Jornal Correio Braziliense

Cidades

Em dois dias, moradores de Valparaíso presenciam três homicídios

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Três pessoas foram mortas a tiros em Valparaíso, no Entorno do Distrito Federal, entre a tarde de segunda-feira e a noite de ontem. Um diretor de escola pública, um desempregado e um montador de móveis perderam a vida em situações diferentes: assalto, briga de futebol e um possível acerto de contas. A população da cidade segue alarmada enquanto as autoridades, com muito trabalho e poucos recursos, não conseguem assegurar a segurança pública. Os crimes cometidos por adolescentes são os que mais preocupam os moradores. É o caso dos três acusados de matar o diretor da Escola de Ensino Fundamental Casinha Feliz, no Bairro Pacaembu. Ele foi assassinado na tarde de segunda durante assalto praticado por três meninos enquanto comprava um portão para o colégio, em frente a uma serralheria. Depois disso, duas pessoas foram mortas. O segundo foi o desempregado Marcelo Vieira dos Santos, 22 anos, baleado ainda na segunda, por volta das 21h. Ele tinha discutido com um homem horas antes no Bairro Jardim Céu Azul, durante uma partida de futebol. O desafeto, que não foi identificado, jurou o rapaz de morte e disse que estava indo em casa buscar um revólver. Sem se preocupar, Marcelo foi jogar sinuca com amigos no Skina Bar, na Quadra 122 do mesmo bairro. O atirador chegou pouco depois, fez algumas perguntas à vítima e sacou o revólver .38 que trazia na cintura. Marcelo foi alvejado três vezes e morreu a caminho do Hospital do Gama. O autor está foragido. Também desaparecido está o homem que atirou em um rapaz dentro do Centro de Atenção Integral à Criança e ao Adolescente (Caic) de Valparaíso II, ontem, por volta das 14h. A vítima, identificada por Roberto e pelo apelido de Morgado, estava sentada numa calçada do colégio namorando uma garota de 17 anos. Nenhum dos dois estuda no local, mas a escola, aberta à comunidade, é usada como praça pública. Sem que os dois percebessem, um homem de bigode, usando camiseta amarela, chegou e descarregou uma arma no casal. A vítima, que usava uniforme de montador de móveis das Casas Bahia, estava na frente da menina e levou quatro tiros. A adolescente foi alvejada duas vezes no braço e não corre risco de morte. Ela disse à reportagem que não conhecia o atirador. Para a polícia, o crime pode ter relação com o tráfico de drogas. ;Só no mês de setembro prendemos sete traficantes;, relata Marcelo Mauad, delegado responsável pelo município de Valparaíso, que abriga mais de 100 mil habitantes. Devoto da educação No caso do diretor de colégio, no entanto, não há ; a princípio ; nenhuma rixa envolvida. Adeovaldo Barbosa Espíndola, 30 anos, era o responsável pela escola de Ensino Fundamental de um dos bairros mais pobres e violentos da cidade, o Novo Oriente. Não tinha inimigos. A única luta do evangélico praticante era pela educação. Sempre envolvido com os alunos ;problemáticos;, ele tentava integrar o ensino ao trabalho das crianças no lixão. A realidade era comum a boa parte dos mais de 500 alunos. O diretor deixa dois filhos, uma garota de quatro anos e um menino de seis meses, e uma esposa desolada. ;Só consigo chorar. Não tenho idéia do que fazer agora. Ele era tudo para mim;, lamenta Daniele Espíndola, sem segurar as lágrimas. O corpo do educador deve ser enterrado hoje, às 10h, no cemitério de Valparaíso. Ele foi morto em frente a uma serralheria na Rua 22 do Bairro Novo Oriente. Valdo, como era conhecido, conversava com o dono da empresa quando três adolescentes armados com um .38 anunciaram o assalto. Um deles teria dito ao diretor que corresse. Valdo tropeçou, caiu e levou um tiro no tórax. Morreu antes de receber socorro. O serralheiro, conhecido como Irmão Marcelo, ainda tentou salvar a vida da vítima pulando em cima dos adolescentes. Acabou baleado embaixo do braço esquerdo e preferiu não falar à imprensa por medo de represálias. Dois adolescentes, inclusive o que atirou, fugiram, mas um terceiro, de idade não revelada, foi cercado pela população em uma casa da vizinhança. Quando a PM chegou, o soldado que apreendeu o garoto anunciou à população que seria a quinta vez que o infrator andaria na viatura. ;Já sabemos quem são os outros e vamos pegá-los;, promete o delegado. No Centro Integrado de Operações de Segurança (Ciops) de Valparaíso, as ocorrências de homicídio disputam espaço com vários outros assuntos. ;São dezenas para cada agente. Difícil, para não dizer impossível, resolver a maioria;, afirmou um deles. O caso que mais chamou a atenção da equipe de reportagem foi o encaminhamento de uma criança de 9 anos ao Ciops. O garoto era acusado de roubar uma bicicleta e logo foi reconhecido. ;É o mesmo da semana passada, o que estava arrombando residências com o irmão;, informou um deles. ;Pelo menos uma vez por semana chegam aqui crianças de 9, 10 anos. Na maioria das vezes o crime é assalto com arma de brinquedo;, informa Marcelo Mauad. ;Eu trabalhei muitos anos em Santo Antônio do Descoberto (GO) e vi bandidos serem formados começando assim. É triste, mas é nossa realidade;, desabafa. As vítimas Desde 2005 era diretor de uma escola pública de Ensino Fundamental em um dos bairros mais pobres da cidade. Apaixonado pela profissão, promovia projetos para incentivar a leitura entre as crianças. Foi vítima de latrocínio cometido por adolescentes na segunda-feira à tarde. Marcelo Vieira dos Santos, 22 anos Morto por um desconhecido horas após discussão em jogo de futebol num dos campos do Bairro Jardim Céu Azul. O jovem, cuja família não foi encontrada pela reportagem, jogava sinuca quando foi atacado, no início da noite de segunda-feira. Roberto, conhecido como Morgado, entre 20 e 25 anos. Nenhum parente procurou o jovem após a morte dele, por volta das 14h de ontem, no terreno de uma escola da cidade. Trabalhava como montador de móveis. Levou quatro tiros de um homem de bigode, que vestia camiseta amarela. Principais crimes ocorridos nos últimos dois dias # Três homicídios # Uma tentativa de homicídio # Apreensão de arma de fogo com adolescente # Apreensão de criança de 9 anos acusada de roubo de bicicleta