A rotina de Draco, um cão da raça bullmastiff, é mais movimentada e confortável que a de muitas pessoas. Todos os dias, o animal passa por pelo menos meia hora de exercícios de treinamento para competições, com direito a um personal trainer de cachorros, que cobra por volta de R$ 2 mil todo mês do proprietário do bicho, o veterinário Paulo Chianca, 41 anos. Recentemente, Draco ganhou a medalha de primeiro lugar em um campeonato internacional como o melhor exemplar da raça entre os concorrentes. A premiação valorizou ainda mais o animal, que pode custar até R$ 5 mil.
Além de campeão, Draco é um cão com pedigree, ou seja, possui um registro de animal doméstico indicando todas as suas características físicas e que mostra os ascendentes familiares até a terceira geração. O pedigree é uma espécie de título de nobreza que deixa o cachorro cada vez mais caro. Draco só come ração da melhor qualidade. O alimento custa em torno de R$ 160 por mês. As vacinas mensais saem por mais R$ 80.
Chianca já perdeu as contas de quanto gastou em pet shops para manter o bicho de estimação saudável e bonito. O investimento só não é mais alto porque Chianca pode oferecer por conta própria todos os cuidados médicos necessários ao animal. O cão, apesar do tamanho, por volta de 68cm de altura e 1m de comprimento, é um filhote de um ano de idade. O bullmastiff é um dos cinco cachorros de Chianca, que já chegou a ter 40 cães no quintal de sua casa no Lago Norte.
;Fiquei abalado depois da morte de meus rottweilers e decidi reduzir o número de bichos em casa. Escolhi o Draco porque ele é de uma raça muito calma, silenciosa e boa para conviver com crianças. Ele é 60% mastiff inglês e 40% bulldog inglês, uma mistura pouco conhecida no Brasil. Isso aumenta a raridade dele e o preço no mercado;, explica.
Além de Draco, Chianca mantém ainda a pug Donatela, a lhasa apso Paolla, o chiuaua Boop e o pintcher Kuffs. Boop foi presente da irmã de Chianca para o sobrinho dele, Henrique Chianca, 7 anos. ;Eu estava em uma feira e o Boop era o único da raça dele. Parecia meio deixado de lado, sozinho. Senti pena e o levei para casa;, relembra Henrique. A mãe do garoto desembolsou R$ 1,3 mil para satisfazer o desejo do filho.
Gatos
A moradora da Asa Sul Ingrid Rabelo, 25 anos, também gasta boa parte do seu salário e tempo livre em cuidados com animais. São três gatos persas e outro da raça hangdoll, que custa R$ 2,2 mil. Entre os três da mesma raça, o mais valorizado é o persa exótico Pierre, adquirido por R$ 1,5 mil. Os quatro juntos somam um investimento de R$ 6,1 mil.
Mensalmente, os gatos de Ingrid consomem R$ 130 em ração; cada banho no pet shop custa R$ 19, com direito a corte de unhas, e a tosa sai por R$ 24. Há ainda a areia para os gatos fazerem suas necessidades fisiológicas (R$ 30), que precisa ser trocada uma vez por semana, e as vacinas (R$ 65 por mês, para cada animal). A cama especial, com lençol e travesseiro, custa R$ 130. No total, são, em média, R$ 800 em comida e cuidados de saúde, fora os mimos. ;Além do dinheiro, é preciso ter tempo para escová-los todos os dias, se não o pêlo fica cheio de nós e eles se engasgam durante o famoso banho de gato;, avisa a proprietária.
Animais especiais
O veterinário Paulo Chianca cria ainda uma sagüi chamada Sofia. Os sagüis são macacos silvestres e pequenos. Chianca obteve uma autorização especial do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) para adotar Sofia. Ela chegou a Brasília com as duas garras das patas da frente arrancadas por traficantes de animais e sensibilizou Chianca.
Para ter um filhote como esse em casa, além do investimento financeiro, é preciso ter tempo disponível, espaço adequado e preencher todas as exigências do Ibama. É necessário apresentar uma proposta de adoção por escrito e um projeto do local onde o animal vai morar, no caso de Sofia, uma gaiola adaptada. Ainda é preciso ter condições de oferecer tratamento veterinário ao bicho, regularmente.
;Foi um processo muito complicado e demorado conseguir ser o fiel depositário dela, ou seja, ter a posse temporária. Mas fiquei tocado com a história da Sofia e hoje ela me reconhece praticamente como um ser do grupo dela, sobe em mim, me beija e sente até ciúmes. No mercado, ela seria vendida por até R$ 3 mil;, diz Chianca.
Para vender animais silvestres ou exóticos, como a sagüi Sofia, é preciso que as lojas tenham autorização especial do Ibama. Atualmente, o órgão não tem como precisar quantos criadouros autorizados existem no Distrito Federal. O cadastramento é feito no papel e, na última contagem, que está desatualizada, eram 26 lojas autorizadas a vender bichos como araras, papagaios, entre outras aves raras e animais silvestres e exóticos em geral.
Em um comércio da Asa Sul encontram-se vários tipos de aves raras à venda, com autorização do Ibama. A mais cara entre elas, um lóries bornea, vale R$ 3,5 mil. Já o lories arco-íris vale até R$ 2,9 mil. O vendedor do comércio conta que são vendidos entre quatro e oito exemplares de cada espécie todo mês. ;Mas o que mais vende mesmo é a arara-canindé e o papagaio-verdadeiro, cada um por R$ 2 mil. É bom comprar em loja porque vem sem nenhuma doença, com a identificação da procedência e nota fiscal;, acrescenta.
para saber mais
Alguns exigem autorização
Todos os espécimes de venda permitida têm que ser reproduzidos em cativeiro pelos empresários. Retirar um animal como esses da natureza para venda ou para criar em casa é crime ambiental inafiançável, de acordo com a Lei de Crimes Ambientais nº 9.605/98. O Ibama não legaliza animais adquiridos no mercado negro ou retirados da natureza. Quem pretende iniciar um criadouro de qualquer espécie, com mais de 10 exemplares, deve se cadastrar no
Ibama da região onde vive antes de comprar os bichos.
A Instrução Normativa nº 169/2008 do Ibama prevê mudança na comercialização desses animais. Todos os criadouros têm até dia 31 para se cadastrar no Sisfauna, o novo sistema informatizado para controlar a compra e venda de animais silvestres e exóticos. ;Com isso vai ser possível monitorar todos os criadouros e consultar rapidamente quantos estão em atividade regularmente. A lista de lojas autorizadas, com endereço e telefone, e também restrições a maus criadores, poderão ser consultadas por qualquer pessoa;, explica o analista ambiental do Ibama Carlos Eduardo Luzardo.
Mais informações no Ibama-DF pelo telefone 3316-1212.