A imprudência nas ruas de Brasília marcou o ano de 2008. O número de multas aplicadas aos condutores do Distrito Federal cresceu 23% no ano passado, em comparação com o registrado em 2007. Os radares eletrônicos, agentes do Detran e policiais militares flagraram 1.527.239 infrações nesse período. Isso representa quase 1,5 multa para cada carro em circulação, ou 4,1 mil irregularidades por dia. Em 2007, foi computado pouco mais de 1,2 milhão de infrações nas pistas do DF.
Excesso de velocidade é o problema mais recorrente. Motoristas apressados foram flagrados mais de 900 mil vezes durante o ano passado, enquanto dirigiam acima do limite da via. Os números preocupam especialistas em trânsito e autoridades da área. Para reduzir a imprudência e as infrações cometidas na capital federal, o Detran promete intensificar as ações de fiscalização e os investimentos em educação de trânsito.
Com o aumento do número de infrações, a arrecadação do governo com o pagamento de multas também subiu. Em 2008, o Detran recebeu cerca de R$ 88 milhões dos condutores infratores. O diretor-geral do órgão, coronel Jair Tedeschi, nega, entretanto, que haja uma indústria de multas na cidade. ;Não há voracidade em arrecadar, como argumentam algumas pessoas. Infelizmente, ainda há muita imprudência nas ruas;, explica Tedeschi. ;Os radares são todos sinalizados, as barreiras são perfeitamente visíveis, assim como o sinal vermelho. É impossível dizer que haja uma indústria de multa;, acrescenta o diretor.
Entre os motoristas que foram multados por excesso de velocidade, a maioria conduzia pouco acima do limite estabelecido para a via. Das 900 mil multas emitidas, 809 mil dirigiam, no máximo, 20% acima do limite de velocidade. Outros 40 mil estavam entre 20% e 50% acima do autorizado pela sinalização. Mas foram registrados 50 mil casos de condutores dirigindo a mais de 50% acima do permitido, um número preocupante.
Para o professor universitário e mestre em Engenharia de Transportes José Leles de Souza, o aumento das multas pela fiscalização eletrônica nos últimos três anos é um sinal de que o equipamento não está surtindo efeito educativo sobre o motorista. ;Talvez as pessoas não estejam se importando em pagar o valor da multa. Elas já assimilaram o custo econômico e preferem pagar o valor da infração a respeitar o limite de velocidade;, avaliou o especialista.
Para José Leles, existem pelo menos dois caminhos possíveis. O primeiro é aumentar ainda mais a quantidade de agentes de trânsito nas ruas. ;Com a fiscalização humana, é possível abordar o motorista e fazer uma orientação mais direcionada;, explicou. O outro caminho é agilizar o processo de lançamento de pontos na Carteira Nacional de Habilitação e da análise de processos de suspensão ou cassação do direito de dirigir. ;Isso gera mais resultados do que a punição econômica pura e simplesmente;, afirmou.
O diretor-geral do Detran garante que os agentes estão nas ruas e que as abordagens são frequentes. ;Em 2008, 756 mil veículos foram abordados em operações do Detran e da Polícia Militar. Desses, 18 mil foram levados para depósito. Nossos agentes estão nas ruas para fiscalizar e, principalmente, para educar os motoristas;, acrescenta o diretor.
Os brasilienses que infringiram a lei seca contribuíram para o aumento do número de multas, mas as infrações relacionadas ao consumo de álcool não estão entre as mais recorrentes. Depois do excesso de velocidade, a irregularidade mais comum é o avanço de sinal vermelho, com pouco mais de 157 mil ocorrências (veja quadro). Entre as 1.527.239 infrações cometidas em 2008, 1.058.543 foram flagradas por equipamentos eletrônicos, como radares e barreiras. As outras 468.696 multas foram emitidas por agentes do Detran e da PM.
Em terceiro lugar no ranking das multas está o estacionamento irregular. O problema é recorrente especialmente na área central de Brasília. Nos setores Comercial, Bancário e de Diversões, é comum ver carros parados em fila dupla e flanelinhas organizando o caos entre as vagas públicas. Em 2008, foram aplicadas quase 118 mil multas a condutores que pararam o carro em locais irregulares. Em qualquer horário do dia, é possível encontrar policiais militares e agentes multando veículos na área central da cidade.
Educação
As campanhas de educação são uma das saídas do Detran para reduzir a imprudência nas ruas da cidade. Dos R$ 88 milhões arrecadados com multas em 2008, cerca de R$ 13 milhões foram investidos em campanhas de educação ou destinados ao Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) para gastos com a mesma finalidade. ;Estamos investindo pesado em educação e fazendo trabalho com crianças e estudantes do ensino médio. Mas é preciso que os motoristas sejam mais responsáveis. Não adianta dar a famosa desculpa de que estava distraído porque foi flagrado por um radar dirigindo acima da velocidade permitida;, ressalta.
Menos mortes durante o feriado
O feriado prolongado de réveillon foi menos violento nas rodovias que cortam o Distrito Federal. O número de acidentes caiu de 25, em 2007, para 23, no ano passado, uma redução de 8%. Queda também nas mortes: este ano duas pessoas perderam a vida, uma a menos que em 2007, segundo a Polícia Rodoviária Federal. Em compensação, a quantidade de feridos subiu 47% em 2008. Foram 25 casos contra 17 no réveillon de 2007. A operação Ano Novo começou à 0h de 30 de dezembro e foi encerrada às 24h de 1º de janeiro deste ano.
As duas mortes registradas nas rodovias que cortam o DF, segundo o inspetor De Lucas Barbosa, do 1º Distrito Regional de Polícia Rodoviária Federal, foram marcadas pela imprudência. Um pedestre foi atropelado debaixo de uma passarela na BR-040, na altura do Jardim Ingá (GO). Já nas proximidades de Luziânia (GO), um condutor perdeu o controle do veículo, saiu da pista e bateu em um objeto fixo. ;Se o pedestre tivesse atravessado na passarela, não teria sido atropelado. E saída de pista geralmente é caracterizada pelo excesso de velocidade ou desobediência à sinalização;, explicou.
Lei seca
A redução das estatísticas é atribuída ao rigor na fiscalização da Lei Federal 11.705/08, a lei seca. De acordo com o inspetor De Lucas, o motorista brasiliense se conscientizou do risco da mistura álcool e direção. ;A atuação do Detran, da Polícia Rodoviária Federal e da Polícia Militar de Brasília, no sentido de garantir o cumprimento da lei seca, com certeza, fez reduzir as tragédias nas nossas rodovias;, assegurou. O balanço do feriado de Natal também foi considerado positivo. Houve queda no número de acidentes (29%), de feridos (47%) e de mortos (20%).
Um balanço do Detran revela que o número de condutores flagrados ao volante alcoolizados ou sob a suspeita de entorpecentes, no ano passado, é uma vez e meia maior que o total dos últimos três anos. Só no ano passado, foram 2.499 flagrantes de motoristas alcoolizados, 148% a mais que em 2007, quando 1.008 condutores acabaram pegos.
Nos seis meses de vigência da lei seca ; entre 19 de junho e 19 de dezembro ; o Detran fez 1.612 flagrantes. Desse total, 733 condutores acabaram na delegacia, autuados pelo crime de dirigir alcoolizados. A média diária é de sete casos. ;Com a lei seca, conseguimos fiscalizar mais. Isso resultou no aumento dos flagrantes, por exemplo, de pessoas sem habilitação, sem o cinto segurança e falando ao celular. No entanto, também houve aumento nos flagrantes de equipamentos eletrônicos, aí é desatenção e imprudência do motorista;, avaliou o chefe da Fiscalização do Detran, Silvain Fonseca.