 milhões por mês. Desse total, o governo federal vai financiar cerca de R$ 1,95 milhão por mês. Dos funcionários em atuação, seis grupos trabalham na Estrutural, única região com 100% de cobertura. O posto de saúde da cidade, inaugurado em novembro, serve de abrigo para os médicos, enfermeiros e agentes. São feitas visitas domiciliares e consultas no centro de saúde. Será referência para todo o Distrito Federal.
REFORÇO NO TIME
Como são formadas as equipes :
# Um médico
# Um enfermeiro
# Cinco agentes comunitários de saúde
# Dois auxiliares de enfermagem
# Um dentista
# Um técnico em higiene bucal
Como é hoje:
# 44 equipes completas
# 31 equipes incompletas
Como ficará :
# Serão 195 equipes completas
# 120 novas equipes
# Os grupos incompletos terão mais profissionais
Áreas com prioridade de novas equipes:
# Itapoã
# Riacho Fundo II
# São José
# Mestre d;Armas
# Arapoanga
# Samambaia
# Planaltina
# Sobradinho
Programa reduz filas de espera nos hospitais públicos
Gustavo Moreno/Esp. CB/D.A Press - 26/10/08
Atendimento na Estrutural aliviou emergência no hospital do Guará
O aposentado João Português de Souza, 82 anos, e a mulher, Hilda Queiroz de Souza, 77 anos, estão entre os beneficiados pelo Saúde da Família. Eles moram em uma rua sem asfalto na Estrutural e em outubro contraíram tuberculose. Foram atendidos no posto e devidamente medicados. Como o tratamento precisa ser contínuo, um agente de saúde vai à residência do casal três vezes por dia apenas para checar se João e Hilda tomaram os remédios corretamente. ;Ficou bem melhor agora que o médico vem até a nossa casa. Para mim, é complicado ir ao hospital por conta da minha idade;, conta João.
A preocupação com a medicação do casal não é em vão. Como a doença é facilmente transmitida, o cuidado correto evita a infecção de outros. Além de garantir a eficiência do tratamento, o programa ajudou, nesse caso, a esvaziar o pronto-socorro dos hospitais. ;O movimento na emergência do Hospital do Guará diminuiu nos últimos dois meses, desde que o programa se consolidou na Estrutural;, conta a diretora de Saúde do Guará, Jocilda Albuquerque.
A diretora de Atenção Primária e de Saúde da Família da Secretaria de Saúde, Jacira Abrantes, aposta que o programa terá impactos positivos no sistema público. ;No Saúde da Família, os médicos e enfermeiros se integram à comunidade e conhecem as pessoas pelo nome. A ideia é fazer prevenção de doenças e cuidar de casos mais simples, para que os hospitais fiquem apenas com as situações mais complexas;, explica Jacira.
Mas a diretora conta que ainda existe preconceito com relação aos médicos do Saúde da Família. Jacira lembra, entretanto, que os profissionais estão aptos a lidar com um leque amplo de situações. ;Muitas mães preferem procurar um pediatra no hospital do que consultar um médico da família, que é generalista. Mas isso é um erro. As equipes estão qualificadas para fazer esse atendimento. Se o médico constatar que o caso é mais complexo, ele encaminha o paciente para um Núcleo de Apoio ou para um hospital;, destaca Jacira Abrantes.
Presidente da Associação Brasiliense de Medicina de Família e Comunidade, Tiago Neiva é um entusiasta do programa. Segundo ele, estudos mostram que 75% a 90% dos casos atendidos pelos médicos de família são resolvidos sem a necessidade de se buscar um especialista. ;É uma abordagem revolucionária. O médico de família vê o indivíduo como um todo e não faz apenas atendimentos para sanar problemas. Um projeto de saúde da família bem consolidado tem papel importante na melhora da rede pública;.
O especialista lembra que o programa já foi elogiado internacionalmente e serviu de parâmetro para a Organização Mundial da Saúde. ;Países como a Noruega, a Finlândia, Inglaterra e Portugal investiram muito na medicina de família e tiveram bons resultados. Aqui no DF, precisamos de mais estímulos para atrair bons profissionais para essa carreira, além de capacitação permanente;, afirma.