Na tentativa desesperada ; ou preguiçosa ; de achar um canto para deixar o carro, a imaginação dos motoristas parece não ter limites. Este ano, o Departamento de Trânsito detalhou 77 ;jeitinhos; de descumprir a lei. O campeão foi estacionar em local e horário proibido pela sinalização: 13.418 infrações aplicadas. Entre os cinco mais comuns (veja quadro), aparece também estacionar sobre calçadas, faixas de pedestre, ciclovias ou jardins. E a falta de vagas procede: somente no centro de Brasília, levantamento do Detran mostra que o déficit chega a 30 mil pontos.
Nos dois dias em que o Correio percorreu o Plano Piloto, a reportagem flagrou carros e motos sobre a calçada especialmente no estacionamento entre a Praça do Palácio do Buriti e o Tribunal de Justiça do DF e Territórios e perto do Hospital de Base. Na tarde de terça-feira, o técnico em informática Nielsen Nunes de Carvalho, 33 anos, deixou a moto sobre o calçamento na Praça do Buriti.
Abordado pela reportagem, Nunes argumentou que, quando há vagas nos locais regulamentados, não comete a irregularidade. ;Mas tem hora que não há o que fazer. E olha que moto cabe em qualquer lugar;, justificou. Ele cita o Setor Comercial Sul como o pior local de Brasília para estacionar. Depois de ser multado por ter parado em fila dupla, ele agora prefere deixar o carro em casa e ir de motocicleta ao trabalho.
Erro consciente
A poucos metros dali, na via de retorno para o Palácio do Buriti, o estudante de direito Bruno Barcelos, 23, parou em lugar proibido pela sinalização. Constrangido, ele admitiu ter estacionado consciente da irregularidade. ;Não tem outro jeito. É impossível encontrar vaga no estacionamento atrás do Fórum e nem sempre dá tempo de ficar esperando aparecer uma vaga;, reclamou.
Apesar de não justificar a prática irregular, as queixas dos motoristas a respeito da falta de vaga é verdadeira. Se, apenas te no centro de Brasília, 30 mil vagas precisariam ser criadas para equacionar o déficit, nem mesmo se tem idéia de quantas mais seriam necessárias em toda a capital. O número insuficiente de locais para estacionar é motivo de dor de cabeça nas áreas residenciais. O gerente de Fiscalização do Detran, Silvaim Fonseca, cita as quadras 202/402, 306, 110, 409 e 700, na Asa Norte, como críticas. Na Asa Sul, o problema ocorre na 209/210, 205, 202 e 304, por exemplo. No Sudoeste, nas quadras 102/102 e nas proximidades do Terraço Shopping.
O analista de sistemas do Banco Central André Luiz Dias, 43, propõe que o governo transforme as áreas verdes do fundo das quadras em estacionamento. ;Também é preciso investir no sistema de ônibus e metrô para que tenhamos condições de deixar o carro em casa. Mas aí ficaria mais caro;, ponderou.
PUNIÇÕES
O motorista que estaciona ou pára em lugar proibido comete infração leve a grave. Estacionar em vaga de idoso, por exemplo, é considerado infração leve. O condutor é multado em R$ 53 e perde três pontos na carteira. Infração média, como estacionar em local com sinalização de proibido, resulta em multa de R$ 85 e quatro pontos. Parar em fila dupla é infração grave: R$ 127 de multa e cinco pontos na CNH.
Tarifa será aplicada em 30 dias
O governo trabalha em duas frentes para resolver o problema da falta de vagas, especialmente na área central de Brasília. As duas vão mexer no bolso do motorista. Em 30 dias, estacionar o carro nas vagas públicas do Setor Comercial Sul só pagando e por tempo limitado. É o estacionamento rotativo nos moldes do Zona Azul, de São Paulo.
O secretário de Transportes, Alberto Fraga, disse ter entregado na última terça-feira, toda a documentação do projeto ao Detran, a quem caberá implantar o sistema. ;Estamos em fase de credenciamento das empresas. Será escolhida a que cobrar a menor tarifa do usuário;, adiantou Fraga.
Mas o estacionamento rotativo só vai funcionar até que os edifícios-garagens fiquem prontos. Eles são a segunda frente de trabalho do governo. A iniciativa está sob a coordenação da Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan). Amanhã faz um mês que os técnicos avaliam quatro projetos de vagas subterrâneas apresentados por empresas interessadas em explorar o serviço. A intenção do GDF é construir os prédios por meio de Parceria Público Privada. ;Os técnicos devem pedir mais tempo para analisar as propostas que são muito complexas;, afirmou Rogério Rosso, presidente da Codeplan. A previsão é que a licitação das obras seja publicada em janeiro de 2009. (AB)