Os cerca de 300 turistas brasilienses que ainda estavam em Arraial D'Ajuda, na Bahia, começaram o caminho de volta para Brasília por volta do meio-dia deste sábado (03/01). A previsão é de que eles cheguem ao Distrito Federal às 10h deste domingo (04/01). Parte do grupo já havia iniciado o percurso de 1.669km de distância entre a cidade e a capital federal na sexta (02/01) e o restante hoje. No entanto, o efeito negativo que a Impacto Turismo causou no réveillon dos cerca de 400 turistas integrantes da excursão pode se estender por tempo indeterminado.
O chefe da 3ª Delegacia de Polícia (Cruzeiro) ; onde foram registradas 31 ocorrências sobre o caso na última semana ;, Aluizio de Carvalho, aguarda a chegada das vítimas e de Rafael Oliveira, um dos sócios da agência, para novos depoimentos. Marcos Tiago Pereira, 37, também responsável pela Impacto, já prestou depoimento. ;Ouvimos o Marcos, que alegou o recebimento de cheques sem fundo como a causa do problema. Mas a quantia de cheques é muito pequena para justificar tamanho transtorno;, afirmou.
Segundo Aluizio, a Impacto não tem registro no Ministério do Turismo, obrigatório para a prestação de serviço. Acusados por estelionato, Marcos e Rafael podem pegar até oito anos de prisão em caso de condenação pelo crime.
De acordo com a polícia, a Impacto Turismo vendeu pacotes para 430 pessoas, sendo que para 230, deveria entregar também abadás. A vestimenta era o passaporte para todos os shows da virada, mas ninguém recebeu o abadá. Os aborrecimentos não se limitaram a isso. Parte do grupo teria sido ameaçado de despejo por donos das pousadas que acusavam a agência de turismo de não ter pago o valor integral das reservas. E alguns turistas tiveram de pagar de novo pela passagem aérea para voltar para casa.
Dúvidas
Ontem, segundo a Delegacia do Turista, pelo menos dois motoristas de empresas contratadas pela agência ameaçaram só retornar depois de receber o dinheiro devido. A polícia temia também que a suspeita do calote levasse pousadas a reter a bagagem dos hóspedes.
Cerca de 300 pessoas permaneciam em Arraial D;Ajuda. A chefe da Delegacia do Turista local, Tironite Bezerra, responsável pelo registro de pelo menos 200 reclamações contra a Impacto Turismo, afirmou que o risco de elas não voltarem na data prevista era iminente. ;A princípio, as pessoas que pagaram o pacote aéreo voltarão sem problemas;, afirmou. Nos contratos fechados pela Impacto consta o pagamento em duas ou três vezes, a partir de novembro. ;Quem não recebeu a última parcela (prevista para 5 de janeiro) pode protestar;, contou a delegada.
O Correio procurou várias vezes um dos donos da agência, Marcos Tiago Pereira, 37, em dois celulares e no telefone fixo da empresa, mas não obteve resposta. Contratado para gerenciar a negociação entre pousadas e turistas, José Carlos Gonçalves, 30, havia afirmado que o transporte e a hospedagem seriam quitados até hoje. ;O Marcos e a mãe do Rafael (Rafael de Oliveira Carvalho, 23, outro sócio da empresa) estão fazendo os depósitos;, afirmou ele, que trabalha em Porto Seguro (BA).
Preocupação
Além dos turistas, o não-cumprimento do contrato pela agência afetou milhares de pessoas, entre familiares, amigos e prestadores de serviços. A cabelereira Helena de Oliveira, 45, pagou R$ 1,6 mil para a filha Marcela, 19, aproveitar o fim de ano em Arraial D;Ajuda. Ela espera rever a filha hoje. A cabelereira teve de pagar duas vezes o valor de R$ 800 pelos ingressos dos shows da virada, com bandas de axé que fazem sucesso entre o público jovem. ;Estava no contrato, mas levamos o calote da empresa;, lamentou.
O estudante Mayro Molina, 19, passou o ano-novo sem ver os shows que pagou. O pai do rapaz optou por não repassar o dinheiro depois de ser enganado pela Impacto Turismo. ;Ele me pediu, mas não dei para ele aprender a escolher melhor as coisas;, justificou o aposentado César Molina, 52. Ele contou que o filho teve amigos despejados das pousadas pela falta de pagamento. ;Espero não ter problemas na volta.;
O gerente da Catedral Turismo, Giovane Cardoso, responsável por dois ônibus dos oito contratados pela Impacto, afirmou que o pagamento do transporte foi realizado. ;Tivemos problemas com a hospedagem dos motoristas, o que atrasou o embarque. Mas nossos veículos voltam conforme o combinado;, disse. Ele contou que foi preciso pedir escolta para que os motoristas não fossem agredidos: ;Infelizmente, Brasília está com o filme queimado na Bahia pelo descaso de algumas agências.;
entenda o caso
Calote no réveillon
Em 26 de dezembro, cerca de 400 turistas brasilienses embarcaram para Arraial D;Ajuda (BA) para passar o réveillon. Para realizar a viagem, que se estenderia até 3 de janeiro, todos pagaram R$ 1,6 mil por um pacote de serviços da Impacto Turismo, instalada há pelo menos um ano na AOS 8, em um edifício próximo ao Terraço Shopping.
O pacote incluía passagens, traslado, diárias e ingressos dos shows que antecederam a virada do ano. Os problemas, porém, começaram na chegada. Algumas pessoas tiveram de pagar pela balsa e o táxi para chegar ao hotel, outras foram impedidas de entrar no alojamento pela falta de pagamento e houve ainda aquelas que perderam os shows, pois a agência não comprou os ingressos. Até ontem, 200 ocorrências foram registradas na Delegacia do Turista de Arraial D;ajuda e 31 na 3ª DP, em Brasília.