Um bombeiro exemplar e com ótimas condições físicas. Assim os amigos e colegas de profissão descreviam o sargento Washington Nunes, 34 anos, que morreu devido a uma parada cardiorrespiratória durante treinamento de mergulho no Lago Paranoá na última terça-feira. A corporação abriu inquérito policial militar, com acompanhamento do Ministério Público, para investigar as circunstâncias da morte de Washington e suspendeu o treinamento enquanto as apurações não estiverem concluídas. Denúncias de práticas arriscadas por parte dos instrutores nas atividades físicas circulam entre os bombeiros. O inquérito tem prazo de 45 dias para ser encerrado.
Oficialmente, a corporação não confirma se instrutores estavam na água no momento em que o sargento perdeu os sentidos. ;Alunos, instrutores e toda a equipe serão ouvidos. Vamos aguardar a apuração, que determinará onde estavam cada um dos presentes para descobrir o que ocorreu;, afirmou o chefe da comunicação dos bombeiros, tenente-coronel Maciel Nogueira. Militares foram flagrados fazendo comentários inconvenientes pelo rádio da corporação (veja diálogo).
Além dos quatro alunos do curso de mergulho de resgate, havia sete pessoas no exercício que terminou com a morte de Washington: dois oficiais e cinco praças. Um bote acompanhava os mergulhadores e uma ambulância estava preparada para qualquer emergência nas margens do lago. Os socorristas chegaram a tentar reanimar a vítima, sem sucesso.
O curso de mergulho de resgate dos bombeiros é famoso pelas dificuldades que os alunos enfrentam. Poucos conseguem se formar. Da turma de 17 alunos da qual Washington fazia parte, somente ele e outros três alunos lutavam para chegar ao fim após seis semanas de treinamento. Militares da corporação que conversaram com o Correio sem se identificar contaram que os exageros nos treinos são rotineiros. ;Se fazemos algo de errado, somos punidos fisicamente. Essa punição, quando já estamos no limite da exaustão, pode representar a morte;, relatou um oficial, amigo da vítima, referindo-se ao caldo. Indignado, ele pede que os instrutores respondam criminalmente pelos excessos: ;Só assim teremos mais segurança e dignidade aqui dentro (nos bombeiros);.
No entanto, nem todos concordam com esse ponto de vista. O sargento Alexandre Henrique Pereira da Silva, 36 anos, se formou no curso de mergulho em 1992 e afirma que as dificuldades enfrentadas pelos alunos são necessárias. ;Como mergulhador profissional, tenho que viver situações de risco, como salvamentos em rios com corredeiras ou em cisternas.Tenho que aprender, por exemplo, a me desvencilhar de uma vítima que procure me levar para baixo. O curso nos leva aos limites da resistência. Mas é tudo controlado;, detalhou. A família do sargento ficou chocada. ;Ele sempre foi o primeiro em todos os cursos. Não sabemos o que aconteceu;, disse Pedro Guedes da Silva, 55 anos, primo da vítima. Washington foi enterrado ontem no Cemitério do Gama. Ele deixou uma mulher e dois filhos.
Brincadeira de mau gosto
Comentários feitos ontem flagrados na rede de comunicação do Corpo de Bombeiros do DF, durante parte da manhã e da tarde. Confira trechos:
(Homem fazendo voz de mulher)
; Quem vai ser o próximo a morrer no curso, hein?! A gente sabe o que aconteceu. Ninguém vai lá no cemitério do Gama, não? Não vamos fazer nada?!
(Militar)
; Olha a brincadeira na rede. Vamos parar com isso.
(Homem fazendo voz de mulher)
; Isso aqui não é brincadeira, não. É um protesto mesmo.