Por essa ninguém esperava. A cena inusitada espantou os policiais e o médico que estavam na sala de emergência da Unidade Mista de Saúde de São Sebastião. Um jovem de 26 anos tentou assaltar um supermercado da avenida comercial da cidade na noite do último sábado (15/11). Acabou rendido pelos funcionários e levou uma surra deles antes de a polícia chegar. Levado para a unidade de saúde, o assaltante evitava falar e gesticulava muito. Desconfiados, os policiais pensaram que o rapaz escondia alguma droga na boca. Quando o médico foi examiná-lo, Luiz Carlos Justino Neves pôs para fora, junto com muito sangue, uma nota de R$ 50, duas de R$ 10 e quatro de R$ 20 ; dinheiro, segundo a polícia, que ele conseguiu levar do caixa do supermercado.
As cédulas estavam amassadas e sujas. O soldado Daniel Ribeiro de Sá, que em seis anos como policial militar nunca havia presenciado situação como aquela, pediu emprestadas luvas cirúrgicas do hospital para recolher as notas de um balde. ;Já vi muita gente engolir droga para tentar fugir do flagrante, mas dinheiro foi a primeira vez;, disse o soldado. ;Ele cuspiu os R$ 150 e depois não quis continuar o atendimento médico;, contou um funcionário da unidade de saúde que também viu a cena. Luiz Carlos foi levado para a 30ª Delegacia de Polícia (São Sebastião), onde confessou ter tentado esconder o dinheiro na garganta. Ele, que não tinha antecedentes criminais, está preso na carceragem do Departamento de Polícia Especializada (DPE). Acabou indiciado por roubo. Se condenado, poderá pegar 10 anos de cadeia.
Escuridão
A avenida comercial de São Sebastião estava sem luz no momento do assalto, devido à interrupção no fornecimento de energia elétrica após a forte chuva da noite de sábado. Velas iluminavam os corredores do supermercado, inaugurado há menos de um ano. Cerca de 20 clientes faziam compras. O dono da loja, que pediu para não ser identificado, contou que fecharia os portões em poucos minutos.
Luiz Carlos chegou acompanhado de outro jovem. Cada um pegou uma garrafa de cachaça e se dirigiu aos caixas. O primeiro pagou a mercadoria e ficou aguardando na calçada. Luiz Carlos sacou um revólver de calibre .38 com duas munições intactas e anunciou o assalto. Apontando a arma para os funcionários, exigiu todo o dinheiro dos caixas. Chegou a ter parte do pedido atendido.
A reação veio quando o assaltante abaixou a arma para, de acordo com testemunhas, ajeitar a bermuda. Um dos 10 funcionários que estavam na loja no momento do assalto o agarrou por trás e tentou imobilizá-lo. Mais três homens, inicialmente, entraram na briga. Naquele instante, o jovem que acompanhava Luiz Carlos já havia corrido. ;Não há indícios de que essa segunda pessoa também participaria do crime;, comentou o delegado, Wagmar Roberto Silva, plantonista da 30ª DP.
Cliente assíduo
Segundo o dono do supermercado, que fica a 200m da delegacia, a polícia chegou ao local cerca de 20 minutos após ser acionada. O comerciante relatou ainda que Luiz Carlos, morador de São Sebastião, comprava cachaça com freqüência na loja.