Durante os longos meses de seca o brasiliense passa os dias a rogar por um pouco de vida caindo do céu. A chegada da chuva é comemorada mas, em pontos da cidade, que não contam com a infra-estrutura para recebê-la, a população sofre. Dezenas de famílias em todo o Distrito Federal podem ter de abandonar suas casas por causa do perigo de desabamento. Em Planaltina, duas comunidades que começaram como invasões estão vendo ruas inteiras sumirem com a força da água.
Por incrível que pareça, são as obras de benfeitoria feitas pelo governo que prejudicam moradores de locais como a Estância, na entrada de Planaltina. Lá uma das principais ruas, a que passa pelo Módulo V, está praticamente intransitável por causa da lama e, principalmente, dos enormes buracos que surgiram onde estão sendo colocadas as manilhas da obra de águas pluviais, que antecede a construção do asfalto. A obra começou há quatro meses e, segundo os moradores, seguiu em ritmo lento. "Eles (os operário) vêm, colocam cinco manilhas e vão embora. Não trabalham nem meio período", reclama a vendedora Teresinha Guimarães, 54 anos. "Hoje mesmo, que a situação está crítica, não há ninguém aqui às 11h da manhã", complementa.
Durante o tempo em que a reportagem esteve no local, nenhuma máquina ou operário apareceu para tentar resolver o problema. Os buracos estão abertos a cada 50 metros, numa rua que não tem mais de 800 metros. Cada um tem até cinco metros de diâmetro e profundidade de quase dois metros. Nas margens, que aumentam dia a dia, nenhum tipo de sinalização protege a população de cair. A situação, segundo os moradores, piora à noite, quando a iluminação é parca.
Mais para o final da rua o buraco é tão grande que impede a passagem de carros - só passam pessoas andando e bicicletas. Ao lado do buraco mora a dona de casa Clarissa Araújo, 27 anos, com o marido e os filhos de um e quatro anos. "Agora até que colocaram uma faixa de terra para passarmos, mas teve dia que só consegui sair com meu filho no colo de um dos operários", relata com indignação. "O buraco só cresce, não passa mais carro, caminhão, de lixo, ambulância%u2026 nada", relata observando a cratera para onde também corre um malcheiroso esgoto.
Mais destruição
Em Arapoanga, outra comunidade de Planaltina, há mais infra-estrutura. Quase todas as ruas são asfaltadas e contam com galerias para escoar a água da chuva. "É melhor dizer que tinha infra-estrutura, porque a chuva levou tudo", corrige o pedreiro Sérgio Cavalheiro, 41, em frente à sua casa, na quadra 07, olhando para um caminhão carregado de terra que caiu em uma das crateras, quebrando todas as suspensões. "Todo ano é a mesma coisa. O governo vem, conserta, e várias ruas estouram de novo. Não tenho conhecimento técnico para dizer que o serviço não é bem feito, mas sei que no Sudoeste, no Lago Sul isso não acontece", lamenta.
As manilhas da rua de Sérgio não agüentaram o volume de água das chuvas desta semana e a força da enxurrada rasgou o asfalto. Caminhões e máquinas à serviço do governo passaram o dia tapando os buracos com cascalho, mas tiveram dificuldades técnicas, como a queda do caminhão.
"A Estrutural, Vicente Pires e Areal também estão passando por dificuldades como essa", conta o diretor de Urbanização da Novacap, Celso Machado. "Esse tipo de obra não é rápida, demora mais de um ano e passa pelo período de chuvas. Não temos como evitar que problemas assim acabem acontecendo em alguns casos", admite ainda.
O engenheiro informa ainda que todas as empresas já foram acionadas e estão trabalhando para resolver a situação. Informado de que não havia ninguém na Estância na manhã desta quarta-feira (12/11), ele prometeu fiscalizar o local. "Me penitencio por isso e vamos cobrar da empresa, que será penalizada se não agir rápido, colocando, inclusive, a sinalização de perigo imediatamente nos buracos", promete.