Jornal Correio Braziliense

Cidades

Batalhão Escolar registrou, entre 2006 e setembero de 2007, 102 ocorrências de agressão

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Escolas públicas do Distrito Federal deixaram de ser um reduto destinado à evolução educacional dos jovens. Sustentada em estatísticas e em fatos recentes como a ameaçada sofrida pela professora da Escola Classe 8 (EC 8), de Ceilândia, na última sexta-feira, a realidade de muitas instituições de ensino é a violência constante. Desentendimentos entre professores e alunos nos colégios públicos do DF culminaram em 102 ocorrências entre o início de 2006 e 4 de setembro deste ano. Os dados são do Batalhão Escolar da Polícia Militar, responsável pela segurança interna e do perímetro escolar. Os casos de ameaça estão entre os mais comuns: houve 40 no período, 14 deles somente este ano. Mas educadores e estudantes também partem para agressões físicas. Histórias de brigas e lesões corporais alcançam 15 registros (veja quadro). O problema não se resume à violência verbal ou física. O tráfico de drogas transpôs os muros das instituições. O consumo ocorre à luz do dia, em quadras de esporte ou nos banheiros. No primeiro trimestre deste ano, o Batalhão Escolar registrou uma média mensal de 6,5 flagrantes de uso e porte de drogas, 39 no total. As ocorrências no interior da escola e no perímetro escolar (área de 100m em volta do prédio) apareceram empatadas. Houve 17 para cada local. Fora do perímetro, cinco. A escalada de violência dentro das escolas começa de forma aparentemente banal. A aluna de Ceilândia que, por três vezes, apertou o gatilho de uma arma descarregada contra a coordenadora pedagógica da EC 8 tem um longo histórico de indisciplina e desacato a professores e colegas de classe. ;Em todo caso de violência extrema, você analisa o histórico e descobre que começou com fatos pequenos que não foram devidamente resolvidos;, comentou o comandante do Batalhão Escolar, coronel Nelson Garcia. Surra e assassinato Outros dois casos de violência contra professores chocaram o Distrito Federal em 2008. Em 20 de junho, o então diretor do Centro de Ensino Fundamental (CEF) Lago Oeste, Carlos Ramos Mota, 44, foi assassinado com um tiro no peito, no quintal de casa, numa chácara nas proximidades do colégio. Segundo a polícia, os assassinos são um traficante, dois ex-alunos e um estudante da escola. Motivo? O professor combatia o tráfico de drogas dentro da instituição onde estudam 1,2 mil pessoas. Em 29 de maio, Valério Mariano, 40, professor de história do CEF 4, em Ceilândia, acabou espancado em frente ao colégio por um ex-aluno e dois comparsas. O trio só parou depois que o educador estava desmaiado e com o rosto coberto de sangue. Valério apanhou porque flagrou o aluno jogando pedras nos carros dos docentes. A polícia indiciou Laerth Furtado dos Santos, 21, e Leonardo Henrique Alves Pereira, 19, por lesão corporal grave. O assassinato do diretor e o espancamento do professor impulsionaram a criação de uma campanha pela paz nas escolas (leia sobre outros casos no quadro). A Secretaria de Educação anunciou um pacote de medidas de combate à violência. ;Essas medidas já saíram do papel. Estão em andamento. Sobre o caso da última sexta-feira, vamos à escola examinar o que ocorreu e encontrar soluções para a crise;, garantiu o secretário José Luiz Valente. Entre os projetos em andamento, está a elaboração de uma cartilha com lições sobre como lidar com a violência no ambiente escolar, que deverá ser distribuído ainda neste mês. Valente garantiu que todas as ocorrências registradas nas atas das instituições vêm sendo informatizadas e centralizadas em um cadastro da secretaria. Além disso, haverá curso de técnicas de mediação de conflitos para os docentes e serão realizados programas sociais e esportivos dentro das instituições. Não há data para o início desses dois projetos. Ainda ontem, o secretário inaugurou mais um conselho de segurança escolar de Ceilândia. ;No início do ano, havia conselho em apenas 24 escolas do DF. Agora, apenas em Ceilândia, temos 12;, acrescentou Valente. CASOS QUE SE REPETEM 6 de setembro Quatro alunos, entre 15 e 16 anos, de uma turma de aceleração (de 5ª a 8ª séries) da Escola Classe 8, na Vila Buritis I (Planaltina), foram apreendidos com um revólver Taurus calibre .38, com uma bala deflagrada. Dois dos menores contaram à polícia que a arma foi comprada por R$ 450, mas que não pretendiam usá-la. Uma professora suspeitou quando um aluno saiu da sala e voltou com um volume dentro do boné. Por volta das 17h, a partir de uma denúncia anônima, os policiais encontraram o revólver dentro do fichário de uma estudante, escondido na mochila de um dos colegas. 29 de agosto Na Asa Sul, 30 meninos, com pedaços de ferro e paus, estavam prontos para agredir um adolescente em frente ao Centro de Ensino Fundamental 1 (CEF 1), na 106 Sul. A PM chegou a tempo e dispersou o grupo. O alvo seria um aluno do CEF 1 que, dois dias antes, havia tirado satisfação com um estudante do CEF 3 (103 Sul). O motivo: um teria esbarrado na namorada do outro. O desentendimento acabou em briga e o namorado da garota foi espancado com socos e pontapés por três alunos. 18 de agosto Um estudante do Centro de Ensino Fundamental 308, de Santa Maria, que se dizia perseguido por outros alunos, agrediu dois adolescentes com uma tesoura escolar sem ponta durante a aula de educação física. Um ficou ferido na cabeça e no rosto e o outro levou um golpe no pulso esquerdo. Os três envolvidos têm 14 anos. 20 de junho O diretor do CEF 4, no Lago Oeste, Carlos Ramos Mota, 44, foi morto com um tiro no peito, no quintal de sua casa, também na região. O professor combatia o tráfico de drogas na instituição. Dois ex-alunos e um aluno foram presos acusados de cometer o assassinato a mando de um traficante, também preso. 29 de maio O professor de história do CEF 4 Valério Mariano, 41 anos, foi espancado nas proximidades do colégio pelo ex-aluno Laerte Furtado, 21, expulso da escola por indisciplina. 9 de julho de 2007 Uma professora foi arrancada da sala de aula pelos cabelos. A agressora foi a tia de um estudante de 10 anos, da 3ª série da Escola Classe 8, em Taguatinga. A mulher, chamada pela escola depois de o menino ser suspenso por três dias, invadiu o local, puxou a educadora e a espancou do lado de fora. A vítima ficou traumatizada. Pediu licença médica e nunca mais voltou a dar aula.