Jornal Correio Braziliense

Cidades

Cão labrador freqüenta aulas de educação física na Escola Parque 210 Norte

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Minutos antes do recreio, os alunos da Escola Parque 210 Norte passam ansiosos em frente a uma pequena sala do colégio. Olham pela janela, perguntam por Malbec, querem saber se ele chegou, se já pode brincar. Há duas semanas, Malbec freqüenta as aulas de educação física e virou o companheiro preferido das crianças para um jogo de futebol ou corrida no pátio. ;Ele é diferente dos outros colegas, já chega brincando com a gente. Todo mundo adora ele!”, revelou o estudante da 6; série Alisson Nascimento, 12 anos. Malbec é um labrador retriever de três anos especialista em crianças. Conquista todas elas com o lindo pêlo dourado e a disposição para brincar por horas a fio. Mais do que isso, está sempre de bom humor e pronto para dar carinho e atenção a qualquer figura amigável que lhe der um sorriso. O cão passa as manhãs na escola para ajudar na socialização de crianças com distúrbios comportamentais, como hiperatividade e déficit de atenção.

Por volta de 8h, o dono do bicho, o publicitário Marcelo Teixeira, 33 anos, deixa o cachorro na escola e volta para buscá-lo às 12h. Durante quatro horas, Malbec participa das atividades rotineiras com as crianças. Joga bola, corre na quadra, faz companhia aos meninos na hora do lanche e descansa um pouco. Marcelo teve a idéia de emprestar o animal depois de conhecer professores da escola e descobrir a preocupação deles em aproximar os estudantes com necessidades especiais. O labrador veio de Campinas (SP), onde foi treinado para trabalhar no auxílio a crianças. Aos 5 meses de idade, ele começou um treinamento para aprender comandos básicos, como sentar, deitar e ficar junto do dono. Por ser muito tranqüilo, foi convidado a participar como voluntário de um projeto que usa os cães na socialização e tratamento de pacientes. Ele recebeu adestramento específico para a função ; não reage com agressividade a puxões de orelha, rabo, ou outras brincadeiras que crianças pequenas possam fazer. Malbec passou um ano no projeto, visitando três vezes por semana pacientes da Associação de Pais e Amigos Dos Excepcionais (Apae). ;O cachorro tem amor incondicional, independentemente da condição da criança. Para ele, todo mundo é uma companhia ideal;, explicou Marcelo. Em pouco tempo, o cachorro provocou mudanças perceptíveis no comportamento das crianças, de acordo com a professora Lívia Márcia Assis, que fica de olho no pátio enquanto os alunos brincam com o cão. ;Queremos melhorar transtornos de conduta porque temos alguns alunos agressivos, que não permitem o toque. Agora eles estão preocupados em cuidar do Malbec, e não em brigar com o colega;, afirmou. Socialização A Escola Parque recebe alunos de nove colégios da Asa Norte para aulas de educação física, artes e música. Algumas das crianças têm histórias de vida conturbadas, com casos de abandono, abuso e violência em casa, e apresentam dificuldades de socialização e surtos de agressividade. ;Eu quero que eles agarrem o Malbec, criem afinidade, carinho e vejam a responsabilidade que é cuidar de um ser vivo. Isso melhora a auto-estima;, completou a professora Lívia. O estudante da 6; série Gabriel Soares Duarte, 12 anos, é um dos primeiros a procurar Malbec na hora do recreio. Ele passa o intervalo correndo com o cão e busca água quando vê que ele se cansou. ;Eu passeio, levo pra fazer xixi, pego água no bebedouro. Ele sabe sentar e andar junto, mas gosta mais de correr. É mais divertido que gente;, disse o menino. O colega Luan Schreiter, 13 anos, se surpreendeu com a presença do cachorro no pátio da escola, mas se acostumou no primeiro dia. ;Eu tenho cachorro em casa, mas ele não gosta de brincar. O Malbec sabe pegar a bola e não briga;, comentou. Marcelo explica que escolheu a raça labrador porque queria um cão calmo, com quem pudesse caminhar tranqüilo na rua. O nome do animal vem de um tipo de uva usada na fabricação de vinhos ; a inspiração veio da loja de vinhos que o publicitário possuía na época. Malbec leva uma vida agitada: além de entreter os estudantes, ele participa de corridas ao lado de Marcelo e passeia no Lago Paranoá. Iniciativa vinda de fora, Malbec ganhou experiência no trato com crianças depois de participar do projeto Criança e Cão em Ação, que atua em Campinas (SP) desde 2005. Por serem inteligentes e amáveis, os cachorros são escolhidos para ajudar em atividades assistidas por animais. Acompanhados pelos voluntários, os bichos visitam instituições de apoio a pessoas com necessidades especiais, como limitações físicas ou psicológicas, passado de violência ou abandono, etc. A intenção do grupo é promover a socialização e a melhora das condições terapêuticas e emocionais. As atividades assistidas por animais envolvem o bicho em momentos de recreação e integração para o bem estar do paciente ou pessoa atendida. Elas têm origem na zooterapia, técnica criada na Inglaterra, em fins do século 18. Desde 1955, cães e gatos são usados no Brasil para o tratamento de doentes mentais. Acredita-se que a terapia melhora o sistema imunológico, estimula a interação social, ajuda a lidar com o luto, diminui o stress e recupera a auto-estima. Os cachorros escolhidos para integrar o Criança e Cão em Ação são avaliados com rigor, já que eles precisam ter temperamento adequado e boa saúde. Mesmo que o cão seja dócil com o dono, ele deve demonstrar tolerância com pessoas ou bichos estranhos. Os cães voluntários estão sempre com a higiene em dia para as visitas: pêlos escovados, banho tomado e unhas cortadas. Quem quiser conhecer melhor o projeto, pode entrar no site www.ateac.org.br.

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