De longe, o caminhoneiro enxerga a blitz no meio da estrada. O policial rodoviário acena para ele encostar. Mas, ao invés de pedir a carteira de habilitação e os documentos do veículo, o agente faz um convite para o motorista fazer um exame de saúde. A Polícia Rodoviária Federal (PRF) juntamente com o Serviço Social de Transporte e Serviço de Aprendizagem do Transporte (SEST/SENAT) realizaram nesta quarta-feira (17/09) uma ação para checar gratuitamente as condições físicas e mentais dos profissionais do volante em diversos pontos do país. No Distrito Federal, a blitz ocorreu no posto da PRF localizado no km 13 da BR-060. De 9h às 13h foram feitos 115 atendimentos.
A obesidade e o excesso de trabalho continuam sendo os principais inimigos dos motoristas de veículos pesados. Os médicos constataram que 69% dos profissionais do volante que passaram pela blitz nesta quarta apresentavam sobrepeso por falta de atividades físicas e má alimentação. Também ressaltaram que 40% dos pacientes atendidos trabalham acima das oito horas permitidas por lei. Muitos chegam a rodar mais de 16 horas por dia. Outro dado que chamou atenção dos médicos está relacionado com a pressão arterial dos motoristas: 30% estavam com a pressão alta. Além disso, os exames mostraram que 13% dos caminhoneiros apresentam predisposição para dormir no volante. A PRF deve apresentar os resultados nacionais da ação até sexta-feira.
;A maioria desses motoristas não tem tempo para ver um médico e ações como essa terminam como o único meio para que tenham uma noção de como anda a saúde deles. Inclusive, mantemos uma ambulância de prontidão para casos mais graves. Já tivemos que transportar um caminhoneiro para o hospital em uma edição passada porque ele corria risco de sofrer um derrame;, contou o inspetor da PRF Frederico Lima Cesário da Silveira, um dos responsáveis pela ação de ontem na BR-060. Todos os exames realizados ficam gravados em um banco de dados, disponíveis para os pacientes em postos do SEST/SENAT espalhados pelo Brasil.
A operação de ontem foi a 3ª desse ano. A última ocorreu em 30 de junho e, no DF, contou com 70 atendimentos. Outra ação da mesma natureza está prevista para 14 de novembro. Haroldo Willuweit, um dos coordenadores do SEST/SENAT destacou a importância dos caminhoneiros passarem pelos exames de saúde. ;Tratam-se de trabalhadores que, em muitos casos, apresentam sobrepeso, hipertensão e distúrbio do sono. Eles passam várias horas sentados e não estão acostumados a fazer atividades físicas. Tabagismo e consumo de bebidas alcóolicas também são comuns;, avaliou. O coordenador ainda explicou que a ação procura conscientizar os motoristas a cuidarem da saúde de forma preventiva. ;Também pretendemos montar um perfil desses profissionais para uso futuro;, emendou.
Exames
Em um primeiro momento, alguns caminhoneiros, pressionados pelos horários para entrega de carga, resistem ao convite para participarem dos exames de saúde. Mas quem participa costuma aprovar a iniciativa. Como no caso de Valdeir Pereira de Alcântara, 51 anos. Natural de Marília (SP), o motorista está acostumado a fazer longas viagens, de até 12 dias, para diversos pontos do Brasil, como Recife (PE), Salvador (BA) e Belém (PA). E uma opinião médica vêm a calhar para quem não tem como prever onde estará no dia seguinte. ;É a segunda vez que participo. O médico me recomendou não comer muita gordura em maneirar no sal quando me alimentar;, detalhou. O exame mostrou que o motorista estava com pressão alta. ;Isso aconteceu porque dormi pouco à noite. Só três horas;, justificou.
O caminhoneiro Atulfo Luiz da Silva, 25 anos, também participou da ação. Ele mora em Goiânia e viaja diariamente para Brasília. Também costuma viajar para Minas Gerais e Bahia. Raramente dorme fora de casa. ;Nosso serviço é desgastante, cansativo e exige muito de nós. Se não estivermos bem de saúde, pode ser até perigoso;, afirmou. Os exames constataram que Atulfo não apresentava nenhum problema de saúde. ;Acho bom essa oportunidade. No dia a dia, não tenho tempo de fazer testes preventivos como esse;, concluiu.