Jornal Correio Braziliense

Cidades

ProAnima entra com ação para que animais passem por mais três testes

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Depois da polêmica e dos debates entre o governo, entidades de defesa dos animais e Ministério Público, o sacrifício de cães doentes foi parar na Justiça. A Sociedade Protetora dos Animais (ProAnima) entrou, ontem, com uma ação civil pública contra a Secretaria de Saúde para pedir mudanças na política de combate à leishmaniose. A entidade quer que o governo faça pelo menos três exames diferentes nos cachorros com suspeita da doença antes da eutanásia. O GDF garante que a medida é inviável, já que contraria as normas definidas pelo Ministério da Saúde. Hoje, os proprietários podem levar seus cães para fazer um exame de sangue gratuito na Zoonoses. O método usado é conhecido como imunofluorescência e se baseia na detecção de anticorpos antileishmania. O problema é que cães vacinados contra a leishmaniose podem apresentar um falso positivo quando submetidos a essa sorologia. Por isso, a Secretaria de Saúde não recomenda que os animais sejam vacinados. A diretora-geral da ProAnima, Marina Corbucci, explica que a entidade resolveu questionar a política de combate à doença para evitar que animais saudáveis sejam sacrificados. ;É preciso usar pelo menos três métodos diferentes antes de determinar a eutanásia de um cão. Queremos que isso seja adotado como política pública do governo, já que muitas pessoas não têm recursos para fazer as contraprovas;, justifica. Há pelo menos quatro exames que detectam a leishmaniose em cães. Além da Imunofluorescência, recomendada pelo Ministério da Saúde e usada no DF, há o método Elisa, onde o plasma sanguíneo do animal é analisado. Os veterinários particulares oferecem ainda o exame conhecido como PCR, ou Reação em Cadeia de Polimerase, que detecta o parasita com amplificação do DNA da Leishmania. O último método é o exame parasitológico direto, realizado por meio de punção da medula óssea. Esse exame é o mais preciso: quando dá positivo, não deixa mais dúvidas quanto à doença do animal. Mas a contraprova aos laudos do governo sai caro. Um combinado de dois exames nos laboratórios particulares custa cerca de R$ 150. Métodos de exames O veterinário da Secretaria de Saúde Péricles Massunaga diz que a reivindicação da Sociedade Protetora dos Animais é inviável. ;Isso seria impossível. Nenhum Estado oferece vários métodos de exames. Seguimos à risca as regras do Ministério da Saúde e utilizamos o exame recomendado por eles;, explica o veterinário. Para o promotor de Defesa dos Direitos dos Usuários do Sistema Único de Saúde (Pro-Sus), Jairo Bisol, a Justiça não é a instância ideal para discutir mudanças de políticas públicas. ;A Secretaria de Saúde segue as normas da política nacional de combate à leishmaniose e tem técnicos de alta qualidade. Acho perigoso passar para o Poder Judiciário a incumbência de definir políticas de combate a zoonoses;, destaca. Tira-dúvidas 1 Onde pegar os laudos dos cães que fizeram exame de leishmaniose? Eles serão entregues até amanhã no Centro de Saúde do Lago Norte (QI 3, área especial) e no Centro de Saúde do Varjão (Quadra 5, Conjunto A), das 9h30 às 12h e das 13h às 16h. Quem tiver dúvidas pode ligar para 3343-1268 ou 3344-0784. 2 O que fazer se o resultado do exame do cachorro der positivo? A orientação da Secretaria de Saúde é entregar os cães para o sacrifício. Nos casos em que o animal não tem nenhum sintoma da doença e está clinicamente saudável, os técnicos autorizam os proprietários a fazerem contraprovas por conta própria. Se todos os exames apontarem que o cão está realmente doente, é necessário fazer a eutanásia. Caso o resultado da contraprova dê negativo, basta apresentá-lo à Vigilância Ambiental em um prazo de 30 dias. 3 Cachorros que não foram submetidos aos exames ainda podem fazer os testes de leishmaniose? Até sexta-feira, os técnicos da Vigilância Ambiental ainda vão percorrer as casas do Lago Norte e do Varjão para fazer os exames em domicílio. Basta ligar e solicitar uma visita. Depois desse prazo, é preciso levar o cão diretamente à Zoonoses para fazer o exame ou enviar uma amostra de sangue do animal, acompanhado do pedido de um veterinário, para ter acesso aos testes gratuitamente. 4 A Secretaria de Saúde recolhe os animais à força, caso eles estejam doentes? Se o resultado der positivo e a contraprova reforçar que o animal está doente, não há outra saída legal além de sacrificar o cão. Caso os donos resistam a entregar o bicho doente ou não apresentem a contraprova em 30 dias, serão tomadas medidas judiciais para a busca e apreensão do cachorro contaminado. 5 Como é feita a eutanásia? Os proprietários podem entregar os animais na Zoonoses, que faz a eutanásia com injeção letal, ou recorrer a veterinários particulares, que cobram de R$ 250 a R$ 300 e usam o mesmo método. Quem não quiser levar os bichos até a Zoonoses pode solicitar o recolhimento do cão no próprio domicílio. 6 Existe tratamento para cães doentes? Vários veterinários tratam os cachorros contaminados pela leishmaniose e já há estudos científicos que comprovam a possibilidade de controlar a doença nos animais em alguns casos. Mas o Ministério da Saúde não autoriza e nem recomenda o tratamento dos cães doentes porque os medicamentos usados podem desenvolver resistência nos protozoários. 7 Existe vacina contra a leishmaniose canina? Ela é recomendada? As clínicas veterinárias de Brasília oferecem a vacina Leishmune, fabricada pela empresa Fort Dodge. A recomendação dos veterinários é que os animais tomem três doses, cada uma a um custo de cerca de R$ 80. Os especialistas garantem que a imunização é eficaz, mas o procedimento não é recomendado pela Secretaria de Saúde. O problema da vacina é que, quando o animal imunizado é submetido a um exame sorológico, ele pode ser apontado como infectado pela Leishmania. Isso porque, na sorologia, os anticorpos se confundem com parasitas ativos. As autoridades sanitárias são contra a vacinação para evitar falsos positivos. Também acaba de chegar ao mercado da cidade a vacina Leish-Tec, desenvolvida pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) com a indústria veterinária Hertape Calier. A empresa informa que essa vacina não gera falsos positivos. 8 Quais os sintomas da doença em cães? A leishmaniose causa lesões cutâneas, principalmente descamação e eczema, em particular na região nasal e orelha, que fica com pequenas úlceras. O pêlo fica opaco e o cachorro pode ter coriza, apatia, diarréia, hemorragia intestinal, edema de patas, vômito e crescimento rápido das unhas. Cães infectados podem permanecer sem qualquer sinal clínico por um longo período. 9 Quais os sintomas da doença em humanos? Os sintomas mais freqüentes são febre e aumento do volume do fígado e do baço, emagrecimento, complicações cardíacas e circulatórias, desânimo, prostração, apatia e palidez. Pode haver tosse, diarréia, respiração acelerada, hemorragias e sinais de infecções associadas. Quando não tratada, a doença evolui podendo levar à morte até 90% dos doentes. 10 É possível combater o mosquito para evitar casos da doença em cães e humanos? Sim, com medidas de manejo ambiental é possível reduzir a incidência do flebótomo, mosquito transmissor da leishmaniose. A Vigilância Ambiental recomenda que as pessoas evitem deixar galhos e folhas secas acumulados. Galinheiros e canis devem ser mantidos limpos e os proprietários devem evitar manter materiais orgânicos ao ar livre. Onde não há casos humanos, a Secretaria de Saúde não faz aplicação de inseticida.