Jornal Correio Braziliense

Cidades

Atletas de ginástica rítmica e acrobática da rede pública colecionam medalhas

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Às vezes, para um sonho virar realidade, precisa pouca coisa. E não é muito o que as meninas da ginástica rítmica do Centro Interescolar de Educação Física (Ceif) da Secretaria de Educação do Distrito Federal estão precisando. De alguém que se entusiasme com suas histórias, vibre com suas vitórias e colabore para que elas possam ir a Goiânia entre 27 e 30 deste mês para participar do Campeonato Brasileiro de Conjuntos de Ginástica Rítmica. A colaboração é simples. Basta um ônibus de 48 lugares para transportar as 18 ginastas, a técnica Odalis Valerino Fernandez, a equipe de apoio do Cief e as mães que vão cuidar das meninas. Tudo o mais é com elas. Para garantir os primeiros lugares, as atletas treinam de três a cinco vezes por semana, durante mais de três horas, no ginásio do Cief. Ao som de uma vibrante melodia, giram graciosas, equilibram-se umas sobre as outras, ondulam, lançam e recuperam longas fitas brancas. E sorriem e se abraçam, felizes, quando as acrobacias saem perfeitas. Enquanto aguardam a promessa do governador José Roberto Arruda de transformar o local em uma vila olímpica, elas treinam sob uma temperatura que já andou perto dos 40º nos piores dias da seca, e dividem o espaço com meninos das turmas de futebol e basquete. Nada disso, no entanto, abala o bom humor das garotas. Sabem que a ginástica pode ser o passaporte para uma vida melhor. Com idades entre 8 e 18 anos, a maioria mora na periferia do Plano Piloto e no Entorno, estuda na rede pública e vive com grandes dificuldades financeiras. Os corpinhos magros exibem força e leveza em exercícios que encantam juízes e arrancam palmas do público. Desde 1999, as ginastas do Cief têm conquistado ouro e prata nos campeonatos brasileiros de ginástica rítmica. Ao todo, já são 15 medalhas. Na competição em Goiânia, elas vão concorrer nas categorias pré-infantil (de 9 e 10 anos), infantil (11 e 12) e adulto (maiores de 16). Kethlen Giovanna Ferreira Cardoso de Assis tem 10 anos. Mora no Riacho Fundo I e estuda na 3ª série da Escola Classe da 405 Norte. Ao lado das companheiras, exibe um sorriso de campeã. Já venceu o medo, superou barreiras e descobriu um novo sentido para a vida. ;A minha família me incentiva;, explica a garota, e completa: ;Aprendi muitas coisas, como fazer abertura, peixinho (um movimento da ginástica rítmica) e a ter flexibilidade;. Assim como Kethlen, as irmãs Kelvia e Kassia, e Isabela, Ana Liz, Alana e Milena também acreditam na chance de ganhar uma medalha de ouro em Goiânia. Elas têm treinado muito para isso. Todos os dias. A vida deixou de ser moleza. De casa para a escola, da escola para o Cief e do Cief para casa. À noite, estudar para as provas, porque também é preciso manter as notas em dia. A diretora do Cief, Maria do Carmo Brandão, lembra, orgulhosa, das ginastas que iniciaram suas carreiras ali no Centro e integraram a Seleção brasileira: Gabriela Crivelaro, Aline Gomes e Vanessa Guedes. Pela primeira vez A turma da ginástica acrobática esteve em São Paulo nos dias 31 de outubro, 1º e 2 de novembro. Voltou de lá com duas medalhas de ouro do Torneio Nacional de Ginástica Acrobática realizado pela Confederação Brasileira da categoria. As campeãs foram as duplas Helen Boquady e Raquel Laterza e Stephane Valerino e Lilian Lima. Receberam nota 10 e ficaram empatadas em primeiro lugar. Mas isso não é nada, comparado com o que muitas delas viveram na viagem a São Paulo, conta a técnica Janete Colognesa. Além de ser a primeira vez que uma equipe de ginástica acrobática do DF participa de uma competição e já volta com duas medalhas, várias meninas passaram por experiências inéditas. ;Teve menina que nunca havia entrado numa pizzaria, que nunca tinha comido um danoninho;, conta a professora. ;No dia de voltar, uma delas me pediu para ficar em São Paulo, porque lá era melhor do que em Brasília;, lembra Janete. A professora explica que a maior recompensa que recebeu foi ver a mudança na vida das meninas. ;Muitas têm um histórico de vida muito triste. Hoje, se sentem orgulhosas delas mesmas. Eu dizia ;vocês são capazes de serem ginastas;, e foi isso que as levou a serem campeãs, muito mais do que os treinos;, afirma a técnica. A apresentação das meninas foi tão marcante que o grupo ; são nove ginastas ; recebeu convite para o Torneio Internacional de Ginástica Acrobática, em julho de 2009, nos Estados Unidos, compondo a seleção brasileira que terá três equipes de São Paulo e apenas mais uma: a do Distrito Federal. Até lá, pitadas de solidariedade serão bem-vindas. As meninas vão precisar. Quem quiser colaborar com o empréstimo do ônibus a Goiânia entre 27 e 30 de novembro, pode ligar para o Cief, nos telefones 3901- 7618 ou 3901- 1540 e falar com a professora Maria do Carmo Brandão, ou com o vice-diretor, Adauto Gouvêa.