Jornal Correio Braziliense

Cidades

Crianças e adolescentes que abandonam a escola estão mais vulneráveis à violência

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Renato atirou em Erika. Fugiu com Lúcio* e, no meio da fuga, entregou a arma para Vinícius*. Erika Matos Alberto morreu. O corpo da menina de 14 anos ficou caído na rua a 150m do Centro de Ensino Fundamental Nossa Senhora de Fátima, onde estudava. Renato de Souza Ramos, 19 anos, foi preso e os dois amigos, por terem menos de 18 anos, apreendidos na Delegacia de Proteção da Criança e do Adolescente. Os personagens dessa tragédia, que chocou Planaltina e o DF, constam do banco de matrículas da rede pública de ensino. Mas, nos últimos dias, os três acusados pela morte de Erika eram vistos mais freqüentemente nos arredores da escola do que na sala de aula. Lúcio*, 12 anos, matriculado na 5ª série do ensino fundamental, tem 320 faltas no diário escolar, o equivalente a 54 dos 143 dias letivos dos três primeiros bimestres deste ano. Vinícius, 15, estudante da 4ª série do ensino fundamental, não foi a 27 dias letivos. Renato, aluno da educação de jovens e adultos (EJA) desde 7 de julho deste ano, estava com o nome na chamada de classe, mas nunca assistiu às aulas. Renato e Lúcio já perderam o ano por faltas e Vinícius está no mesmo caminho. Eles fazem parte de uma alta estatística no DF. Quase 60% dos estudantes da EJA abandonam a escola antes de terminar os estudos. No ensino médio, o percentual chega a 15%. Apesar de alto, os índices estão, de acordo com o secretário de Educação, José Luiz Valente, na média nacional. Em entrevista ao Correio, ele admite que a escola falha em não ser interessante o suficiente para competir com os atrativos das ruas (leia abaixo). A ausência dos três garotos nas salas de aula pode parecer coincidência, mas, para educadores e até mesmo para gestores da rede pública, há relação entre a evasão escolar e a violência. Por relação, entenda-se: muitas crianças e adolescentes deveriam estar no sistema de ensino, mas não têm acompanhamento familiar para que esse direito esteja garantido. Além disso, a escola não consegue atraí-los. Tais fatores deixam os jovens vulneráveis tanto a perigos externos como a se envolver em atos violentos. ;Os alunos que dão trabalho na escola não podem simplesmente ser excluídos porque a educação é uma das principais formas de inserção de crianças e adolescentes na rede de proteção que vai resultar na cidadania desses brasileiros;, observa o professor Aristides Moíses, sociólogo da Associação Brasileira de Psicopedagogia. O problema, segundo ele, é que os colégios não estão preparados para lidar com o agravamento da violência e acabam marginalizando ainda mais os jovens. ;É necessário que a sociedade faça um mutirão para recuperar o papel social das escolas. A participação dos pais é fundamental.; Na realidade, a participação dos pais é uma determinação legal (leia O que diz a lei). O diretor da Regional de Ensino, Adimário Barreto, alega que, em se tratando de Renato, assassino confesso de Erika, havia pouco o que a escola pudesse fazer. ;Por ele ser maior de idade, não podemos chamar família ou Conselho Tutelar para denunciar a ausência na sala de aula. No caso dos dois menores, as medidas foram tomadas;, afirma, referindo-se ao fato de a direção da escola ter chamado a família e os conselheiros. ;Mas não tivemos retorno;, lamenta. Leia mais na edição impressa deste sábado (01/11) do Correio Braziliense